Capítulo 14- Momento para consulta.

Carmem

Hoje eu tenho um compromisso, e esse é para o meu próprio benefício, marquei com a Raquel minha psicanalista. Preciso enfrentar os fantasmas do meu passado, não contar a verdade para a minha família, foi uma decisão totalmente minha. Apesar de que, muitas coisas levaram-me a tomar essa decisão. A principal delas era não querer decepcionar os meus pais, mas havia a vergonha do abuso. As pessoas normalmente não sabem, mas as pessoas que sofrem o abuso sexual, quando passam a ter a compreensão e a extensão do ato, ela sente-se suja, incapacitada de convivência em sociedade e muita vergonha de si mesma.

O abusador geralmente, ele tem a certeza do sigilo da vítima, é algo muito doentio. Há casos em que, uma professora observa o comportamento diferente da pessoa, assim sendo busca ajudar e a escola procura ajuda especializada. Mas há pessoas, como no meu caso, que se trancam, de forma tal que, não tem como as pessoas desconfiarem.

Na maioria das vezes, o abusador consome algum entorpecente, seja álcool ou droga para praticar tal ato, mas creio que tal aberração esteja em sua natureza.

Nota da Autora

COMO FUNCIONA A MENTE DE UM ABUSADOR.

Pesquisa da internet.

Quando um abusador toca numa criança, ele toca de maneira gentil e sutil. Ele nunca toca numa criança de forma que ela sinta dor. E como a criança acaba por sentir prazer, o abusador acaba fazendo que ela se sinta culpada por gostar. Portanto, o abusador atua por meio de dois componentes associados: a culpa e o prazer.

QUEM SÃO OS MAIORES ABUSADORES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

Os maiores abusadores geralmente são pessoas do relacionamento próximo da vítima. A violência pode ocorrer com a penetração, sexo oral, manipulação de genitais, exibicionismo, entre outros. Pode ser recorrente; alterar a formação da personalidade e a sexualidade de quem sofre o abuso.

OS ABUSADORES

A maioria dos abusadores sexuais de menores são pessoas próximas de suas vítimas; cerca de 30% são parentes da criança, na maioria das vezes irmãos, pais, tios ou primos, cerca de 60% são outros conhecidos como "amigos" da família, babás ou vizinhos, e os estranhos são os infratores em cerca de 10% dos casos de abuso sexual infantil.[29] A maioria dos abusos sexuais a crianças é cometido por homens, os estudos mostram que as mulheres cometem 14% a 40% dos crimes relatados contra meninos e 6% dos crimes relatados contra meninas.[29][94][97] Algumas fontes indicam que a maioria dos infratores que abusam sexualmente de crianças pré-púberes são pedófilos,[98] mas alguns infratores não correspondem às normas de diagnóstico clínico de pedofilia.[99][100]

Dentro dos abusos familiares, Jean Renvoize tenta dar números mais exatos: 29% dos agressores eram o pai biológico da criança, 16% o padrasto, 9% um tio, 8% o companheiro, 7% um irmão, 6,7 % o avô da vítima, 2% o namorado da mãe, 1,7 % um meio-irmão e 0,7% um primo do sexo masculino. Por fim, fora da família, 4,7% por cento dos agressores eram babysitters, 1,7 % eram vizinhos e 1,7% eram amigos da família. [101]

Carmem

Chegando no consultório, sou atendida pela secretária da Raquel que, pede para aguardar por um momento.

Logo vejo-a atender ao telefone, era chamada interna e ela indica que já posso entrar.

Raquel Boa tarde Carmem! Como vai você?

Carmem Boa tarde Raquel, estou bem e você?

Raquel Estou bem, acomode-se, podemos começar? O que trouxe você aqui hoje, algo acontecendo?

Carmem Sim. Eu conheci uma pessoa, que parece estar interessado em mim e que de certa forma despertou o meu interesse. Porém, junto vieram de volta os pesadelos, toda a dor e aquele tormento.

Sinto-me culpada, por trocar a minha inocência por biscoitos e doces, e aquelas sensações que não eram más, até eu descobrir... O que estava a acontecer…

Com a mesma força que, eu sinto culpa eu sinto raiva, por ninguém ter descobrido. Afinal eu era uma criança e as vezes aconteceu no meio do dia, ninguém foi procurar por mim ou saber o que estava a fazer.

Raquel Já foi visitar a sua família, depois que veio para Barcelona?

Carmem Não, eu continuei com eles até completarem os meus dezoito anos, enquanto fazia o ensino médio eu trabalhei e guardei o dinheiro, cada centavo, cada euro. Eu tinha uma meta, não ia ser mais tão pobre, iria estudar e ser alguém, ninguém mais chegaria perto do meu corpo, em troca de um agrado qualquer.

Raquel Você tem raiva de seus pais então?

Carmem Venho de uma família pobre e cheia de filhos, eu sou a sétima e após mim, tem mais três. Eu tenho raiva da situação, nós morando com a nossa mãe por um mês ou mais, as vezes não havia carne eram apenas arroz e feijão, ovos do galinheiro e verdura da horta. Sem nem sequer comermos carne, precisávamos das galinhas devido aos ovos. Vestindo roupas surradas e calçados até furarem o solado.

Raquel Quanto às lembranças, de que forma elas têm vindo? Com que frequência?

Carmem Bem, a primeira veio no sonho, porém de uma forma muito real, foi depois do meu plantão no hospital. Foi no dia em que eu atendi o Miguel, eu apaixonei-me perdidamente por ele. Mas o gatilho foi o pai dele, um homem muito bonito, que despertou a mulher que, estava trancada dentro de mim. Nesse dia o pesadelo foi tão real que, eu acordei a chorar atormentada, eu senti de novo o toque daquelas mãos e o som daquela voz, em meio à tempestade que caía naquela noite e que também se abateu sobre mim.

O outro foi essa semana, saímos para comer piza e conversar entre amigos, o Alejandro foi levar-me para casa, já que eu não fui de carro, pretendia beber um pouco e sou contra bebida e direção. Foi tudo muito tranquilo, conversamos bastante na pizzaria, porém no carro o silêncio era palpável. Ao chegarmos, fomos nos despedir com um abraço e um beijo no rosto, contudo os nossos lábios encontraram-se num beijo. Eu que nunca havia sido beijada antes, deixei-me levar pelo beijo, o meu corpo respondia, àquele beijo de uma forma maravilhosa. Foi quando, ele de repente começou a brincar, com a sua mão entre as minhas coxas...eu senti um desespero enorme e fugi do carro, sem olhar para trás.

Quando entrei, fui direto para o chuveiro e deixei a água lavar o meu corpo e as lágrimas que caíam. Coloquei-me a perguntar, o porquê dela querer-me de volta no final de semana, se não soube cuidar de mim, sequer conseguiu perceber que a minha inocência estava a ser roubada. Então deitei e dormi, o pesadelo veio... Se é que posso chamar pesadelo, eram lembranças que, marcaram a minha vida para sempre. O toque das mãos, ele retirando a minha calcinha, o seu membro entre as minhas pernas de criança e o seu ruivo quando ele se satisfez... Eu era apenas uma criança e ele já era um homem, tão grande era nossa diferença de idade, meu próprio irmão...

Carmem

Caio em choro convulsivo, Raquel apenas me estende os lenços de papel, deixando que, através do pranto saia pelo menos um pouco da dor que, eu carrego anos dentro de mim...

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