O silêncio era a única companhia de Adrian ao retornar ao castelo, seus pensamentos tão carregados quanto suas botas enlameadas. James, seu constante companheiro, havia se despedido com um aceno cauteloso, conhecendo bem o peso que as reuniões com líderes como Lorde Bolton poderiam deixar sobre os ombros jovens de um cavalheiro.
Assim que Adrian se viu só, procurou refúgio em uma sala tranquila do castelo, um espaço onde a luz suave de uma vela tocava os livros empoeirados e os quadros antigos nas paredes. O eco das notícias do passado — o desaparecimento de seu pai e irmão, a perda de sua mãe e irmã — ainda assombravam a sala como fantasmas teimosos. Estava preso em pensamentos, afundado em uma cadeira de couro que rangeu sob o peso de suas inquietações.
Precisava sair dali, respirar. Levantando-se, decidiu caminhar pelos jardins reais, onde sabia que encontraria um pouco de paz. Os portões se abriram para um mar de verde e cores, com fileiras de rosas que desenhavam a trilha como ondas de perfume. O Jardim Real era um quadro vivo; fontes borbulhavam suavemente, e os caminhos eram ladeados por arbustos e árvores floridas que sussurravam histórias com a brisa.
Ela estava lá, no meio de tudo isso, uma figura tão parte da paisagem quanto qualquer rosa ou salgueiro. Liz, a princesa, era como uma pintura ganhando vida sob o céu que já tingia-se de laranja e rosa do entardecer. Seus cabelos caíam sobre os ombros em ondas castanhas, e seus olhos azuis brilhavam com um tipo de calor que poderia derreter o coração de qualquer um. Com dezessete anos, sua aparência era a mistura perfeita de elegância e a promessa da juventude.
“Adrian,” sua voz era como música, surpresa e alegria em partes iguais. “Não é todo dia que te vejo por aqui. O que te traz aos meus domínios?”
“Estava precisando de ar, de espaço para pensar,” ele murmurou, aproximando-se.
“Isso é algo que temos em comum,” ela sorriu, passando a mão por uma flor próxima, “a natureza tem um jeito de colocar as coisas em perspectiva.”
Eles andaram juntos por entre as trilhas do jardim, o sol poente pintando sombras longas no chão. Ao redor, tudo era tranquilo, mesmo que por dentro, Adrian ainda batalhasse com suas preocupações e mistérios não resolvidos.
“Como você tem estado, Liz?” ele perguntou, a voz suave misturando-se aos sons da água e das folhas.
“Estar? Eu sobrevivo, como um rio através das estações. E você? Há algo novo sobre sua família?”
Ele balançou a cabeça, a serenidade do jardim parecendo zombar da tormenta em seu coração. “Nada. É como se a terra os engoliu.”
Liz parou por um momento, seu olhar encontrando o dele com uma sinceridade desarmante. “Sei que não é fácil. Mas a noite sempre traz o amanhecer. Lembre-se disso.”
A conversa deles fluía fácil, como se estivessem dançando um dueto de palavras e silêncios. Em meio ao jardim, naquela conversa simples, havia um conforto em saber que eles não estavam sozinhos em seus desafios.
O jardim, com sua beleza e calma, era um lembrete de que mesmo quando a vida se torna um labirinto, sempre existem caminhos a serem encontrados. E naquela noite, sob a luz dourada do crepúsculo, Adrian sentia que talvez houvesse esperança ainda, um sussurro de algo novo e desconhecido que poderia aguardá-lo logo adiante.
No raiar do dia seguinte, Adrian despertou para a luz difusa que se entrelaçava através das cortinas espessas de sua câmara. A noite passada ainda pincelava os cantos de sua mente com cores de esperança e serenidade, um contraste vívido contra a realidade sempre presente de uma terra em turbulência.
As horas avançaram, e com o subir do sol, um convite formal veio chamá-lo até a presença do rei Valorian. Uma convocação do soberano não era algo para ser tomada de ânimo leve. Adrian vestiu-se adequadamente, honrando não somente sua posição, mas também as tradições que o castelo mantinha com o peso da história.
Ao adentrar o grande salão, Adrian encontrou o Rei Valorian sozinho, um homem cuja força outrora resplandecente agora se via ofuscada pelo toque inexorável do tempo e das preocupações de uma coroa demasiado pesada.
“Adrian,” começou o rei, uma sombra de um sorriso no semblante já marcado por batalhas recentes e distantes. “Tu e James têm sido os alicerces deste reino nestes tempos árduos. As missões que concluíram ao longo dos últimos dois anos deram-nos nosso último fio de segurança.”
Adrian inclinou a cabeça, o respeito mesclando-se com uma súbita curiosidade ante as palavras do rei. “Majestade, é um grande honor servir à coroa.”
O Rei Valorian assentiu, mas havia uma hesitação em seus olhos. “Entretanto, devo trazer notícias que talvez não desejes ouvir.” Sua voz parecia carregar o peso de mil invernos ao prosseguir. “Sarfh continua a ser um enigma. O Reino, agora reduzida a cinzas e memórias silenciadas, não nos cedeu qualquer rastro novo.”
Essas palavras atingiram Adrian como um golpe. A esperança que brotara no jardim, nutrida pelas palavras de Liz, de repente parecia pequena, uma delicada flor lutando contra uma tempestade que se anunciava.
“Compreendo,” respondeu Adrian, mantendo a compostura, apesar de sentir as portas se fechando para as respostas que tanto buscava. “Continuaremos a procurar. Há sempre mais a ser descoberto.”
O rei acenou em concordância. “Que assim seja. Eu confio em teu zelo e perspicácia. Por ora, descansa, porque sei que quando menos esperamos, as verdades revelam-se nos momentos de calmaria.”
Deixando a presença do rei, Adrian sentia a dualidade de seu próprio coração: grato pelo reconhecimento das missões cumpridas, mas atormentado pela falta de avanços sobre Sarfh. A incógnita daquele lugar e o destino de sua família eram agora seus companheiros constantes, sussurrando-lhe que a jornada estava longe de terminar.
A busca por respostas é muitas vezes pavimentada com a paciência e a resistência ao desânimo. E enquanto as sombras se alongavam novamente sobre o reino de Aurora, era essa resiliência que Adrian sabia que deveria abraçar. Num mundo de intrigas e perigos ocultos, ele teria que manter os olhos abertos e a mente afiada. Afinal, o futuro é frequentemente forjado na fornalha não das descobertas feitas, mas das buscas que continuamos a empreender.
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Atualizado até capítulo 26
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