Capítulo 1

"O passado pode doer, mas da maneira que eu vejo, você pode fugir dele ou aprender com ele."

O Rei Leão

Maria da Silva

5 anos depois

Já se passaram cinco anos, e não posso esconder que ainda penso no mascarado é involuntário sempre que olho para minha filha e penso nele. Abandonei meus planos de formatura na França e voltei ao Brasil quando minha avó faleceu antes do nascimento da minha filha. Eu estava com medo de perder meu avô também, e minhas irmãs precisavam de mim, então deixei para trás meu sonho de ser estilista para assumir o negócio da família.

Hoje foi um daqueles dias exaustivos na padaria, onde entro muito cedo. Finalmente, consegui fechar a loja e voltar para casa, mas ao entrar, encontrei todos reunidos à mesa de jantar com Dona Vera, nossa vizinha e madrinha da nossa falecida mãe, uma amiga de longa data da família que é cartomante. Ela estava fazendo previsões sobre o futuro, e eu estava esgotada pelo agitado dia na padaria. Além disso, meu avô não estava bem de saúde, então eu sabia que precisaria cuidar de tudo.

Apesar do cansaço, a curiosidade me fez ficar na porta ouvindo o que Dona Vera tinha a dizer.

— O que a senhora vê, Comadre? — meu avô, sempre fascinado pelo futuro, perguntou.

— Vocês não vão acreditar, mas nunca vi algo assim antes — Dona Vera respondeu, deixando todos nós atônitos. Eu me apoiei no batente da porta para ouvir melhor.

— Como assim, Comadre? — meu avô quis saber.

— Vejo três cataclismos que vão mudar as suas vidas — Dona Vera disse, aumentando ainda mais o espanto de todos na sala. Foi neste momento que entrei fazendo a minha filha pular da cadeira.

— Cataclismos? O que isso significa? — perguntei, me aproximando da minha pequena que pediu para ir para o meu colo.

— Cataclismos são eventos raros que causam mudanças significativas na vida das pessoas, como reviravoltas do destino...

— Mas esses cataclismos serão bons ou ruins? — meu avô quis saber, mantendo seu interesse nas previsões que Dona Vera fazia, mesmo ela não as considerando sorte ou azar, mas sim dois lados da sorte.

— Isso eu não posso ver, mas o importante é que todos estejam com os olhos bem abertos — Dona Vera concluiu. Belinha gesticulava animadamente no meu colo, e eu a beijei na bochecha, sorrindo.

— Tenho certeza de que o primeiro cataclismo acontecerá amanhã — Jack, minha outra irmã, disse animada ao se levantar e começar a dançar pela sala. — No evento em que vou trabalhar, haverá muitos homens ricos e milionários, e um deles será meu futuro marido! — ela exclamou, pulando no sofá.

— Jack, desce daí! — repreendi, não querendo que ela alimentasse esses devaneios na frente de Belinha. Eu desejava que ela se concentrasse em estudar e construir uma carreira sólida, em vez de sonhar com um príncipe encantado que aparecesse com um sapatinho de cristal.

— Escute sua irmã, Jack. O dinheiro deve ser conquistado com esforço e trabalho duro. Você não terá minha ajuda para sempre, e sua irmã tem sua própria vida para levar — meu avô acrescentou, e eu assenti, concordando com ele. Jack precisava amadurecer e compreender a realidade da vida.

— Mamãezinha, a senhora pode fazer sopa para o jantar? — Belinha pediu com seu jeitinho fofo e me encheu de beijos. Ela tinha o dom de me derreter com seu carinho.

— Claro que faço, meu amor. Mas antes, minha princesa precisa tomar um banho para tirar esse cheiro de padaria — falei, entrando no banheiro com ela e a enchendo de beijos.

Minha vida nos últimos cinco anos estava cheia de responsabilidades e desafios, e eu precisava cuidar da minha família e administrar a padaria da família. Meu sonho de ser estilista ainda existia, mas agora estava em segundo plano, priorizando minhas irmãs e minha filha Belinha. À medida que a noite avançava, eu me perguntava o que o futuro reservava para nós, com esses "cataclismos" que Dona Vera previra, e o mascarado do passado ainda rondava meus pensamentos.

Essa era minha rotina noturna. Após dar banho na Belinha e pedir para a Beck fazer o mesmo, preparei o jantar com Belinha ao meu lado, compartilhando seu dia comigo enquanto esperava Beck para revisar suas lições e tirar dúvidas.

— Mamãe, posso ir à casa da Dona Vera? Ela disse que tinha algo para me entregar — Beck entrou na cozinha, recém-saída do banho, depositando um beijo na minha cabeça.

— Só se for rápido, estou terminando o jantar...

