Bom comigo.

Após Mikaela sair do banheiro brava novamente comigo, eu pensei por que eu estava lutando tanto para não ficar com ele. Talvez as coisas fossem complicadas, mas por que não nos dar uma chance? Depois de alguns minutos em pé olhando para mim mesma no banheiro, decidi sair. Foi quando vi Rafael conversando com minha amiga. Tudo bem, nós não somos tão próximas assim, mas como ela ousa se envolver com ele? Que tipo de pessoa falsa ela é?

Fiquei esperando eles terminarem sua conversa e vi Rafael entregar um papel para ela. Seria um bilhete para mim? Ou ele estaria flertando com ela? Por que estou fazendo essa pergunta se a resposta é óbvia? Claro que ele estava flertando com ela. Ele já desistiu de me conquistar, da qual ele jura ter vindo atrás.

Quando terminaram, fui atrás de Mikaela. Não posso acreditar que, depois de tudo o que eu disse a ela, ela teve a audácia de permitir que ele se aproximasse. A encurralei no corredor, no mesmo andar onde ficava o quarto de Rafael. Talvez ela estivesse indo encontrá-lo lá, já que ela é recepcionista e não camareira.

— Você veio atrás dele? - perguntei com raiva.

— Do que você está falando? - ela respondeu surpresa.

— Eu vi vocês conversando e ele te entregou um papel. Era o número do quarto dele?

Mikaela começou a rir. Eu não entendia sua risada e estava completamente confusa.

— Acho fofo você pensar que ele estava flertando comigo, mas não estava. Ele me deu o número do celular dele para te entregar. Disse que é o número novo dele e, como você não o ouve, ele pediu para que eu te entregasse. - ela disse, me entregando o papel.

— Foi só isso? - perguntei.

— Sim, porque mesmo que ele seja um idiota e tente ficar comigo, eu não pensaria duas vezes. Porque ele é um cara bonito, loiro de olhos azuis. E esses olhos azuis só olham para você. - ela disse debochando.

— Que amiga horrível você é! - eu respondi, rindo.

— Uma amiga honesta. Sério, não seja tola. Aproveite aqueles belos lábios, diga a verdade a ele. Vá até lá e se jogue nele, porque se fosse eu, com certeza estaria grudada em seu pescoço.

Olhei para ela rindo, e de alguma forma suas palavras me impulsionaram a ir até o quarto dele. Naquele momento, eu não sabia que ela também tinha mentido para mim, mesmo que tenha sido algo bom. Fiquei parada em frente ao quarto, depois andei de um lado para o outro, tentando criar coragem para tocar a campainha. Aliás, por que tem uma campainha em um quarto de hotel? Enfim, voltando... eu estava tentando controlar minha ansiedade e a indecisão sobre se deveria tocar ou não aquela campainha. A porta abriu. Por que eu disse: "Eu sei que você está bem?" O que há de errado com as minhas palavras?

Quando me dei conta, tinha me jogado nos seus braços e o beijado. Estava tão bom, a sensação de estar entregue nos braços dele como eu sempre quis desde que senti a primeira atração por ele. Suas mãos deslizando pelas minhas costas. Mas então ele chegou perto da minha nuca com a mão, e a realidade voltou. Lembrei por que não podia simplesmente me jogar nos braços dele apenas para perdê-lo depois.

Me afastei, tentando pensar, e como sempre, depois de um beijo como aquele, nós discutimos. Ele me chamou de "stripper vadia"? Fiquei chocada ao ouvir isso dele, mas não era completamente mentira. E mais uma vez ele disse que se apaixonou por mim na tentativa de conquistar a Lina para si. Eu não queria me machucar, nem machucá-lo, e é claro que ele continua sem entender nada. Ele não entendeu que se o beijei é porque sinto o mesmo? Sentir ele tocar meu braço, tentando me fazer ouvi-lo, trouxe outras lembranças. Virar as costas não foi fácil, mas pela primeira vez, eu acreditei nele quando ele gritou que não desistiria de mim no meio do corredor. Talvez, no final de tudo isso, haja uma chance. Mas não enquanto eu não tiver certeza dos sentimentos dele, enquanto eu não ver tudo se encaixando, e enquanto eu não for a segunda opção para curar seu ego ferido.

