Jaqueline me recebe com um sorriso.
- Seja bem vinda, Ágata.
Ela me avalia, vendo que hoje estou com um vestido branco estilo anos cinquenta e cheio de cerejas pequenas pintadas à mão.
Estou fazendo cinco meses de divorciada e dois de terapia, e eu tenho que confessar que a minha nova versão é alguém que me apaixona todos os dias.
- Como estão as coisas? As aulas de Pole Dance continuam?
Abro um sorriso quando me sento e cruzo as minhas pernas.
- Continuam sim. Já vejo meu corpo dando sinais de mudança, eu tenho notado as minhas pernas começando a definir, estou mais flexível e mais bem disposta.
Jaqueline anota tudo no tablet.
- A sua mudança externa é perceptível, a nova Ágata surgindo aí é uma coisa incrível, mas e seu interior como está?
Solto o ar com força e mexo no anel solitário que tenho na mão direita.
- Está se curando. Não vou me sentar aqui de frente pra você e dizer que ainda não penso de vez em quando em tudo que me aconteceu, em como eu tenho um buraco dentro de mim ainda por não ser cem por cento realizada, mas está se fechando aos poucos...
Dou uma pausa e ela me espera pacientemente.
- *Eu acho que nunca vou ser alguém cem por cento curada, e posso estar errada aqui, mas tenho a impressão de que ninguém é, então está tudo bem. Só de não pensar mais em s*icidio, estou no lucro*.
Inspiro e expiro me sentindo um pouco mais leve por essa confissão.
- Por que não mencionou isso antes?
Olho pra cima por uns instantes.
- Eu ainda tinha desejo de pôr um fim na minha vida quando comecei aqui, a terapia era só pra não morrer sem ter respostas...
Foco meu olhar nela de novo.
-... Nunca fui uma garota corajosa, não seria uma mulher com tal qualidade. Também pensei bastante em Cristine, ela é a única que demonstra me amar de verdade.
Nem meus pais são tanto...
- Pois eu acho você uma mulher muito corajosa, só de ter se dado uma chance já é prova o suficiente disso. Existe vida depois do divórcio e da tristeza intensa, Ágata, mas isso você está descobrindo.
Concordo com a cabeça, ela tem razão. Meu caminho tem ficado florido, são flores discretas ainda, mas elas estão nascendo pouco a pouco.
*********
- Ágata, sua evolução no mastro sempre me deixa fascinada.
Olho pra Ana quando a aula termina.
- Nem parece que eu comecei outro dia, né?
Nós duas rimos.
- Escuta, Cananda te falou? Vamos tomar um drink hoje, vem com a gente.
- Ah, ela falou sim, mas não sei não.
Cananda aparece fechando a cara pra mim
- Você vai sim, nós vamos só beber alguma coisa, amanhã ainda tem trabalho.
Acabo aceitando e nós vamos até o bar que fica na esquina do estúdio de dança. Acaba que as meninas todas contam um pouco da vidas delas, eu também conto um pouco da minha e a última a falar é Anabeth.
- Bom, eu fui expulsa de casa com dezoito anos depois que meu pai descobriu meu namoro adolescente na época e eu precisava me virar, foi aí que a Le Rouge apareceu na minha vida. Eu comecei a dançar lá, aprendi olhando e comecei a juntar dinheiro. Hoje em dia eu ainda danço na boate aos finais de semana porque a maior parte da minha grana vem de lá, mas eu também gosto do show e dos aplausos.
Meu queixo cai ouvindo isso.
- Você dança em uma boate de strip?
Ela toma um puco do drink rosa antes de me responder.
- Danço sim, e eu adoro! E não é qualquer boate não, tá? É a mais cara de Paris.
Ana pega todas nós de surpresa.
- Eu acho que vocês deviam experimentar pelo menos uma vez na vida. A atenção, o glamour, e tudo o mais, se sentir no foco é otimo pra autoestima.
Cananda segura a minha mão.
- Vamos?!
Faço uma cara de desespero.
- Está louca?! Eu não tenho coragem pra isso.
Ela revira os olhos e faz um bico.
- Deixa de ser careta. É só dançar, só isso, sem tirar a roupa.
Anabeth intervém.
- Eu uso uma máscara, vocês também podem usar.
Nego com a cabeça de um jeito frenético junto com as demais, mas Cananda é louca.
- Eu vou!
*********
Dia de aula de novo. O final de semana já passou e eu saio do expediente depois de me despedir de Marise.
Estou me alongando quando vejo Cananda chegando.
- *Você perdeu! Nossa, nunca me senti tão f*da na vida, ainda saí cheia de dinheiro*.
Dou uma risada dela negando com a cabeça.
- Você é louca! Mas me conta, como é lá?
Cananda se senta alongando do meu lado.
- É chique, só vai homem cheio de grana. Eu achei bem legal, não tem desrespeito e nem nada, eles só nos tocam se a gente permite. As regras do lugar são claras.
Ela me dá alguns detalhes e logo a aula começa, eu ja saí do básico e estou no intermediário. Meu sonho é chegar no nível master, eu quero ser o melhor que puder no mastro. Pela primeira vez eu faço algo por mim.
**********
Vou entrar de férias finalmente.
Marise organizou um café da tarde aqui no escritório e eu ganho vários chocolates.
- Vai fazer alguma coisa no descanso?
Quem me pergunta é Henrique, um cara que trabalha com a folha de ponto.
- Talvez eu visite minha irmã. Ainda estou pensando.
Ou talvez eu viaje pra algum lugar legal e sozinha. Pode ser uma boa, né?
Mari segura a minha mão.
- Estou tão orgulhosa e feliz por você. Tem mudado muito por dentro e por fora.
Dou um abraço apertado nela.
