Queria paz?

Narrador…

Após o beijo, Bianca fechou a blusa e o tempo ficou nublado. Ela pegou na mão de Rafael e o levou até uma poltrona, sentando em frente a ele. Rafael estava nervoso, pois sabia que Bianca falaria a verdade, mas não sabia se teria a reação certa para responder.

Bianca começou a falar:

— Olha, eu sei que você diz estar apaixonado por mim, e eu quero acreditar em você, mas não sou mais a mesma mulher que você conheceu, Rafael. – Rafael quis interromper, mas Bianca fez um gesto com a mão para que ele a deixasse continuar. — Sou uma pessoa diferente daquela que você conheceu. Nós cometemos muitos erros e eu não vejo como nós dois poderíamos ter um relacionamento que daria certo.

— Você está me rejeitando de novo? – perguntou Rafael, suspirando.

— Não, mas estou passando por algumas coisas das quais não estou pronta para te contar, pelo menos por enquanto, e não sei se um dia vou te contar. – respondeu Bianca.

— Não esperava que, depois de toda essa provocação, você dissesse isso. – disse Rafael, passando a mão na cabeça.

— Essa é a parte de mim que você já conhece, Rafael. A parte que te deixa louco e depois te rejeita, que te desafia. Mas você não me conhece. Se sentiu atraído pela mulher que acabei de mostrar, e tenho medo de que isso alimente esperanças. – Bianca disse, relutante em dizer essas palavras.

— Eu tenho certeza dos meus sentimentos, e se isso é um problema, podemos ir devagar, nos conhecer melhor dessa vez – sugeriu Rafael.

— Como saberei que você não vai continuar sendo um babaca? – questionou Bianca.

— Porque, Bianca, mesmo que você diga todas as vezes que você não está pronta, eu estarei lá para você em qualquer situação. E já disse a você, não preciso que acredite nos meus sentimentos, só quero que saiba que eles existem. Tudo bem se você me rejeitar, até mesmo pisar em mim, contanto que, no final, você esteja em meus braços. E se você disser que não há chance de se apaixonar por mim, eu te deixarei em paz – disse Rafael com a voz embargada.

— Rafael, não estou apaixonada por você. Eu sou assim, como você sabe, provoco e depois não quero mais — proferiu Bianca com palavras mentirosas, deixando Rafael em silêncio. — Desculpe se te dei esperanças, mas como eu disse, você não me conhece.

Após um breve silêncio que preencheu o quarto, os dois se encarando, Rafael decidiu retomar a palavra.

— Quer trabalhar comigo? - ele perguntou.

— O quê? - Bianca perguntou surpresa.

— Está estudando? Eu te vi carregando uns livros de arquitetura.

— Rafael, não vejo como isso se aplica aqui.

— Eu estou te oferecendo para trabalhar como minha assistente, ou talvez estagiária. Enquanto estuda, também pode aprender tudo na prática e ganhar experiência.

— Eu posso pensar nisso? - Bianca respondeu hesitante.

— Pode... e eu prometo te deixar em paz, sem mais tentativas.

Rafael deixou Bianca sozinha no quarto para que ela pudesse arrumar o local, enquanto ele precisava de um tempo para pensar. A conversa não seguiu exatamente o rumo que ele pretendia ter com Bianca. Ele sabia que, devido à condição de saúde dela, nunca tentaria algo que pudesse causar-lhe dor. Ele caminhou pelo corredor, tentando entender a relutância de Bianca em lhe contar a verdade, em dizer que está doente e claramente apaixonada também. Aquela cena com Sandra era Bianca marcando território, mas agora ela diz que não está apaixonada? Enquanto caminhava pelo corredor, ele chegou ao elevador e decidiu passar um tempo no saguão, pensando em maneiras de fazer Bianca acreditar nele e fazê-la admitir que também o ama.

Por outro lado, Bianca permaneceu sentada na poltrona, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Ela não conseguiu dizer a Rafael que está doente e que também está apaixonada por ele. Ela sabe que os sentimentos de Rafael por ela são genuínos, mas também sabe que quando ele está com raiva, pode fazer besteiras. Ele a deseja, a quer, e no momento, ela não pode oferecer o que ele deseja, sabendo que ele a quer apenas por isso. Portanto, foi mais fácil colocar essa barreira entre eles, negar qualquer sentimento que possa existir em sua parte. Dispensá-lo parece ser a maneira mais fácil para que ele possa seguir em frente.

Rafael, sentado no saguão, olhava para o chão, tentando entender o que havia acontecido no quarto, como Bianca havia passado de uma mulher que o fez perder o controle para alguém frio em questão de minutos. Ele refletia sobre tudo o que aconteceu e, enquanto pensava e repensava, ouviu uma voz.

