Questão de tempo

Saí do hospital com tantos sentimentos. Ver a Bianca sentada naquela poltrona, com uma intravenosa na veia e com dor, enquanto falava sobre seu cabelo, partiu meu coração em vários pedaços. Não sei se consigo aguentar vê-la assim, sem poder falar com ela, sem poder dizer que estou aqui. Após o flagra da Mikaela, decidi voltar para o hotel. Chamei o Apolo para ficar comigo no quarto, tomar uns drinks e, quem sabe, me ajudar a controlar a minha vontade de ir até a casa dela e obrigá-la a me aceitar ao seu lado. Mas não posso fazer isso. Disse ao Deive que essa escolha é dela, e não posso tirar isso dela. Ela precisa querer estar comigo, querer ficar ao meu lado.

Cheguei ao hotel e fui direto para o quarto. Liguei para o Apolo, e ele subiu com uma garrafa de uísque. Seu rosto também não estava feliz, assim como o meu. Sentamo-nos nas poltronas e conversamos um pouco enquanto apreciávamos a garrafa de uísque.

— Eu entendo por que estou para baixo, Apolo, mas por que você está também? — perguntei, bebendo.

— Ficar vendo você lutar por alguém que não te quer me fez querer me acalmar e buscar algo por mim também... — ele respondeu, bebendo.

— Você está triste porque não estou mais fornecendo mulheres e álcool para você? — perguntei de forma irônica.

— Não, eu gostava disso, mas não era seu amigo por causa disso. Tem uma garota, e ela não gosta de mim.

— Sério? — perguntei.

— Sim, desde que cheguei aqui no hotel, tenho me interessado por ela, mas acho que ela prefere alguém de uma classe social mais alta.

— Mas você tem um salário muito alto. Por que não a convida para sair?

— Você está falando sério, Rafael? Da última vez que me envolvi com sentimentos, não acabou bem. — ele reclamou, bebendo.

— Eu vejo as coisas de forma simples. Se você gosta de alguém, você conta para essa pessoa... Eu nunca me envolvi sentimentalmente com ninguém, até que vi uma stripper numa boate, e ela me desafiou e me mostrou que as coisas não são como a gente quer. Ela me provocou e fez com que eu desenvolvesse sentimentos por ela, mas agora ela não está disponível. — reclamei.

— Você está falando besteira, você sabe, não é? Pelas coisas que você fez, a forma como tratou a Bianca, sua obsessão pela mulher do seu amigo, é claro que a Bianca não vai acreditar em você... Ela pode pensar que você só se aproximou dela porque ela é uma segunda opção.

— Você não sabe o que vivemos... — retruquei.

— É verdade, Rafael, eu não sei. Mas sei que nada é simples com você, e com ela é ainda pior... — Apolo respondeu, rindo.

— Você fica fazendo piadas, pelo menos eu não fico escondendo que gosto dela como você, grandalhão... — Nós dois rimos. — Por que eu me apaixonei? Eu costumava ser o galã da noite, cara. — falei, apoiando a cabeça na poltrona.

— Além do que você me contou, a Bianca usou seu próprio jogo contra você... Ela fez com que você se interessasse por ela, então você começou a prestar atenção, e agora vocês dois estão jogando um com o outro.

— Nossa, ótima explicação, Apolo. Por que ela simplesmente não me conta que está doente?

— Será que é porque ela tem medo?

— Não quero mais falar sobre isso…

Apolo e eu bebemos a garrafa inteira, ele acabou desmaiando na poltrona enquanto minha mente voltava a uma lembrança.

Flashback...

— Será que ela está chorando agora?

— Que pergunta é essa?

— Será?

— Provavelmente sim, mas acho que eles já resolveram o problema dos celulares, provavelmente já compraram outros aparelhos.

— Ah, Rafael, me deixa aproveitar o momento.

Rafael se aproximou de Bianca, cheio de si, por trás dela. Ele passou a mão em sua cintura e a puxou para perto de si.

— Então vamos aproveitar.

— Não estou fazendo programa hoje, desculpe.

— Qual é o seu problema, sua vadia? –

Rafael falou, segurando-a pelo braço.

— Nenhum, só não quero isso, não com você. E não me chame de vadia. Solte meu braço.

— Você me provoca e depois não quer mais.

Rafael disse isso e logo a soltou. Bianca percebeu que tinha mexido com a cabeça de Rafael. Era claro que ele a queria, mas ela não iria dar a ele esse prazer. Ela o deixaria louco e depois o dispensaria. Essa seria a diversão dela naquele domingo tão chato. Ela se aproximou dele com toda a intenção e beijou seu pescoço.

— Desculpe, querido.

Então, ela o empurrou contra a parede e deslizou suas mãos por ele, colocando-as dentro de sua calça, acariciando-o. Ela levantou o olhar, passou a língua pelos lábios e o beijou com vontade, enquanto sua mão ainda estava dentro de suas calças. Parou de beijá-lo e o encarou nos olhos.

— Você quer? – Disse, mordendo os lábios.

— Claro que quero, não está óbvio onde sua mão está?

— Ah, sim.

— Acho que podemos nos divertir um pouco.

— Com certeza, estou me divertindo.

Bianca realmente estava gostando daquilo. Ele era intenso, e ela gostava disso. Rafael a segurou pelo pescoço e tentou beijá-la novamente, dessa vez com mais intensidade. Porém, Bianca se afastou e retirou a mão.

— Já disse que essa "prostituta" não está disponível.

— Sério, Bianca?

— O que? Ficou irritadinho?

— Você é uma vadia desgraçada.

— Não era eu que estava implorando quase agora.

Rafael a empurrou contra a parede, cheio de raiva.

— O que vai fazer? Me jogar contra a parede? Isso não me assusta, só me deixa mais excitada.

Essa lembrança em particular me faz rir, porque ela me deixava louco e depois fingia que não queria. Agora entendo que ela só queria chamar minha atenção. Deixei meu copo na mesa de centro e saí do hotel em direção à casa dela. Não ia bater na porta ou chamá-la, apenas sentei em frente à porta, sei lá, como uma forma de estar presente. Outra coisa, a Mikaela precisa parar de me flagrar nos lugares. Mas foi bom, assim pude passar um tempo com a Bianca. Agora tenho certeza de que ela sente o mesmo, só não está pronta para admitir. E quando ela estiver, estarei aqui, olhando em seus olhos enquanto ela segura minha mão, pronta para deitar com ela. Foi como encher um copo vazio. Agora tenho esperança de que nós dois, é apenas uma questão de tempo.

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