Capítulo 19

Depois do acontecido, Manu ficou de castigo no quarto, Bruna e dona Inês foram para a cidade e Leonardo passou a manhã inteira andando pela fazenda verificando se estava tudo em ordem, quando terminou seus afazeres retornou a casa sede por volta do meio dia.

Felipe - Tá mais calmo?

O amigo falou da piscina onde estava brincando com a Aninha. Leonardo tirou a capa de chuva e foi até o deck.

Leo - Desculpa por ter falado com você daquela maneira, eu estava muito nervoso, enfim...

Felipe - Tudo bem, relaxa!

Aninha subiu nas costas do pai e Felipe nadou até o meio da piscina e escorou os braços na borda.

Aninha - Tio, Leo?

Ele sorriu amigável.

Leo - Oi, princesa.

Aninha - Você pode liberar a Manu para a gente brincar na piscina?

Leo - Hum... Eu vou pensar no assunto!

Aninha - Promete?

Leo - Sim, prometo que vou pensar no seu caso.

Felipe - Você não acha que foi muito radical? Afinal, ela é a mãe da menina, não tem nada demais sair para um passeio.

Leo - Ela não me pediu.

Felipe - Você teria deixado se ela tivesse pedido?

Pensativo, Leonardo demorou um tempinho para responder.

Leo - Não.

Felipe - Ah... imaginei que não mesmo. (risos)

Leo - E a mãe da Aninha?

Felipe - Tá viajando, a Aninha vai passar as férias comigo.

Leo - E como você está conseguindo conciliar as noites de farra com a paternidade?

O amigo não se aguentou e deu uma gargalhada alta.

Felipe - Não tá acontecendo noitada esses dias, não tenho tempo nem para respirar, não tenho babás como você, meu amigo.

Leo - Só assim para você parar em casa.

Rita - LEO?

A governanta gritou do alpendre.

Rita - O almoço já está na mesa.

Leo - Vou só tomar um banho.

Felipe - Vamos filha, daqui a pouco vamos almoçar.

Aninha - Não, quero ficar na piscina.

Felipe - Nem pensar, vamos sair logo da água.

Nesse momento, dona Inês e Bruna chegam da cidade, estacionam o carro e descem cheias de sacolas.

...

Manu estava deitada abraçada a um urso de pelúcia quando a porta do seu quarto foi aberta e dona Inês entrou segurando uma bandeja, com um prato de comida e um copo de suco.

Inês - Trouxe o seu almoço.

Manu - Estou sem fome.

Inês - Mas vai ter que comer, levanta dessa cama antes que eu vá contar para o seu pai a sua malcriação de não querer comer.

Manu - Tá bom, eu como.

Ela colocou a bandeja em cima da mesinha da penteadeira e puxou a cadeira para a menina sentar.

Inês - Coma tudinho! Enquanto isso, teremos uma conversa, ou melhor, vou lhe contar um segredo.

Manu - Segredo?

A menina retrucou confusa e pegou os talheres para mexer a comida.

Inês - Exato, um segredo!

Manu - Mas se é segredo, porque você vai contar?

A mulher sorriu e passou a mão nos cabelos da Manu.

Inês - Será um segredo compartilhado entre você e eu, querida.

Dona Inês sentou na cama e ficou olhando para a menina enquanto comia.

Inês - Você gosta da sua mãe?

Manu - Sim.

A pequena encheu o garfo de comida e levou a boca. O braço machucado já não era um empecilho, pois Manu aprendeu a segurar a faca para juntar a comida no garfo.

Inês - Você sabia que ela abandonou você quando ainda era um bebê?

Manu - Eu não lembro disso, não é verdade.

Inês - Você não lembra porque era um bebê na época.

Manu - Não, isso não é verdade.

Inês - Onde você acha que ela estava esse tempo todo então? Ela não quis você e foi embora.

A menina parou de comer e ficou olhando fixamente para a comida.

Inês - Você já prestou atenção que o seu pai também não gosta dela?

Manu - Ele não gosta da minha mãe?

Inês - Não! Você está de castigo porque saiu com ela, Manu. A sua mãe nunca gostou de você e agora ela também não gosta. Trocou você para tocar piano em outro país.

Manu - Mas... ela disse que me ama.

Inês - Não é verdade, ela vai embora mais cedo ou mais tarde e vai deixar você outra vez.

Os olhos da pequena se encheram de lágrimas.

Inês - Essa conversa é um segredo nosso, você não pode quebrar as regras do segredo. Se isso acontecer, sua mãe ou o seu pai morre.

Manu - Fica debaixo da terra para sempre?

Indagou inocentemente.

Inês - Isso, fica debaixo da terra para sempre. Bom... agora coma o seu almoço.

A tia passou a mão no travesseiro e pegou o urso de pelúcia.

Inês - Irei levar esse boneco, você está de castigo!

Manu - Não titia, eu durmo com ele.

Inês - Agora não vai mais, para aprender a ser uma menina justa.

Manu - O que é justa?

Inês - É não aceitar as safadezas da sua mãe. Volto daqui a pouco e quando eu voltar quero o prato limpo sem nenhuma verdura ou legumes separados na borda do prato.

A tia pegou o urso de pelúcia pela a orelha e o levou. Manu ficou sem entender nada que a Inês tinha dito da sua mãe, mas ficou muito triste depois disso. Acabou comendo a comida mesmo sem fome e vontade.

...

Todos sentaram em volta da mesa para almoçar, menos Alyna que tinha dormido e ainda não acordou. Dona Rita a chamou umas três vezes até abrir a porta do quarto e constatar que ela continuava dormindo.

Leo - Cadê a Manu?

Inês - Ah... não se preocupe, Leo, eu já levei o almoço dela no quarto, a Manu está ótima, inclusive comeu toda a comida. 

Dona Rita franziu o cenho achando estranho.

Felipe - Tá vendo filha, a Manu comeu a comida todinha, quero ver você.

A Aninha sorriu apenas e pegou uma batatinha frita.

Leo - Depois do almoço você pode ir chamar a Manu para brincar lá fora, Aninha. A chuva parou e o clima tá bem agradável.

Aninha - Oba... Obrigada, tio Leo.

Felipe - Mas só vai brincar se comer tudinho, combinado?

Aninha - Combinado!

Todos sorriram.

Bruna - Você é uma gracinha Aninha, sabia? Aah, eu amo crianças. Quando eu me casar quero ter uns quatros.

Felipe - Eita minha filha, aja arroz e feijão, viu!

Inês - Imagine só seus filhos, Bruna... todos seriam lindos!

Enquanto a conversa fluía, Leonardo nem estava mais ali, apenas seu corpo, era como se estivesse ligado no piloto automático.

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