A Pessoa Errada

A Pessoa Errada

•Damn it

Ninguém nunca me disse que faculdade de artes visuais poderia ser tão cansativo assim. Os resquícios de tinta colorindo minha roupa branca e as manchando novamente, mais um dia comum para mim. As aulas normalmente são tão monótonas, nada de novo que eu não tenha visto antes, rabisco os cantos da folha, o lápis deslizando pelo papel branco e formando mais um rascunho de um corpo masculino, minha paixão para desenhar veio daí. A idéia de que eu poderia desenhar o que eu quisesse apenas imaginando e colocando tudo em uma folha branca, me deixa tão satisfeito, pensar que minhas fantasias podem virar algo a mais. Os desenhos da aula e as anotação cobrindo folhas e mais folhas, sobrando os cantos que me distraiem durante as aulas.

Quando o professor termina, as vozes ficam mais frequentes, todos tão visivelmente exaustos assim como eu. Guardo com pressa meu caderno e estojo, despedindo-me dos outros como de custume e correndo para saída para me encontrar com o meu namorado. O sorriso bobo surgindo no meu rosto sem que eu não perceba isso, olho constantemente para o relógio, esperando o horário diário que nos vemos.

As pessoas se aglomerando na entrada da faculdade, mais vozes invadindo a minha mente, mas nada me tira da cabeça poder encontrar com o meu namorado também, nada poderia dar de errado. Ou poderia? Eu vi a sua silhueta logo a frente, escorado ao lado da escada do segundo andar, mas com uma garota ao seu lado. Eu vi seu sorriso enquanto conversava com meu namorado, minha felicidade desapareceu no mesmo instante, ainda mais quando vi os dois se beijarem na minha frente.

— Jack...

Fechei os punhos de raiva, paralisei no meio das pessoas, eu mordia os lábios ao ponto de poder sentir o gosto do sangue fresco na minha boca. As lágrimas se juntaram nos meus olhos, mas nada parecia acontecer. As vozes desapareceram da minha cabeça e eu me sentia vazio, não pode ser real né? Meu namorado me traiu com a garota que eu mais odeio.

O que mais queria era ir até eles e acabar logo com essa farsa de namoro! Mas, algo me dizia para seguir o meu caminho para casa e deixar para resolver isso outro dia, com mais tranquilidade. Sou capaz de fazer uma loucura quando me tiram do sério, ele não merece minha raiva ou meus sentimentos por ele e isso acabou hoje.

Passei direto entre as pessoas, disfarce perfeito, mas doloroso pela cena que acabei de ver. Nem mesmo tive coragem de encarar aqueles dois juntos. Saindo da faculdade, esperei que os carros passassem na frente para eu e os demais passassem para o outro lado, quando estava atravessando a rua, um carro preto parou na minha frente e me deu um susto, mais um passo e eu estaria no caminho para os Céus.

— Ei! Qual foi!? Aqui é faixa de pedestre, seu idiota!

Bati contra o vidro do carro. Mal dava para ver a pessoa que estava lá dentro, logo o vidro se abaixou e nossos olhos se encontraram.

— Desculpe, Alisson. Quer uma carona?

Paralisei na hora, minha expressão se fechou. Outra pessoa que não suporto.

— Não quero. Tenha cuidado da próxima vez, Max!

O repreendi, cruzando os braços sob o peito. Mal suportava olhar nos seus olhos novamente.

— Deixe de ser assim, sua casa é meio longe da faculdade e é difícil para ir a pé. Vamos, entre.

Ele sorriu amigavelmente para mim, odeio o seu sorriso cínico. Como pude suportá-lo por tanto tempo assim? Mas, não queria negar que queria sair logo daquele lugar, o mais longe possível de Jack.

— Abre a porta.

Ordenei ainda com raiva, ele destrancou a porta para mim e entrei no carro. Comparado com o clima de fora, o seu carro estava fresco, o vento entrando no carro e o ar-condicionado ligado, dando um clima melhor nesse calor insuportável.

— Vi Jack com a Sarah. Vocês terminaram?

Ele me perguntou, manejando o carro com uma mão. Olhava fixo para entrada da faculdade, onde ainda os dois estavam juntos.

— Isso não te intere...

Paro de falar no mesmo instante. O seu corpo inclinou-se para cima de mim, parecia que iria me beijar ali mesmo. Virei o rosto para o lado, evitando contato com ele.

— O que foi? Você esqueceu de pôr o cinto.