- É difícil, mas ao poucos eu estou construindo uma nova vida. Obrigada por me apoiar.
*******
Cananda está de férias também.
É sexta feira e acabamos de sair de uma aula de Pole.
- Vamos encher a cara?
Olho pra ela.
- Vamos!
- Vou ficar só um pouco com vocês, eu vou dançar hoje na boate.
Anabeth tranca a porta e anda com a gente ate o bar da esquina depois que tomamos banho no estúdio mesmo.
Vários shots de bebida depois, nossa professora diz:
- Se me dão licença, eu preciso ir ganhar dinheiro.
Cananda abre um sorriso.
- Posso ir de novo?
Faço um bico.
- Não, vai me deixar sozinha aqui?
Ela revira os olhos.
- Você vai ir também!
Acabo arrastada pelas duas, mas tenho que confessar que se estivesse sóbria eu não iria de jeito nenhum.
- Que lugar grande.
Chegamos a tal Le Rouge.
É um lugar chique mesmo, cheio de espelhos nas paredes e móveis caros. É tudo muito de bom gosto.
- Anda, vamos descolar umas roupas pra vocês.
Anabeth anda com a gente até o fundo da boate e vemos um camarim cheio de garotas.
Cananda cumprimenta elas animada porque já as conhece.
- *Gente, essa aqui é a Ágata, minha aluna no estúdio também e veio hoje balançar a b*nda no mastro e fazer aqueles tarados abrirem as carteiras*.
As meninas falam um "Oi" juntas e eu as cumprimento sem jeito.
Logo Ana aparece com lingeries novas e embaladas. Cananda vai expor o piercing no umbigo com um conjunto de calcinha e sutiã de couro, eu não vou me arriscar tanto assim, o álcool não me encoraja a tanto. Eu escolho um modelo engana papai de lingerie preta com pontos brilhantes e os recortes deixam ver a minha marca de nascença na costela direita e que imita um coração. Sou a única que puxou isso do papai. A máscara combina, tem uma pena elegante no meio e um elástico pra pender na cabeça.
Uma das garotas me empresta um tamanco de acrílico meia pata, altíssimo.
Um cara aparece mascando um chiclete.
- Qual nome vai usar, gata?
Encolho os ombros.
- Nome?
Ele me olha franzindo a testa.
- É, como quer ser anunciada?
Penso um pouco.
- Fênix!
Ele faz uma careta de apreciação.
- Adorei, gata. Vai pegar fogo no palco e renascer das cinzas.
É, é isso!
Quero renascer, estou mesmo nessa jornada.
De repente eu sou tomada por coragem, vou renascer assim que subir naquele palco.
O cara do chiclete olha pra gente e diz:
- Tem uns três caras cheios de grana lá...
Ele aponta pra Ana.
- Vou dar preferência pra vocês, Dinamite, pagaram duas danças. Vão lá, cabine sete. Hora do show, garotas!
Nós andamos e eu sinto um frio na barriga, paramos em frente a cabine 7 e Ana abre a cortina preta e pesada de veludo. Tem dois caras bem jovens sentados em um sofá também de veludo, meia lua e vinho.O sofá é grande e eles estão bem espaçados, a cabine cabe um palco com três mastros individuais. O terceiro cara é mais velho e eu bato meus olhos nele achando que já o conheço de algum lugar.
💭Não é possivel💭
Não, eu tô delirando, é o álcool todo que eu bebi.
Um dos caras mais jovem dispara:
- Você de cabelo rosa, como chama?
Cananda que está usando uma máscara branca responde:
- Penélope.
Ele abre um sorriso.
- Quero você dançando pra mim.
Ela sobe no mastro do canto bem de frente pra ele.
O outro cara mais jovem pergunta como Ana chama.
- Dinamite.
Ele quer ela.
O primeiro fala com o cara mais velho.
- A loira é sua, Leon.
É ele mesmo!
Eu vou dançar pro meu chefe!
Que loucura! Mas já que eu tô na chuva, vou me molhar.
A voz imponente dele me desperta.
- Como se chama?
Passo a língua pelos meus lábios.
- Fênix.
Ana toca um botão na base do mastro dela e a batida tecno de Closer de Nine Inch Nails preenche a cabine. Eu vejo o senhor Duran me olhando atentamente e desligo a mente, me concentro em me movimentar.
Ele jamais vai saber que sou eu, além do mais nós nunca interagimos no trabalho, eu posso ousar aqui. Dou o meu máximo no mastro e ele abre a carteira tirando três notas de cem euros. Prende as notas entre os dois primeiros dedos e faz um sinal me chamando com elas.
Eu giro no mastro e desço devagar me ajoelhando pra engatinhar até ele.
O grande senhor Leon Duran coloca as notas no meu decote e tenta fazer um carinho no meu colo, eu bato na mão dele de leve e dou um sorriso de canto fazendo um gesto negativo com o indicador direito.
- Quanto pra ter o prazer de te fazer delirar?
Brinco com o nariz dele.
- Por dinheiro nenhum no mundo, não estou a venda. Eu só vim pela dança.
Quando I see Red começa a tocar eu sinto um gás a mais. A música fala sobre vingança por uma traição, é a perfeita pra mim. Eu danço até o final dando o meu melhor e quando a segunda dança pela qual os três pagaram termina, eu saio da cabine me sentindo poderosa e deixando Leon pra trás.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Odete Fernandes
Tô até vendo ele reconhecendo a fênix pelo sinal 😕
2024-04-12
27
Helena Barbosa
Ah,q maravilha, adoro mulher que dá a volta por cima
2024-05-08
0
S.K.
eita Felix (Agatha) deixou o chefinho doido,kkkkkk
2024-04-27
3