Capítulo 4: Augusto

***Augusto Baker***…

Passei uma semana em Nova York, numa conferência de cardiologia, é uma grande conferência internacional que aborda a importância da saúde cardiovascular e doença em escala global. Essas conferências acontecem a cada dois anos.

Após horas de viagem, finalmente chego na minha cidade amada, Porto Alegre. Meu irmão estava a minha espera, assim que saio do aeroporto nos cumprimentamos com um forte abraço. Voltamos conversando sobre como foi a minha viagem, Teodoro me questiona se conheci alguma mulher, e sou sincero em dizer que nenhuma chamou a minha atenção.

— Por falar em mulher, aquela vagabunda foi atrás de você ontem no hospital! Eu quase expulsei ela de lá, mas ameaçou fazer um escândalo, caso eu não dissesse onde estava!

— O que ela queria?

— O que acha?! Dinheiro, é claro! Já te disse, que devia ter processado essa mulher! Ainda dá tempo!

— Não quero passar por esse estresse e nem que a nossa família passe por isso!… Téo, só você sabe a verdade, conto com a sua discrição

— Se não quer que ninguém saiba, devia falar com aquela mulherzinha, para não te procurar no hospital e querer fazer escândalos!

— Vou falar com ela! A verdade é que não suporto nem olha-lá! Faz tempo que nem a vejo, sempre faço as transferências, e quando conversamos é por telefone!

— A única coisa que acho disso tudo, é que devia ir ver…

— Não consigo! Já pensei nisso, mas não consigo!

Chegamos em casa, logo que entramos sou recebido por minha irmã e meu pai, com um forte abraço.

— Estava morrendo de saudades! — diz Lavínia, minha irmã.

— Só fiquei alguns dias fora!

— Mas pareceu uma eternidade! — diz ela.

Tomamos um café agradável em família, falei um pouco de como foi a conferência, Teodoro falou como estão as coisas no hospital e Lavínia, falou sobre a sua faculdade.

Desde que nossa mãe morreu, nosso pai se dedicou exclusivamente a nós e ao trabalho no hospital. Mesmo dando a diretoria e Teodoro, ainda trabalha no hospital como cirurgião e diretor clínico.

Após o café, meu pai sobe para se arrumar para ir ao hospital.

— Nosso pai já passou da idade de ter uma companheira!

— Lá vem a Lavinia casamenteira! — diz Téo divertido.

— É triste não ter ninguém para dividir a vida, por enquanto ele tem a nós, mas um dia vamos construir a nossa família e ele como fica?

— Papai, ainda ama a nossa mãe e respeita a sua memória! — digo, após dar um gole em meu café.

— O amor deles sempre foi lindo, ele sempre vai guardar em seu coração! Mas, ter outra pessoa, procurar ser feliz não vai desrespeitar a memória dela, o importante é o que guardamos em nossos corações! Mamãe, gostaria de vê-lo feliz!

— O problema, Lá, é encontrar alguém que aceite… você sabe!

Permanecemos conversando, mas sabemos muito bem, que ela vai aprontar algo para o nosso pai.

— Vai para o hospital hoje, mano? — pergunta meu irmão.

— Mais tarde pretendo dar uma passada por lá …, ver como está a minha agenda da semana!

— Bom, vou indo, tenho uma reunião em videochamada! — diz levantando-se.

Nos despedimos e ele vai para o seu trabalho, enquanto eu e Lavínia, nos acomodamos no sofá, ela segura meu braço e pousa sua cabeça em meu ombro.

— Me diz o que se passa nessa cabecinha, mana!

Conheço muito bem Lavinia, sei que ela quer dizer algo.

— Queria que saísse comigo e alguns amigos da faculdade, quero te apresentar uma amiga…

— Nem pensar, sabe que não gosto quando tenta forçar a barra para que eu conheça alguém! Estou bem sozinho…

— Ninguém gosta de estar só!

— Aí é que se engana, eu amo! Estou feliz assim, quando sinto vontade saio com alguém e pronto!

— Guto!

— Lá! Entende uma coisa, eu não quero ninguém na minha vida, estou bem sozinho!

— Mamãe iria querer que tivesse alguém!

— Sim, mas ela com certeza respeitaria a minha decisão de estar só!

— Vai dizer que se aparecer alguém legal, que goste de você, não vai…

— Se um dia aparecer alguém legal, quem sabe, mas por enquanto estou de boa! — digo levantando-me.

Deposito um beijo no alto de sua cabeça e vou para o meu quarto.

Ninguém nunca vai me compreender, a única que me entendia era a minha mãe, mas já não está mais aqui.

Tomo um banho e vou descansar um pouco.

“ Estou num lugar diferente, um campo enorme cercado de muitas flores. Num determinado lugar, vejo meus pais de mãos dadas, eu e meu irmão correndo pelo enorme campo e minha irmã, dando seus primeiros passos. Logo atrás de mim, tem um local carregado de flores, caminho por ele e muitas borboletas sobrevoam por cima das flores. Vejo uma borboleta no meio das flores, está diferente, a vejo desabrochar como borboleta pela primeira vez. Sinto algo diferente em meu coração,”

Acordo com um sentimento diferente em meu peito, foi tudo muito confuso naquele sonho, mas não sei explicar porque não saí dos meus pensamentos.

Olho no relógio e já passou da hora do almoço, acabei dormindo demais, tem uma mensagem de Teodoro, me convocando para uma reunião.

Me arrumo e vou até o hospital.

Pego o meu carro na garagem e sigo para o hospital, logo que entro todas as mulheres me encaram de cima a baixo, algumas olham com desejo, luxúria, outras com pensamentos pecaminosos. Até alguns enfermeiros, não sabem disfarçar o interesse por mim.

Eu e meu irmão, somos pessoas educadas, valorizamos o trabalho de cada um no hospital, mas tudo é limitado, a relação aqui dentro é estritamente profissional. Vou até meu consultório a secretária passa a minha agenda, em seguida, vou para o escritório do meu irmão.

Logo que chego no escritório, a secretária me cumprimenta com um beijo e um abraço, ela era melhor amiga da minha mãe.

— Fico feliz que já tenha voltado de viagem! — diz Lúcia.

— Eu também, amo o meu país e não o troco por nada!… Téo está por aí?

— Está em reunião e está muito irritado, nem mesmo almoçou hoje!

— Então vou aguardar por aqui mesmo, até ele terminar!

Lucia nos traz um café e permanecemos conversando.

Gosto de conversar com ela, por contar tudo o que ela e minha mãe viveram juntas, não me importo de ouvir as histórias, mesmo que repetidas, por parecer que sinto a presença da minha mãe, quando Lúcia conta.

Três colegas de trabalho, que também são cardiologistas, chegam e ficamos ali conversando.


( Gregório, pai dos gêmeos e de Lavínia)


(Lúcia, amiga da família Baker e secretária de confiança).

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