10. Yu

Finalmente chegou o dia da reunião familiar no hotel para celebrar o aniversário da minha tia Xing. Ao sair do carro, não pude deixar de admirar como Daoming estava elegante com seu terno.

Normalmente, o via vestindo roupas casuais ao estilo otaku, mas agora ele parecia mais sofisticado e atraente. Senti um desejo que tentei disfarçar rapidamente.

Caminhamos em direção ao grande salão do hotel, onde o restante dos meus tios e primos já estavam reunidos. Daoming seguia alguns passos atrás de mim, claramente desconfortável.

Ao entrar, fomos calorosamente recebidos pelos parentes, especialmente por mim. Cumprimentei com entusiasmo.

Daoming parecia querer escapar, mas o segurei pelo braço para que não fugisse. Não permitiria que fosse excluído de sua própria família.

Levei Daoming para cumprimentar meus pais, que ficaram felizes em vê-lo.

—Meu Deus, como você cresceu!— disse meu pai. —Fico feliz que você e Yu estejam convivendo na universidade, isso fortalecerá os laços familiares. Tive que convencer Seung de que você poderia ficar com Yu, ele ficará feliz que você se junte à família—.

Minha mãe também elogiou a aparência elegante de Daoming. Ele apenas assentia timidamente diante dos elogios.

—Bem, vou entregar o presente da tia Xing antes do jantar— disse, buscando uma desculpa para tirar Daoming daquela situação desconfortável.

Enquanto atravessava o salão, senti olhares curiosos e desconfiados de vários primos e tios. Suas expressões eram uma mistura de curiosidade e desconfiança, como se perguntassem por que Daoming estava ali quando claramente não pertencia.

Tentei apressar o passo em direção à minha tia para escapar desses olhares inquisitivos. Daoming caminhava em silêncio ao meu lado, com o olhar baixo e visivelmente aflito.

Ao chegar à aniversariante, seu rosto se iluminou ao me ver.

—Yu, que alegria você ter vindo!— exclamou, abraçando-me calorosamente. Em seguida, cumprimentou Daoming com cortesia.

Rapidamente entreguei seu presente, desejando poder sair dali o mais rápido possível.

Enquanto ela abria o presente, minha tia Xing observou Daoming atentamente. —Você deve ser o filho de Seung, não é? Que pena que seu pai não pôde vir também, faz anos que não nos vemos—.

Daoming assentiu timidamente, agradecendo por suas palavras. Minha tia soltou uma risada diante de sua atitude envergonhada.

—Não seja tão formal, afinal, somos família. Yu, certifique-se de apresentá-lo ao restante dos nossos parentes. Não queremos que ele se torne distante como seu pai—.

Assenti, embora soubesse que não seria fácil integrá-lo. A atitude dos meus outros tios e primos tinha sido fria desde nossa chegada.

Mas faria o esforço pelo bem de Daoming. Não queria que ele terminasse isolado como seu pai, embora entendesse a desconfortável situação.

Minha tia Xing nos despediu amavelmente para continuar recebendo os convidados. Segurei Daoming pelo braço e comecei a apresentá-lo, ignorando os olhares de desdém.

Ele respondia educadamente a cada saudação, embora sua linguagem corporal denunciasse o quão fora de lugar ele se sentia. Eu permanecia ao seu lado, protegendo-o, recusando-me a deixá-lo enfrentar a hostilidade da própria família sozinho.

Pouco a pouco, o levei para um canto mais afastado, longe dos cochichos. Vê-lo tão vulnerável despertava meus instintos de protegê-lo e cuidar dele. Faria o possível para proporcionar conforto em meio a essa difícil situação.

Após as desconfortáveis apresentações, levei Daoming à mesa onde estavam sentados alguns dos meus primos mais próximos. Pedi que o incluíssem, e todos concordaram amavelmente.

Logo começamos a beber e conversar animadamente. Daoming parecia se soltar aos poucos e timidamente se juntou à conversa. Meus primos abriram espaço e começaram a incluí-lo em suas brincadeiras e cochichos.

