Segredo

Narrador…

Mikaela permaneceu ao lado de Bianca a noite toda, ajudando-a a se sentir melhor. Segurou sua cabeça ao lado da cama para que pudesse vomitar em um balde próximo. Ela odiava ver a amiga daquele jeito. Bianca pode não ser uma pessoa maravilhosa, mas estava tentando melhorar.

Mikaela cochilou algumas vezes durante a noite, mas acordava com seus próprios pesadelos. Ela se mudou para Seattle há dois anos, quando seus pais morreram em um acidente de trânsito causado por um motorista embriagado. Ela deixou toda sua vida em New Jersey para recomeçar em Seattle e fugir da dor que sentia. Abandonou sua vida, amigos e namorado. Não queria ninguém em sua vida que lhe lembrasse da dor da perda, por isso escolheu um lugar onde ninguém a conhecesse. Seu ex-namorado, Samuel, tentou procurá-la, mas ela disse que não o amava o suficiente para querer uma vida com ele.

Então, ela tem tentado manter distância de pessoas pelas quais possa se apegar. No entanto, quando conheceu Bianca, sentiu que poderia finalmente abrir uma exceção para pelo menos uma amiga, já que ambas estavam sofrendo. Isso era algo em comum entre elas. Mikaela também tinha uma queda por Apolo, era a primeira vez que ela olhava para alguém de forma diferente desde que terminou com Samuel.

Vendo a amiga deitada na cama, lutando para sobreviver e negando um amor que provavelmente convenceu o médico para ficar ao lado dela, era algo muito significativo. Mostrava que Rafael se importava muito, mas Mikaela também entendia os medos e inseguranças de Bianca. Nessa situação, ela se sentia encurralada entre um homem que queria ficar com sua amada e uma mulher que queria enfrentar tudo sozinha. Mais uma vez, a insegurança de perder sua amiga bateu em Mikaela, por não dizer que Rafael sabia a verdade e era ele quem estava cuidando dela. Eram quatro da manhã quando Mikaela decidiu que precisava ir para casa pegar uma muda de roupa, aproveitando que Bianca finalmente tinha dormido e parecia estar em um sono profundo. Ao abrir a porta, Rafael estava do lado de fora, sentado no chão, encarando a porta.

— Acho que tenho que parar de assustar as pessoas ao abrir portas... — Mikaela disse rindo depois de se assustar.

— Como ela está? — Rafael perguntou preocupado.

— Foram horas intensas, mas acho que agora ela já melhorou um pouco. Finalmente conseguiu dormir. — Mikaela fechou a porta.

— Posso entrar?

— Rafael, você sabe que não posso permitir isso. Ela pode acordar.

— Será só por um minuto, juro que só quero vê-la... — ele insistiu.

— Está bem, mas não demore.

Mikaela abriu a porta novamente, fazendo um gesto para que Rafael entrasse com cuidado e em silêncio. Ele se aproximou do quarto e foi até a cama, sentando na beirada. Passou as mãos pelo cabelo de Bianca e sentiu alguns fios saindo em sua mão. Ele se aproximou dela e deu um pequeno beijo em seu rosto, sussurrando:

"Mesmo que você não queira me contar, eu sempre estarei aqui para você. Não sou mais o mesmo homem que você conheceu, e percebi que, por você, posso me tornar alguém melhor."

Ele deu outro beijo em seu rosto e ao se levantar da cama para sair, sentiu sua mão sendo apertada, impedindo-o de sair. Ao olhar para baixo, viu que Bianca o estava olhando, possivelmente sem saber que aquilo era real. Bianca pensou que estava sonhando e puxou Rafael para deitar na cama com ela, acreditando que era apenas um sonho.

— O que você está fazendo, Rafael? Você não pode deitar com ela. — Mikaela sussurrou.

— Ela me puxou, será apenas por alguns minutos. Ela pensa que isso não é real. — Rafael respondeu com a voz embargada.

— Cinco minutos, e então você vai embora...

— Está bem.

Rafael deitou-se com Bianca em seus braços, enquanto Mikaela foi até o apartamento ao lado para pegar suas roupas. Rafael aproveitou o momento, abraçando Bianca com todo o cuidado possível para não causar dor. Foram os melhores cinco minutos desde que chegou ali, tê-la em seus braços. Quando Mikaela retornou, ele já estava saindo da cama.

— Obrigado por isso, Mikaela. — Rafael disse ao sair do quarto.

— Eu não gosto de mentir para a Bianca, você precisa contar a ela que sabe... — Mikaela disse, acompanhando-o até a porta.

— Ela precisa me contar, não posso dizer que fiquei sabendo pela Lina quando Deive socou minha cara.

— Mesmo assim, você está mentindo para ela e me fazendo mentir também. — Mikaela respondeu brava.

— Você não é obrigada a mentir para ela. Se está fazendo isso, é porque acredita no que sinto por ela e sabe que ela é teimosa demais para me contar. — Rafael retrucou.

— Você subornou o médico?

— O quê? — Rafael perguntou surpreso.

— Quanto você pagou para estar na sessão de quimioterapia dela?

— Entendo que você possa pensar que meu caráter não é dos melhores, mas eu não subornei ninguém. Apenas pedi ajuda para poder ficar ao lado dela, queria fazer parte desse processo. — Rafael respondeu ofendido.

— Não há seleção para o tratamento, não é? Você pagou por todo o tratamento dela e fez com que mentissem para ela... — Mikaela o interrompeu.

— Pode pensar o que quiser, eu não me importo. Só me importo com ela, e gastaria toda a minha fortuna se necessário para que ela não passe por isso. Não quero ouvir sermões, e você não é obrigada a guardar meu segredo. Mas pense nela, ela está em condições de trabalhar mais de 14 horas todos os dias para poder pagar pelo tratamento? Não espero que você goste de mim. Só espero que entenda que eu a amo e estarei ao lado dela.

Rafael deu as costas para Mikaela e saiu do prédio, dirigindo-se ao hotel. Agora, ele estava mais tranquilo por ter visto Bianca e passado alguns minutos em seus braços. Ele esperava poder dormir algumas horas para descansar.

Mikaela voltou para dentro e decidiu dormir um pouco também. Ela deitou ao lado de Bianca e, enquanto cochilava, pensou nas palavras de Rafael. Ele era um homem rico e estava fazendo tudo por uma mulher que ele amava e que poderia morrer. Diante dessa situação, Mikaela chegou à conclusão de que não tomaria partido, pelo menos por enquanto. No entanto, ela faria tudo o que estivesse ao seu alcance para fazer Bianca se sentir melhor e mostrar a ela que realmente era sua amiga, mesmo que tivesse que esconder a verdade.

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