19. Yu

Ao ouvir minha voz, Daoming acordou lentamente e me olhou com curiosidade.

Ele estava louco, não sabia como aquele rosto poderia manter alguém que gostava de conduzir as coisas do seu jeito. Não sabia o que dizer, nem mesmo como abordá-lo, ele me amava e eu só queria sair do jogo em que havia entrado.

—Você está bem? O que está acontecendo? Quero saber o que você quer dizer —, ele disse enquanto se apoiava na cama. Sabendo que não podia mais evitar, tomei uma respiração profunda e continuei falando.

—Daoming, o que aconteceu ontem não era algo que eu esperava —, disse com dificuldade para controlar minhas emoções. Seu olhar encontrou o meu com um sorriso preocupado e carinhoso, mas sua expressão se transformou em confusão quando expliquei que não era fácil.

Daoming se aproximou rapidamente e segurou minhas mãos. Seu olhar afundou um pouco em pensamentos e lembranças do passado, como se estivesse tentando adivinhar o que poderia ter acontecido entre nós.

—Eu já sei, não se preocupe, Yu —, disse enquanto beijava minhas mãos, —Eu te amo e você nunca me abandonará —.

Naquele momento, vi a obsessão em seus olhos: a necessidade de me ter por perto, para não perder o que já havia construído comigo. Sabia que se não revelasse a verdade, nosso relacionamento poderia chegar a um ponto sem retorno, e Daoming se sentiria traído pelo meu silêncio, então decidi enfrentá-lo.

—Daoming, precisamos falar sobre o que aconteceu ontem, foi algo inesperado —.

Seu olhar ficou um pouco vermelho ao ouvir minhas palavras, mas não respondeu imediatamente. Preocupava-me que sua reação fosse pior do que esperava e que pudesse perder tudo o que tínhamos construído até agora. No entanto, Daoming segurou minha mão e nos olhamos diretamente. Soube naquele momento que as coisas seriam mais complicadas do que eu imaginava.

Os dias passavam e a culpa me consumia por dentro. Queria terminar as coisas com Daoming, mas não encontrava a forma nem a coragem. Ele estava obcecado por mim, não seria fácil. O fato de morarmos juntos complicava ainda mais.

Eu debatia internamente como sair dessa situação. Me ocorreu que talvez se eu apresentasse alguns dos meus amigos solteiros e atraentes, Daoming poderia se encantar por um deles, esquecendo-se de mim. Assim, eu poderia recuperar minha tão desejada liberdade e voltar às aventuras que tanto sentia falta.

Sabia que a ideia era insensata e cruel, mas a desesperação nublava meu julgamento. Daoming merecia alguém que fosse versátil, tão louco quanto ele.

Embora a mera ideia de vê-lo nos braços de outro me enchesse de ciúmes, era o melhor. Não podia mais viver essa farsa, fingindo um amor que já não sentia.

Precisava fazer com que ele me odiasse, que se decepcionasse para sempre comigo. Era a única saída que via para recuperar minha liberdade e parar de nos afundar mais nessa espiral de mentiras e falsas ilusões.

Decidido a levar adiante meu plano insensato, enviei uma mensagem para meus amigos mais próximos convidando-os para uma reunião na minha casa naquela mesma noite. Não avisei nada a Daoming, assim me assegurava de que ele não poderia tentar nada romântico comigo. Precisava mantê-lo afastado pelo menos por uma noite.

Quando meus amigos começaram a chegar, coloquei música e servi as bebidas. Daoming me olhou confuso da cozinha, mas não me importei. Juntei-me à conversa como nos velhos tempos, buscando me desinibir. Meus amigos perceberam imediatamente que algo estranho estava acontecendo.

—Ei Yu, por que Daoming não se junta a nós? Pensei que vocês fossem bons primos —, perguntou um deles, surpreso.

—Ah... Ele é estranho, sabem, somos família, mas temos gostos diferentes, mas mesmo assim, juntem-se à festa amigos —, respondi evasivo, fingindo despreocupação.

—De certa forma, mas você também é, você tem se esquivado o tempo todo para vê-lo correr, por que não o convida para se juntar? Tudo isso está sendo estranho —.

Lancei um olhar para Daoming enquanto ele servia um copo de leite, parecia distante, embora tivesse ouvido a conversa, nem mesmo prestou atenção, continuou deitado em seus pensamentos como se aquelas palavras fossem levadas pelo vento.

Encolhi os ombros diante da reação de Daoming e meus amigos só riram, era algo estranho, mas pensei que era o melhor.

No fundo, uma parte de mim esperava que alguém percebesse o quão tortuosa era minha situação e me fizesse reagir, que me resgatasse do labirinto mental escuro em que estava me perdendo.

Então continuei bebendo e festejando como nos meus dias de solteiro, tentando ignorar o olhar magoado de Daoming do limiar da cozinha. Sabia que o estava machucando, talvez devesse fazer algo mais louco para que ele prestasse atenção e saísse da rotina.

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