Eu tenho certeza que vai ser incrível hoje. - Liz comentava radiante sobre a festa que ela e o seu noivo iria hoje. Talvez a felicidade dela transmitia de forma tão intensa para Bia, que por um momento, Beatriz cogitou participar dessa ocasião tão importante para sua amiga.
Ela ainda estava bastante pensativa.
- Eu não sei se devo ir, sabe?
- Mas por que não?
- Sei lá, eu deveria passar mais tempo com a minha família e com...
- Com o seu namorado? - completou
Bia suspirou mordendo de leve a unha do seu dedo polegar. Se nervosismo fosse uma doença, nesse dia ela nem teria levantado da cama.
- Sim. Sinto que Thomas está chateado por ficar o tempo todo sozinho. - ela tinha consciência de que o seu pretendente passava mais tempo sozinho ou com a família dela, do que com a sua própria "namorada".
Liz sorriu como se a solução de todos os problemas fossem acabar na frase seguinte. Quem era Dora Aventureira para apresentar soluções melhores que a dela? ( não essa frase, a próxima)
- Leva ele com você, Beatriz. Ele vai aproveitar para relaxar um pouco e vocês vão poder curtir juntos.
Parecia algo tão simples. Todavia não era tão fácil assim. Mesmo que não houvesse motivos o suficiente para esconder o relacionamento que os dois estavam investindo, parecia que parte de Bia não queria se entregar totalmente nessa jornada. E isso é horrível. Não. Isso é péssimo. É ruim você está investindo em algo e ter medo que dê errado antes mesmo de começar.
E, no fundo, ela sabia que se quisesse Tom, ela teria que abrir mão dos medos bobos que ainda não foram restaurados dela. Beatriz olhou para o vestido de alça lavanda costurada no tecido cetim na sua frente e depois para Liz que com os olhos imploravam para ela aceitar ir nessa festa.
- Vamos, Bia. Vai ser incrível!
Só mais alguns segundos para Bia pensar e ela poderia responder se sim ou não para o convite insistente da sua amiga. Talvez não seria uma ideia tão ruim. Ela por um segundo nem se lembrou que Isaac estaria lá. Mas... Mesmo se tivesse... Dane-se. Ele era ex dela, nada além disso.
Um suspiro alto com um ar de ‘suspense’ inquieta Liz que aguardava a tão esperada resposta de Beatriz, que sorri sem graça e concorda com a cabeça arrancando uma genuína comemoração de Liz.
- Tudo bem, eu vou. Mas saiba que é por você.
- Ah claro. - Liz gargalha - nem Juan me deu uma prova de amor tão grande - zombou.
- Isso é mesmo uma prova que eu gosto de você - ela falou sem nem um pouco de ânimo
- Tenho certeza disso. Qualquer coisa posso substituir o noivo por você.
- Não seria uma má ideia - Bia entrou no clima da brincadeira e logo as duas caíram na risada. - como se diz Dove Cameron, pelo menos as minhas roupas caberiam em você.
A referência da música Boyfriend deixou tudo ainda mais engraçado e Liz não poupou trocadilhos também.
- Humm... eu curto mais os moletons do meu pretinho mesmo.
- Liz... Posso te perguntar uma coisa? - A pergunta soou como se fosse uma curiosidade que Bia tinha há muito tempo
- Claro, pode sim. Sou um livro aberto.
- Por que vai se casar tão rápido?
Liz sorriu e suspirou logo depois se lembrando de cada detalhe do seu noivo e dos momentos que levou ela a tomar essa decisão.
- Juan e eu nos conhecemos a três anos, vivemos muita coisa durante esse tempo. Não foram três meses como todos pensam, foram três anos. - Liz no fundo, se sentia chateada com todos colocando dúvidas no seu relacionamento.
A vendedora aparece com um vestido pendurado no cabide. A vestimenta preta com bastante brilho e justo ao quadril era de arrancar suspiros de qualquer um. Não era longo, mas também não era curto. O seu decote não era nada extravagante, mas deixava o busto bem detalhado na abertura. A etiqueta mostrava um preço nada em conta, mas para Liz isso era apenas um mero detalhe.
Liz olha de canto para Bia com uma cara de criança atentada e assente com os olhos para a vendedora.
- A minha amiga vai querer esse.
Na mesma hora que Beatriz ouviu, parecia que Liz estava a sugerindo que ela fosse enrolada num pedaço de pano.
- Eu não vou usar isso não. - a sua testa franzida deixava ela com a aparência de um senhora conservadora vendo uma vestimenta nada modesta.
Mas não era exatamente isso que o vestido era, o look era bonito e levemente sensual, mas para Bia que não estava acostumada com certeza deixaria ela desconfortável usar uma roupa dessas. Era como colocar calças jeans num cachorro, não ornava nada com ela.
- Vai Bia, só experimenta pelo menos - insistiu de mãos coladas - sem compromisso, só vê como fica
Bia sobre olha o vestido e percebe a vendedora concordar com Liz de forma sútil até mesmo aproximando a roupa dela.
- Acho que ficaria lindo na senhorita - a funcionária comentou.