Ria timidamente das piadas deles, mas havia uma mudança em sua postura. Estava fazendo um esforço para se encaixar e ser aceito por esses parentes que mal conhecia.

—Ei, Daoming, conte-nos alguma anedota engraçada da sua infância,— disse meu primo Jinbei.

—Sim, certamente você tem alguma história engraçada da fazenda,— acrescentou Shun, dando-lhe um cutucão amigável.

Daoming coçou a cabeça, pensativo. —Bem, lembro-me de uma vez em que todas as galinhas escaparam, e meu pai e eu tivemos que persegui-las por horas para capturá-las novamente—.

—Haha, coitado do Seung, deve ter sido um caos!— riu Donghai.

—Sim, naquela noite comemos sopa de galinha porque elas ficaram exaustas depois dessa maratona,— brincou Daoming. Todos soltaram uma gargalhada.

—Yu também não escapava desse tipo de percalços, lembra quando caiu no lago, primo?— disse Jinbei me cutucando.

—Não me lembre, você cheirava terrivelmente!— respondeu Shun fazendo uma careta. Rimos juntos, inclusive Daoming.

Continuamos compartilhando histórias infantis e zombando uns dos outros, como a grande família unida que deveríamos ser. Ver Daoming assim integrado me enchia de uma felicidade agridoce.

Depois de várias horas de comida, bebida e animada conversa, Daoming terminou completamente bêbado, com a cabeça apoiada na mesa.

—Acho que é melhor levá-lo para descansar no quarto do hotel— disse enquanto o levantava com cuidado.

—Sim, que ele durma a bebedeira— riu Donghai.

Me despedi de todos e levei Daoming até o quarto que tínhamos reservado. Com cuidado, o deitei em uma das camas.

Vê-lo tão vulnerável me fez lembrar da primeira vez que dormimos juntos. Daoming chegou totalmente bêbado e me confundiu com alguém chamado Jian, abraçando-me com força.

Então, simplesmente permiti que me segurasse a noite toda enquanto caía em um sono profundo.

Acariciei o rosto de Daoming, perguntando-me quem era Jian e o que significava para ele. Uma pontada de ciúmes me invadiu, mas rapidamente afastei esses pensamentos. Daoming era meu primo e nada mais, repeti para mim mesmo. Não tinha o direito de sentir ciúmes.

Com um suspiro, levantei-me para voltar à reunião e deixá-lo descansar.

Ao retornar à mesa com meus primos, Donghai comentou: —Deve ser difícil para você conviver com Daoming, não é? Quero dizer, pela situação dele...—

Olhei para ele confuso. —O que você quer dizer?—

Jinbei interveio.

—Vamos, Yu, não finja que não entende. Todos aqui sabemos que na verdade ele não é nosso primo completo—.

Franzi a testa. —Expliquem-se, não entendo o que querem dizer—.

Shun se aproximou e sussurrou:

—Ele é filho adotivo. Nosso tio Seung originalmente era filho do mordomo do nosso avô. Quando os pais dele morreram, por piedade, o amo o adotou. Então, ninguém o considera um verdadeiro tio, e Daoming não é um primo direto—.

Fiquei atordoado com essa revelação. Nunca havia ouvido essa versão da história familiar. Sempre pensei que éramos uma família unida.

—Mas... se meu avô o adotou, isso o torna tio do meu pai e, portanto...—

—Sabemos que legalmente ele tem o sobrenome, mas o sangue diz outra coisa— interrompeu Jinbei. —Só estamos te alertando porque percebemos que Daoming está se apegando a você—.

Não soube o que responder. Estava confuso e furioso por descobrir esse grande segredo. Agora entendia por que Daoming e seu pai eram tratados como párias. Por outro lado, minha mente começou a sussurrar que Daoming estava livre, que não deveria sentir culpa se quisesse se aproximar dele.

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