Ao voltar para o setor, estava quase na hora de ir embora. Fiquei pensando se fiz a coisa certa ao deixá-lo falando sozinho no meio do corredor, mas era tarde demais para pensar nisso. Já tinha feito, mesmo que não fosse o que eu queria. Troquei de roupa para sair, passando pelo saguão do hotel, que era todo em tons de branco mesclado com cinza. Enquanto observava o ambiente, alguém parou na minha frente.

— Tudo bem - disse, levantando as mãos para me parar, e continuou - Eu sou um idiota, e não entendo nada mesmo, especialmente quando se trata de você. Você me deixa confuso, e eu não vou deixar nada acontecer com você, ou algo que me impeça de ter uma chance com você. Acredite se quiser, Bianca. Eu não vou embora, você pode me pisar se quiser, eu permito. Você pode continuar falando tudo o que pensa sobre mim e sobre você, pode me insultar para me afastar, brigar ou até mesmo jogar um vaso na minha cara, mas não vou a lugar algum. Porque, aceite ou não, me apaixonei pela prostituta barata que você é, e eu não tenho vergonha disso - ele disse, arrumando seu terno preto e saindo.

Soltei um pequeno sorriso que ele não viu, porque já havia virado as costas. Não ouvi aquilo como um insulto pela primeira vez, mas sim como uma piada interna entre nós. Fiquei parada no meio do lobby, sem conseguir dizer nada, quando Mikaela chegou falando. Ela tinha ouvido o que ele disse.

— Alguém já disse que vocês são estranhos de um jeito nojento? - ela fez uma cara de nojo.

— Na verdade, já disseram sim - respondi sorrindo.

— Amanhã é dia de mais uma sessão de quimioterapia. Você não quer mesmo contar a ele?

— Por enquanto, não. Quando eu assumir meus sentimentos, quero que isso não seja um obstáculo. Não quero que ele fique comigo por pena - disse preocupada.

— Alguém que te diz essas coisas não ficaria por pena.

— Vamos embora - respondi suspirando.

Cheguei em casa junto com Mikaela, e levamos cerca de duas horas para chegar, mesmo trabalhando a apenas trinta minutos de casa. Mas como sempre, ela queria fazer compras, então passamos por um cabeleireiro, onde ela pediu para fazer uma peruca para mim. Ela queria que eu cortasse o cabelo, mas me recusei. Não queria aceitar a peruca.

— Bianca, mesmo que eu tenha invadido sua vida sem você querer, eu gosto de você e sei que em algum momento seu cabelo vai cair. Não quero que gaste dinheiro com isso, então por favor, pode aceitar meu presente? - ela disse.

— Essa peruca que pediu para fazer é muito cara - respondi emocionada.

— Olha, eu não tenho amigos, porque todos me acham chata e intrometida. Você é a primeira pessoa que é sincera comigo aqui, e olha que estou aqui há dois anos. Não tenho amigos na faculdade, nem no trabalho, apenas colegas. Deixa eu te dar isso de presente, por favor. Você é minha amiga, mesmo fazendo caras e bocas para mim e a gente brigando.

Fiquei emocionada com suas palavras e acenei com a cabeça, concordando. Era bom ter uma amiga. Quando chegamos em casa após nossa pequena aventura no cabeleireiro, meu celular tocou. Era o centro de tratamento ao câncer informando que todas as minhas despesas estavam pagas. Perguntei como isso tinha acontecido e eles disseram que o médico me inscreveu em um programa de tratamento, onde meus resultados serviriam como estudo para o avanço da ciência. Perguntei como isso era possível, mas eles explicaram que ocorre quando algumas pessoas não têm condições para pagar e as chances são poucas. Eu não precisaria me preocupar com nada, nem com a cirurgia ou o pós-operatório. Ao desligar o celular, comecei a chorar. Talvez o universo estivesse sendo bom comigo afinal.

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Comments

Zilda Barbosa

Zilda Barbosa

esse universo tem nome ..... rafael

2024-02-09

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