Se bem que para poder fazer a venda, normalmente vendedores e funcionários sempre puxam o saco do comprador com elogios e comentários sobre 'como cairia bem em um corpo bonito desses'
Não poderia ser uma ideia tão ruim assim. Com os olhos um pouco confusos sobre a escolha da roupa, ela entortou a sobrancelhas tentando pensar melhor se devia mesmo experimentar uma roupa que nunca fez parte do seu estilo.
- Tudo bem, o meu tamanho é 38, pode trazer, por favor.
- Ok, já volto.
- Você vai ficar linda - Liz afirmou assim que a funcionária saiu para buscar o tamanho da moça nada interessada.
A sua expressão de tanto faz estampa no seu rosto e ela vira os seus olhos para ver outros vestidos que haviam na vitrine de vidro por todos os lados. Algo além de ir numa festa ou num casamento deixava uma pontada de agonia e preocupação transparecer.
- O que foi Bia? - Liz notou com facilidade que havia algo acontecendo com a sua amiga. Claro que Bia sempre foi fechada para falar dos seus problemas, mas ela sabia haver algo enchendo a cabeça dela.
Mesmo tentando abrir a boca e falar tá tudo bem amiga, Bia não era a mesma que conseguia mentir com facilidade sem remorso de enganar as pessoas com a sua língua astuta.
- Eu... Eu tô tranquila. Só um pouco tensa.
- Tenho certeza que não é sobre a festa e nem o casamento. Thomas talvez?
Pior que não era sobre nada disso. Talvez se fosse sobre um lugar amontoado de pessoas bem vestidas com cheiro de perfume caro e alguns sorrisos falsos ou sobre um cara extremamente apaixonado por ela as coisas seriam diferentes.
- Bom... Eu descobri hoje que, na verdade, aquele cara, suposto irmão do meu pai... Aquele homem não é da minha família e que ganhei uma tia - ela não parecia nada alegre ao falar, mas também não era uma coisa que a deixava triste. Não era tristeza alguma Bia descobrir que seu abusador não era nada dela. Isso talvez lhe servia como consolo.
Liz não conseguia fingir surpresa. É errado você descobrir algo sobre a vida de uma pessoa primeiro que a própria pessoa? O pior que ela poderia fazer era negar que soubesse e fingir surpresa em saber tal coisa, mas não havia nada que não pudesse ser revelado algum dia e deixasse Bia magoada com ela.
Os seus olhos, medrosos e vagos evitando algum contato visual com ela e a sua angústia como se quisesse falar algo, mas estivesse receio da reação que a sua amiga tivesse não deixava dúvida em Bia de que Liz estava ciente de tudo isso.
- Você sabia disto?
Ela sabia que não podia mentir
- Ah Bia, sim, eu sabia - ela suspirou com peso na sua respiração - os seus pais pediram para eu não falar nada com você, e como tudo isso é uma questão familiar eu obedeci ao pedido deles.
- Mas eu não tinha o direito de saber de nada disso? - questionou indignada
- Eu sei, mas acho que tinha mais haver sobre o seu tio do que a sua nova tia.
- Não fale nunca mais que ele é meu tio! - um rancor guardado fez Bia gritar com a sua amiga, algo que ela não tinha feito nos últimos tempos - Nunca mais, Liz.
Liz, mesmo sendo próxima e amiga de Bia há muito tempo, ainda não sabia que Laian havia importunado Bia sexualmente quando ela era criança. Nisto Liz e Juan eram bem sincronizados, os amigos de ambos havia escondidos segredos importantes durante a amizade, mesmo prometendo serem abertos.
- Calma... Por que está assim?
- Eu estou calma - abaixando o tom de voz, Bia soltou um ar pela boca - Eu não quero mais saber dele.
- Então por que está assim?
- Isso só é bom porque agora eu sei que aquele homem não tem o mesmo sangue da minha família.
- Você ainda tem bastante mágoa pelo que houve com a sua vó? - ela supôs de forma entristecida e sem pensar no pior.
Bia se lembrou que ela ainda não sabia. A jovem deu um passo a frente e segurou na mão de Liz, que a olhou de um jeito confusa e sem entender nada.
- Não Liz, eu, na verdade nunca me importei com o que houve com aquela mulher.
A revelação de Bia deixou Liz tão surpresa que a moça ficou boquiaberta com a informação. Era a mesma coisa que descobri que o sol gira em torno da terra depois de passar anos e anos pensando ao contrário.
Ela arregalou os olhos torcendo os lábios
- Como assim?
- Eu odiava Laian desde antes da minha avó morrer, não sei se você lembra
- Sim. Sim, é verdade - Liz foi puxando na memória todas as vezes que Bia amaldiçoava a vida do seu tio de modo espontâneo e repentino quando as duas estavam juntas.
Isso já piscou um alerta nela que já fazia algumas suposições do motivo de todo esse ódio, mas ela quis ouvir a própria Beatriz contar o porquê.
- Ele sempre foi um cara que fazia tudo que queria e tinha tudo que desejasse. - bufou com os lábios - Aquele homem nunca foi ninguém que eu imaginei fazendo mal a alguém.
Você presenciou um assassinato? Um sequestro? Ele bateu em um animal? Fala Bia! A mente de Liz não queria se preparar e nem estava pronta para ouvir o que poderia vir pela frente. Seria doído demais saber que um abuso estaria na lista de suposições.
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Atualizado até capítulo 24
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