Capítulo 18

Leonardo, já estava pronto para pegar um carro e seguir para a cidade, quando foi avisado por um dos peões que Alyna estava adentrando suas terras, já nas proximidades da porteira principal. Dava para se escutar o barulho do motor da caminhonete se sobressaindo ao som relaxante da chuva, além dos pneus fazendo um rastro na curva da estrada asfaltada.

Rita - Por favor filho, vá com calma.

Ele não deu ouvidos e pegou o guarda-chuva que estava aberto no canto e correu no meio da chuva em direção ao carro perto dos coqueiros.

A governanta cruzou os braços e ficou aflita observando.

Inês - Ei...

Ela virou para o lado.

Inês - Não se meta nos assuntos da família, você não tem esse direito, é apenas a empregada do Leonardo. Agora entre e vá fazer alguma coisa na cozinha.

Rita - Sim, senhora!

…

Leonardo abriu a porta de trás do carro com tudo.

- Desça!

Manu - Papai, nós compramos um chapéu de...

Ele nem deixou a menina completar.

Leo - Desça agora e vá direto para o seu quarto, me obedeça!

Alyna - Calma Leonardo, não aconteceu nada.

Ela pegou o gatinho e desceu do carro.

Alyna - Seu Chico, pode cuidar dele?

Chico - Claro, menina!

Leonardo ajudou a filha a descer e foi protegendo-a do temporal com o guarda-chuva até o alpendre.

Leo - Vá!

Inês - Obedeça ao seu pai e vá para o seu quarto agora.

Alterou a voz e se levantou pegando o braço da menina e entrando com ela. Alyna viu a cena e acelerou os passos não se importando com a chuva.

Alyna - INÊS, VOCÊ NÃO É NINGUÉM PARA SE INTROMETER NA EDUCAÇÃO DA MINHA FILHA, SUA BRUXA!

Ela gritou tão alto que sua voz fez eco pelo lugar.

Leo - E você é alguém para interferir?

Ela parou a poucos passos do alpendre e ficou olhando-o nos olhos, recebendo toda a água da chuva inundando o seu rosto e corpo.

Alyna - Eu não vou deixar a minha tia fazer com a Manu a mesma coisa que ela fazia comigo quando eu era criança.

Ele não deu nenhuma importância no que ela disse, apenas se aproximou o mais perto possível do rosto dela e descarregou toda a sua raiva.

Leo - Você não é ninguém para dizer quem eu devo colocar para conviver com a minha filha. Nunca mais saia com ela sem me avisar, nunca mais!

Alyna - Vai adiantar eu me explicar?

Leo - Não! Tudo que sai da sua boca é errado! Você foi o pior erro da minha vida, o pior!

Ela engoliu a seco e fechou os olhos deixando as lágrimas caírem, se juntando com a água da chuva. Além do coração acelerar quase que saindo pela boca de tão mal que ficou.

Leo - Mais uma vez você acabou com o meu dia.

Alyna - Eu não deveria ter vindo!

Com o corpo todo trêmulo e os dentes batendo um no outro, Alyna passou por ele para entrar, mas Leonardo a puxou pelo o braço encarando-a nos olhos friamente.

Leo - Não quero que você participe da comemoração que vai acontecer hoje a noite aqui na fazenda, me recuso a ter que olhar para a sua cara no dia do meu aniversário.

Alyna - Me solta Leonardo, você está me machucando.

Ele apertou ainda mais forte. Para tentar se soltar, Alyna o empurrou e saiu correndo entrando no casarão, Leonardo não se deu por satisfeito e foi atrás dela a impedindo de fechar a porta do quarto.

Leo - Abra!

Alyna - Não, eu não quero que você entre.

Leo - Abra essa porta!

Ele empurrou com o braço e Alyna recuou ficando em pé toda encharcada no meio do quarto.

Leo - Vá agora mesmo pedir desculpas a Inês pela sua grosseria.

Alyna - Você pode até me matar, mas eu não peço desculpas para aquela bruxa.

Leo - É essa a educação que você quer dar para a minha filha?

Alyna - Você realmente não conhece a minha tia, se você a conhecesse de verdade não estava falando isso.

Leo - Tudo que você diz de bom eu pego como ruim, se você for para um caminho eu vou no outro.

Alyna - Terminou, Leonardo? Terminou de descarregar a sua raiva em mim? Eu preciso...

Ela fechou os olhos e os abriu novamente.

Alyna - Eu...

Leo - Terminei! Você está avisada, não quero você participando da comemoração que vai acontecer aqui.

Alyna - Não se preocupe, eu não irei.

Ela recua mais um pouco e senta-se na pontinha da cama, apoia as mãos nos joelhos e tenta recuperar a respiração que se encontrava desenfreada, Alyna puxava muito ar com a boca aberta. Leonardo saiu e bateu a porta com força.

Alyna - Ai meu Deus! Me ajuda...

Dona Rita entrou quase que segundos depois que o Leonardo saiu do quarto.

Rita - Menina! O que houve?

Indagou assustada.

Alyna - Nada, eu... eu estou bem.

Rita - Você está se tremendo inteira, vai pegar um resfriado.

A governanta adentrou o banheiro e pegou uma toalha limpa na gaveta do armário, voltou para o quarto e começou a enxugar Alyna que tremia descontroladamente.

Alyna - Eu...eu... vou ficar...bem....

Ela falava entre uma trincada de dente e outra.

Rita - Vamos, tire essa roupa! Você tem que tomar um banho quente.

Alyna subiu os braços e deixou dona Rita tirar a camiseta e o sutiã dela. Porém, a governanta ficou impressionada com a cicatriz que a jovem tinha embaixo do braço e levou as mãos à boca.

Rita - O que é isso, menina?

Por um momento, apenas teve o som da água da chuva batendo no telhado como resposta. Alyna se levantou e tirou a calça jeans e depois entrou no banheiro, ligando o chuveiro para um banho quente. A fumaça da água aquecida tomou parte do quarto, pois a porta ficou entreaberta.

...

Para controlar sua raiva, Leonardo pegou uma garrafa de whisky e colocou um pouco da bebida no copo e tomou todo o conteúdo em um só gole.

Leo - Você vai pagar tudo que me fez passar durante a sua ausência.

Batidas na porta...

Bruna - Posso entrar?

Leo - Entra!

Bruna - Eu não queria te atrapalhar, mas estava vendo a minha mala que eu trouxe e não achei nenhum traje compatível para o churrasco hoje a noite.

Leonardo ficou olhando-a incrédulo, pois não era possível que ela não tenha percebido que ele não estava bem.

Leo - E daí?

Bruna - É que... eu esqueci o meu cartão e... a dona Inês disse que tem uma loja na cidade que vende roupas bonitas.

Ele revirou os olhos, tirou o cartão do bolso e colocou em cima da mesa do escritório.

Bruna - Obrigada, não vou gastar muito. Você quer alguma coisa?

Ele fez negativo com a cabeça e girou a cadeira para ficar olhando a chuva através da janela.

...

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