capítulo 16

Retorno à minha residência, decidido a entrar em contato com Ivy. É imperativo que alcancemos uma compreensão mútua, pois tia Ana, com sabedoria, aponta que não é viável perseguir qualquer relação com Ava enquanto mantenho meu compromisso matrimonial com Ivy. Anoto os nove dígitos fornecidos por Ava em um pedaço de papel, na esperança de obter os outros dois números dela depois.

No entanto, nosso matrimônio é meramente um contrato, desprovido de qualquer envolvimento emocional, pelo menos da minha parte, o que complica sobremaneira minha situação.

Novamente, pego meu dispositivo móvel e tento ligar para ela, mas não obtenho resposta. Provavelmente, terei que empreender uma busca pessoal. Recorro a tia Ana, especialista em localizar indivíduos, que implantou essa ideia em minha mente e, portanto, agora deve me auxiliar.

— Tia Ana, seria possível rastrear Ivy para mim?

— Posso tentar, mas você realmente planeja ir atrás dela?

— Sim, é necessário resolver isso. Se ambos chegarmos a um consenso e optarmos pela separação, talvez o Conselho possa considerar a nossa situação.

— Você não compreendeu o que mencionei antes? — sua voz carrega um tom de desapontamento.

— Sim, tia, entendi. No entanto, essa pode ser a única maneira de resolvermos esse impasse.

— Tentou entrar em contato com ela?

— Já o fiz, mas ela não atende. — Ela concorda, começa a investigar e desliga o telefone. Dirijo-me ao banho e, em seguida, deito-me para descansar.

No dia seguinte, acordo já à tarde, realizo minha rotina de higiene e dirijo-me à máfia. Ligo para Biancchi e, mais uma vez, pergunto sobre sua irmã.

— Já expliquei, não sei onde ela está. Ela apenas liga para informar que está bem e...

— Preciso falar com ela. Estamos vinculados por esse matrimônio e... e o Conselho instruiu-me a encontrá-la e trazê-la de volta, ou eles mesmo vão procurá-la e executá-la, caso a encontrem. — Invento uma mentira para exercer pressão, reconhecendo que não é ético, mas é o único recurso que possuo para trazê-la de volta.

Ele permanece em silêncio por um momento, mas depois concorda que, quando ela ligar, pedirá seu endereço para me repassar. Me sinto muito aliviado, pois agora tenho a certeza que ela voltará, por que não pensei em fazer isso antes? Já teria resolvido esse problema.

Com um sorriso de expectativa, coloco o celular na mesa, confiante de que essa simples ameaça, a fará retornar para casa, e tenho certeza, que, mesmo que ela esteja ofendida por tudo que ouviu, ela irá concordar comigo sobre tentar algo para nós divorciar.

Recosto-me na cadeira, perdido em meus pensamentos. Ivy, é exatamente uma pessoa de boa índole. Ela é aquela mulher indefesa, que todos os homens se sentem compelidos a proteger a todo custo, alguém que aparentemente não tem a habilidade de se defender por conta própria.

Ao contrário de sua prima, Ava, que não requer proteção de ninguém. Embora ambas compartilhem um sorriso idêntico, aquele sorriso cativante e encantador, isso é onde as semelhanças terminam.

Com menos de uma hora, Biancchi me chama e informa que Ivy entrará em contato comigo. Se eu conseguir persuadi-la a voltar para casa, ela o fará. No entanto, ele deixa claro que eu devo escolher minhas palavras com sabedoria, pois sem isso, não conseguirei convencê-la.

Eu concordo com ele e desligo o telefone, esperando ansiosamente sua ligação. Em menos de dez minutos, meu celular toca, e eu atendo, sabendo que é ela.

— Fale rápido sobre o que você precisa, estou com pressa.

— Ivy, é importante que você retorne para casa. O conselho estará procurando por você amanhã, e se você não voltar, eles tomarão medidas drásticas. Lembre-se de que somos de famílias mafiosas, onde não existe separação nem divórcio, você terá que voltar.

— E se eu não quiser?

— Então, eu me tornarei um mafioso viúvo.

Ela solta um suspiro do outro lado da linha e diz que me ligará mais tarde com sua resposta, e então desliga o telefone abruptamente. Minha parte está cumprida, se ela retornar, ótimo, mas se não o fizer, estou preparado para conversar com conselho. Eles decidirão o destino dela.

Caminho até a sala de treinamento de tiro e começo a praticar minha mira, uma habilidade que aprendi perfeitamente com meu pai. Não há espaço para erros. Embora possa não ter sido um marido exemplar, como todos afirmam, sei que sou um mafioso de primeira linha.

Aqui dentro, é uma sensação mista de nervosismo e empolgação. O cheiro característico de pólvora preenche o ar, e o som dos tiros ecoa ao meu redor. A luz fluorescente brilha intensamente sobre as bancadas, onde os outros atiradores estão concentrados em seus alvos.

Sinto o peso da minha arma nas mãos, familiar e reconfortante. Respiro fundo, tentando controlar a ansiedade que sempre surge antes de começar a disparar. Meus olhos se fixam no alvo à minha frente, e todo o resto parece desaparecer.

Com o dedo no gatilho, a tensão cresce. Concentro-me em minha respiração e na mira, bloqueando todo o ruído ao meu redor. Então, num momento de concentração absoluta, pressiono o gatilho. O estrondo da arma é ensurdecedor, mas é o impacto no alvo que realmente me faz sentir vivo.

Observo as perfurações se espalhando pelo papel, avaliando minha precisão. Cada disparo é uma oportunidade de melhorar, de aprimorar minha habilidade. Na sala de tiros, eu me sinto em sintonia com minha arma e meu objetivo, e é um lugar onde posso treinar e descansar a minha mente.

Quando volto à minha sala, meu celular toca novamente, e vejo que é Ivy mais uma vez. Atendo rapidamente, e ela fala com um tom de desânimo.

— Como não vejo outra alternativa, avise ao conselho para não me procurar. Voltarei para casa amanhã cedo. No entanto, não se preocupe, não seremos mais marido e mulher, pelo menos não fora dos documentos. Peça para arrumarem meu quarto, quando eu chegar, me instalarei nele para evitar qualquer proximidade contigo.

Ela está fria e calculista, será que mudou tanto assim em apenas um ano? Será que seu corpo também mudou, ou ela continua como antes?

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