— É rapidinho, eu prometo — ela falou e eu concordei com a cabeça. Ela saiu apressada.

Terminei de preparar o jantar e comemos juntas. Ajudei Belinha com sua lição de casa enquanto Beck compartilhava detalhes do seu dia. Com Belinha já sonolenta, fui para o nosso quarto, onde a deixei assistindo desenhos enquanto eu tomava um banho. Meu corpo clamava por descanso, mas quando passei pela cozinha, percebi que ainda precisava limpar a casa. Vesti meu pijama e voltei para a cama com minha pequena para contar uma história antes de dormir.

— Mamãe, eu te amo — ela disse com um sorriso, e essas palavras faziam todo o meu cansaço e esforço valerem a pena.

— Eu também te amo, meu amor — respondi, fazendo carinho nela. Ela estava agarrada a mim, cheirando meus seios enquanto pegava no sono. Ela tinha esse hábito de dormir com uma mão no meu seio e o rosto no outro, apenas cheirando-o.

Nós morávamos em uma "vila" composta por várias casas, com a padaria na parte da frente e nossa moradia no andar de cima. Nos fundos, havia mais cinco casas no térreo e outras cinco no andar superior. Meu avô comprou a parte correspondente à nossa casa e à padaria, enquanto as outras propriedades pertenciam ao Sr. Antônio. Nossa casa não era grande, com três quartos: minhas irmãs dividiam um, e eu dividia outro com Belinha. Os quartos eram bastante pequenos. O quarto das minhas irmãs tinha uma beliche, e no meu quarto, comprei uma cama de casal onde eu dormia com minha filha.

Quando minha filha adormeceu, fui até o quarto das minhas irmãs, pedi para que elas se deitassem e dei um beijo de boa noite em cada uma delas. Só depois disso voltei para a cozinha e sorri ao ver meu avô lavando a louça. Ele sempre tentava me ajudar, sabendo o quanto eu estava sobrecarregada.

— Vovô, eu já estava indo lavar e limpar a cozinha. Primeiro fui colocar a Belinha para dormir — falei, fazendo com que ele se sentasse em uma cadeira antes de começar a lavar a louça. Ele sorriu para mim.

— Você acredita no que a Vera disse? — ele perguntou enquanto eu guardava a louça.

— Ela estava certa quando previu o rapaz que estava roubando a padaria e também acertou o resultado de 7x1 na copa. Todos diziam que ela era louca, mas ela estava certa — respondi, terminando de guardar a louça e começando a varrer a cozinha.

— Filha, suas irmãs deveriam te ajudar mais. Você passa a manhã toda na padaria, e quando eu preciso, você também fica à tarde. Além disso, tem a Belinha para cuidar, e muitas vezes suas irmãs te dão mais trabalho do que sua filha de 4 anos. Você é uma boa garota, Maria, e espero muito que você seja feliz — ele disse, me abraçando.

— Eu sou feliz, vovô — falei, mas ele me lançou um olhar triste.

— Filha, eu sei que você não é feliz. Você adiou seus sonhos por causa de suas irmãs. Conheço você, sei que ter uma filha não atrapalharia seus objetivos, mesmo que você a estivesse criando sozinha. E você não vai me dizer o nome desse desgraçado, não é?

— Vovô, me ouça. Foi minha escolha. Eu amo desenhar minhas roupas e sapatos, e não desisti dos meus sonhos, apenas os adiei. Ainda vou me tornar uma grande estilista, mas agora preciso cuidar das minhas filhas. Você já tomou seus remédios? — Perguntei, levando-o de volta ao quarto.

— Maria, você está me enrolando novamente, não é, minha mocinha? Mas espero que um dia você encontre alguém à sua altura, ou até mesmo uma mulher. Hoje em dia, as coisas estão bem modernas, e eu ainda quero ver você feliz nesta vida, mesmo que eu não esteja mais aqui para testemunhar — ele disse com um sorriso, sentando-se na cama.

— Boa noite, vovô — falei, saindo do quarto.

Respirei fundo e tranquei toda a casa. Depois de terminar todas as tarefas, voltei para o meu quarto e, ao abrir a porta, fiquei olhando para minha princesa.

— Príncipes não existem, minha filha. Já se passaram tantos anos, e eu não consigo esquecer o seu pai, o mascarado. Nem lembro mais da sua voz, mas nunca vou esquecer deste sinal que parece um F — falei, tocando no ombro dela, onde havia o mesmo sinal. — Você foi o meu melhor erro que já cometi, pena que eu nunca vou poder responder à pergunta sobre quem é o seu pai...

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Continua...

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Comments

Rosa Beheregaray Fagundes

Rosa Beheregaray Fagundes

amando seu romance autora. tudo de bom sua história

2024-01-12

1

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