— Ainda estou esperando você me dizer quando devo viajar para a Austrália - disse Sandra.

— Oi, Sandra. Na verdade, nós vamos para a Austrália. Quero acompanhar tudo de perto - respondeu Rafael. Sandra sorriu, mas parou de fazer tentativas.

— Desculpe se pareci atirada no seu quarto. Eu só estava tentando te impressionar - disse ela.

— Sinceramente? - perguntou Rafael, olhando agora para ela.

— Sim - respondeu Sandra.

— Isso só me faz querer uma coisa de você: não me impressionou - afirmou Rafael.

— Eu percebi. Desculpe por isso - disse Sandra.

Rafael assentiu com a cabeça em concordância, e Sandra se afastou. Mikaela, observando tudo da recepção, se perguntou o que estava acontecendo e por que Rafael parecia desolado. Ela pediu a Karen para cuidar da recepção, pois precisava tirar um descanso. Mikaela se aproximou de Rafael e perguntou o que estava acontecendo.

— Bianca disse que não está apaixonada por mim. Ela não quer que eu alimente esperanças - disse Rafael. Mikaela ficou em silêncio por um momento e olhou novamente para Rafael.

— Por que ela está mentindo? - questionou Mikaela.

— Porque ela acha que só quero usá-la, porque não acredita nos meus sentimentos. Ela estava prestes a me contar a verdade, mas desistiu no último momento. Então eu disse que a deixaria em paz. Vou para a Austrália, sua vaga de emprego está garantida no meu escritório que será aberto aqui perto. E a vaga dela também, se ela aceitar. Mas acho que Bianca precisa de tempo, e eu estar aqui não ajuda.

— Você está desistindo? Está mesmo desistindo? Bianca é orgulhosa, mas ela vai cair na real. Você não pode desistir depois de tudo que fez por ela - Mikaela mostrou-se indignada.

— Olha, eu não estou desistindo, Mika. Só vou dar o espaço que ela quer, e quando ela se der conta, espero ainda estar aqui.

— O quê? Não! Não! Sou contra isso. Bianca está sendo injusta. Diga a verdade a ela.

— Mikaela, não preciso mais mentir, mas peço que, por favor, não conte nada a ela. Fique ao lado dela. E se precisar, me ligue, e eu pego o primeiro voo de volta...

— Você está desistindo muito facilmente...

— Mikaela, me escute. Não estou desistindo. Nunca vou desistir dela. Mas não posso forçá-la a ficar comigo.

— Você vai voltar?

— Vou sim. Até lá... cuide dela.

Mikaela ficou sentada lá, desacreditada com o que Bianca havia feito, enquanto Rafael se dirigiu ao seu quarto. Caminhando com as mãos nos bolsos pelo corredor até o quarto, Rafael repensou se tomar aquela decisão era o certo. Mas naquele momento, ele não podia forçar as coisas com Bianca, e se ela queria ficar sozinha, ele agiria no oculto, ficando ao seu lado sem que ela soubesse. Ao entrar no quarto, Bianca já havia terminado de arrumar tudo e estava saindo. Ele notou que ela tinha chorado, mas a decisão era dela, e ele havia prometido não fazer mais tentativas. Passou por ela no quarto sem dizer uma palavra, dirigindo-se ao escritório, onde ligou o notebook. Bianca o observou e sentiu arrependimento por não ter tido coragem de falar. Ela foi até o escritório dele e disse:

— Aceito a vaga...

— Ótimo - interrompeu Rafael. — Você pode começar na próxima semana. Arthur cuidará de tudo por aqui.

— Arthur? - questionou Bianca.

— Sim, ele é meu representante no escritório de Seattle. Qualquer dúvida, procure por ele. Sua amiga também conseguiu o estágio, ela é muito talentosa.

— Por que Arthur vai cuidar de tudo? - Bianca perguntou, sentindo seu peito doer.

— Porque eu irei para a Austrália cuidar de um dos meus projetos. Ficarei fora por seis meses. Qualquer dúvida, pergunte a ele.

Bianca ficou olhando para Rafael, e as lágrimas quiseram brotar em seu rosto, percebendo que ela o magoou e agora ele estava indo embora, realmente desistindo.

— Quando disse aquelas coisas, não imaginei que você iria embora.

— Você queria paz, estou te dando isso. Quando sair, feche a porta.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Bianca. Ela virou as costas e saiu, enquanto Rafael socava a mesa à sua frente, sentindo a raiva consumi-lo e seu peito arder.

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