20. Daoming

Entendia perfeitamente o que Yu estava tentando fazer. Era a mesma história que eu vivi com Jian. No começo, Jian me jurou amor eterno, mas depois, quando se cansou de mim, procurou qualquer desculpa para se livrar de mim. E agora Yu estava fazendo exatamente a mesma coisa.

Mas eu não ia permitir que a história se repetisse. Não deixaria que Yu me abandonasse tão facilmente como fez Jian. Eu estava determinado a segurá-lo com unhas e dentes. Yu era meu, apenas meu.

Quando vi todos os seus amigos chegarem naquela noite, entendi imediatamente seu patético plano. Ele queria evitar ficar sozinho comigo, fingir distância entre nós na frente dos outros. Mas eu não ficaria de braços cruzados enquanto ele destruía nosso amor.

Fiquei vigilante nas sombras da cozinha, sem tirá-lo de vista. Notei como ele evitava falar de mim com seus amigos, como ria e flertava descaradamente com um deles. O ciúme ferveu em mim, mas me contive. Meu momento chegaria, só precisava ser paciente.

Yu podia fingir indiferença diante dos outros, mas eu conhecia seu verdadeiro eu. Eu vi seu olhar carinhoso em mim em tantas ocasiões, seus lábios ansiosos percorrendo minha pele. Esse amor não poderia ser fingido. Ele me pertencia completamente, não importa o quanto negasse agora na frente dos amigos.

Ele apenas estava assustado com a intensidade do nosso amor. Mas eu me certificaria de lembrá-lo de que estava destinado a ser meu para sempre.

Mais tarde naquela noite, vi Yu se esgueirando para o nosso quarto. Ele se assustou ao me ver ali esperando por ele.

—Oh, só vim pegar meu casaco, sairei de novo com os rapazes... — ele disse, evitando me olhar nos olhos.

—Não se preocupe, eu também sairei esta noite —, respondi com uma falsa naturalidade.

Yu assentiu e saiu rapidamente com seu casaco em mãos. Tenho certeza de que ele pensava que eu viria chorando e implorando para que ele ficasse comigo. Mas não desta vez.

Fiquei alguns minutos no quarto, planejando meus próximos passos. Então também me esgueirei para fora do apartamento sem que ninguém percebesse. Peguei um ônibus até as afueras da cidade.

Decidi fazer uma visita a Chen. Sabia que ele ficaria surpreso em me ver, depois de tê-lo agredido daquela vez. Mas confiava em poder convencê-lo a me dar abrigo por alguns dias.

Toquei a porta e Chen abriu os olhos muito abertos de surpresa.

—Daoming... não esperava te ver de novo depois de... você sabe —.

—Eu sei, não precisa me lembrar desse desagradável incidente —, respondi com um sorriso cativante. —Só preciso da sua ajuda por alguns dias, um lugar para ficar enquanto resolvo alguns assuntos —.

Chen franziu a testa.

—Não acho que seja uma boa ideia, é melhor você ir embora... —.

Rapidamente segurei sua mão com suavidade.

—Vamos, não me diga que não sente falta do nosso tempo juntos. Poderíamos relembrar velhos momentos, passar bons momentos juntos aqui... — sussurrei acariciando sua bochecha.

Vi o debate interno nos olhos de Chen, a luta entre o ressentimento e o desejo que ainda despertava nele. Finalmente ele concordou em me deixar entrar com um suspiro. Sabia que não resistiria ao meu charme por muito tempo.

—Você deve fazer algo por mim se quiser viver na minha casa. Não vou acreditar nas suas palavras de novo —.

O olhar suave que ele tinha quando me beijava ou cuidava de mim havia mudado para algo perigoso e desafiador. Meu coração começou a bater mais rápido, e para evitar uma briga ou algo pior, tentei manter a calma.

—Chen, não tenho certeza do que isso significa —, disse, tentando me afastar dele, mas suas mãos se apertaram mais em minhas coxas.

—Chega de palavras, Daoming, — disse Chen, sua voz vibrante, —você deve saber que sou quem decide aqui e não pode ignorar o que eu peço —.

E foi aí que ele me surpreendeu até os ossos: abaixou suas calças rapidamente.

—Chen, calma —, disse, tentando mostrar inocência novamente, deixar Chen continuar com seu jogo e pensar que ele tinha o controle.

Chen pegou minha mão e a colocou em seu corpo, indicando o que eu tinha que fazer, depois seus lábios foram para o meu pescoço e me deixei levar pelo calor do momento. Só tinha que seguir o jogo, era algo que já tinha feito antes e poderia continuar fazendo.

***

Na manhã seguinte, acordei na cama de Chen depois de ter cedido à paixão e traído meu amor por Yu. Fui invadido pela vergonha, mas também pela raiva. Verifiquei meu celular e não havia uma única mensagem ou chamada de Yu, confirmando meus piores medos. Ele não se importava com o meu desaparecimento, provavelmente nem sequer tinha notado.

Chen me abraçou mais forte, sussurrando palavras de amor. Empurrei o braço dele bruscamente e me levantei da cama, furioso.

Em vez de voltar para Yu, decidi ficar mais alguns dias com Chen. Sugeri fingir que tínhamos um romance apaixonado, na esperança de que os rumores chegassem até Yu e o enchessem de ciúmes.

Chen concordou em ser meu cúmplice com prazer, sempre esteve obcecado por mim. Saímos juntos para vários lugares públicos, abraçados e de mãos dadas, garantindo sermos vistos por conhecidos que poderiam espalhar a notícia. Reservei um quarto com apenas uma cama sempre que saíamos, tudo para agradar ao idiota do Chen.

Durante o dia, eu me certificava de postar selfies com Chen nas minhas redes sociais, escrevendo comentários sugestivos sobre o quanto éramos felizes e o quanto nos amávamos. Sabia que isso despertaria a curiosidade de Yu e o faria morrer de ciúmes ao ver minhas postagens.

Depois de uma semana nesse jogo, finalmente recebi uma mensagem de Yu pedindo para voltar para casa, mas me limitei a não responder, precisava levar isso ao limite para que ele nunca se esquecesse de mim.

Desliguei, deixando-o com a palavra na boca. Meu plano estava funcionando perfeitamente. Em breve, Yu estaria implorando para voltar comigo. Eu era o único que poderia fazê-lo feliz, ele sabia no fundo. Só precisava de um lembretezinho.

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