Saia da frente!

Eu levei aquela garota comigo até o castelo. Por incrível que pareça, ela não acordou até minha chegada até lá. Pensei que por ser noite, poderia chegar silenciosamente sem que ninguém percebesse, mas não foi assim...

— Ruel? — A voz de Ivone me assustou. Foi como se eu estivesse sendo pego em algo que não deveria fazer.

— O que está fazendo no castelo a essa hora, Ivone? — Era estranho, ela sempre estava de dia. Se não soubessem que eu estava fora, iriam ter rumores sobre um possível encontro noturno.

— Eu estava procurando por você, mas soube que tinha saído. Nem me avisou... — Ela encarou para a mulher nos meus braços. — Ruel... quem é essa mulher? — Ela parecia confusa.

— Ela é a minha humana! — Minhas palavras pareciam ter sido um choque para Ivone. Ela não me respondeu, ficou me olhando como se eu estivesse dizendo algo completamente impossível.

— H-Humana? Não, tem como! V-Você não tem a marca! Como sabe que ela é a sua humana? — Ela estava incrédula, Ivone ficou na minha frente para que eu não passasse sem respondê-la.

Ela sabia que se eu entrasse com o palácio com a humana, seria tarde demais, não poderia mais impedir.

— Ela tem a marca, Ivone! — Eu mostrei a dela.

— M-Mas você não tem! Está forjando a marca? — Ela estava em desespero.

Eu não tinha certeza se a dor de antes fosse por causa da marca, mas eu tive que torcer para que realmente fosse.

— Olhe nas minhas costas, eu tenho a mesma marca que a humana! — Eu me virei. Nesse momento, eu estava com medo de que não estivesse em mim.

Ivone estava tremendo, mas ainda sim puxou minhas roupas.

— Não... n-não pode ser! Como é possível? — Ela surtou completamente. — Não vou deixar você levá-la para dentro, entendeu?

— Quem te deu o direito de dizer o que eu posso ou não fazer? — Eu estava irritado, afinal Ivone sabia o quanto isso é importante para mim.

— EU SOU A MULHER QUE VOCÊ AMA! — Ela gritou.

— Ivone, você sempre disse que apoiaria todas as minhas decisões. Está é a minha agora, saia da minha frente! — Eu já tinha tomado a minha decisão. Na verdade, desde o momento em que percebi que a amava, decidi que jamais faria de Ivone minha rainha, e muito menos minha amante.

Nós não éramos destinados, e ela também sabia disso. Nunca estivemos juntos, e isso fez com que eu tivesse a certeza do que escolher.

— EU NÃO VOU SAIR DA SUA FRENTE! — Ela continuou gritando. — Ruel, se você levar essa humana para o castelo, eu prometo que nunca vou permitir que você seja feliz ao lado dela! — Ela estava chorando. Naquele momento, meu coração apertou.

Ver a mulher que eu amo sofrendo, tudo foi tão difícil e complicado, mas era minha missão. Meu dever era com o meu povo, eu cresci sempre pensando em fazer o melhor por eles. O dever de um rei é sempre zelar pelo seu povo, mesmo que isso signifique colocar os seus próprios sentimentos de lado.

— Se é assim que você quer que as coisas sejam... — Eu a tirei do caminho com uma mão, acho que aquele foi o momento em que estávamos criando uma linha que nos separava.

Eu passei por ela com o coração apertado. No meu mais íntimo, eu disse "me desculpe". Ivone é a mulher que eu queria, mas não a que pode estar ao meu lado.

Eu olhei para a humana, ainda desacordada. Tudo iria mudar no momento em que entrasse com ela, agora essa mulher seria minha esposa, a mulher que reinará ao meu lado pelo resto da sua curta vida. Eu me perguntei: "por que nenhum dos antigos reis tornaram as suas esposas imortais?''. Eu também não entenderia, talvez eles não a amassem o suficiente, e minha situação é a mesma. Mas, se ela me pedisse, eu faria com que ela pudesse viver eternamente.

Mesmo que um dia tenhamos que deixar o trono para o nosso futuro filho, eu ainda pensei que essa mulher seria a única na minha vida, mesmo depois de deixar o trono. Minha humana, minha mulher... te amando ou não, vou estar ao seu lado, seja lá qual for sua decisão, a eternidade, a ou a morte.