Max afastou-se com um sorriso, achando engraçado a minha expressão.

— Eu poderia colocá-lo sozinho.

Respondi a ele, o meu rosto esquentou só de seu corpo estar perto do meu, o que deu em mim? Ajeitei o cinto e olhei brevemente para ele enquanto dirigia em direção a minha casa.

— Gosta de encarar os outros?

Aquele sorriso surgiu no seu rosto de novo, prestando atenção no volante, mas brevemente para mim também.

— Cala a boca.

Resmunguei, cruzando os braços sob o peito e olhando de novo pela janela. O vento batendo contra meu rosto e bagunçando meu cabelo, que nostalgia.

Já fazia um tempo que não andava de carro, esqueci de como era bom fazer isso. Apoei meu braço na janela do carro e fiquei olhando as coisas passarem, as pessoas andando, crianças brincando, tudo normal como sempre. Por um momento, fechei os olhos e um sorriso bobo surgiu no meu rosto. Não vi o tempo passar, sentia apenas o vento bater e me refrescar, o sol entre as nuvens, não havia tantas, todas juntas cobrindo o sol como se fosse protegê-lo das coisas.

Senti quando uma mão me envolveu pela cintura e me puxou para si, mantive os olhos fechados, acreditando ser um sonho. Cheguei em casa?

Abri os olhos quando finalmente senti o cheiro agridoce de um perfume.

— Max!

Gritei com surpresa. Os seus braços me envolviam, sem intenção de machucar. Apenas me soltou quando chegamos no meu quarto.

— Você dormiu no carro. Tive que carregá-lo.

— Por que não me acordou então!

Questionei, irritado com ele. Me ajeitando na cama e o encarando por repostas.

— Você estava num sono tão bom. Sorrindo como um bobo.

Ele disse em tom brincalhão, tocando o meu nariz como se eu fosse uma criança.

— Já me deixou em casa. Pode ir já.

Gesticulei com a mão, apontado em direção a porta do meu quarto.

— Não se preocupe, eu já estou indo. Tenho que ir a um lugar antes de voltar para casa.

Max pegou do bolso o seu celular, de capa preta, a mesma que toda vez o vejo usar. Parecia estar conversando com alguém, um sorriso de canto surgiu em seus lábios quando uma notificação chegou para ele. Fiquei tão curioso para saber o que ele tinha recebido, mas me contive. Isso não era da minha conta.

— Vou indo então. Se precisar, me liga. Você tem meu número salvo, não tem?

Ele digitou alguma coisa no celular e o guardou no bolso da calça novamente.

— Tenho.

Respondi, encarando o bolso da sua calça. Outra notificação chegou, mas por estar no bolso dele, não pude ver com clareza o que lhe foi enviado.

— Bom, até amanhã Alisson.

Acenou para mim, deixando meu quarto e fechando a porta. Ainda estava tão intrigado com quem ele poderia estar falando, mas isso não me preocupava tanto. E sim, a traição de Jack.

— Que dia mais horrível...

Me joguei para trás, a cama macia ao me deitar melhorava tudo. Encarei o teto por alguns minutos em silêncio, com tantos pensamentos.

— O mais sensato a se fazer seria mandar uma mensagem para ele. Será que explico o que vi na faculdade?

Disse para mim mesmo, ainda olhando para o teto. A sua reação poderia não ser a melhor, Jack não é do tipo que aceita ser deixado mesmo estando errado.

— Não. Melhor não.

Levantei-me rápido e sentei na cama.

— Não vou fazer isso. Vou deixar isso do jeito que está... preciso relaxar, sair um pouco deve me ajudar.

Suspirei, largando todo a tensão do meu corpo. Nada melhor do que dar uma saída e aproveitar um pouco fora de casa. Silenciei o celular e o desliguei, depois fui tomar um banho quente para tirar o sono que eu ainda tinha e coloquei uma roupa mais confortável. Guardei o meu celular no bolso e segui em direção a um bar que eu costumava frequentar.

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Comments

Valdileia Silva Castro

Valdileia Silva Castro

odeio quando o cara é traído e feia o olho pra isso ,foda se se eu estou em local público eu faria um barraco daqueles ,e ainda o idiota fica pensando see deveria tirar satisfação com. medo do companheiro não gostar ? aaaah me poupe

2024-10-09

1

Marcia Gonçalves Cardoso

Marcia Gonçalves Cardoso

estou achando muito interessante essa história

2024-03-28

1

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