Impulso

Não consegui dormir depois que Bianca saiu daquele jeito do setor. Fiquei horas sentado naquela poltrona, pensando em um jeito de conquistá-la. Uma parte de mim queria largar toda essa história e ir embora, voltar para minha vida de galã da noite e ficar com a primeira que aparecesse. Mas eu não queria mais ser o Rafael que ficou obcecado por uma mulher, que arruinou uma amizade e perdeu um amigo. Eu não queria desistir facilmente, não dela.

Bianca pensa que não merece amor ou a felicidade de ter alguém ao seu lado nas dificuldades, mas eu vou ficar aqui, com ela. Espero que ela me conte sobre o câncer, e mesmo que não conte, eu vou ficar aqui. Passei horas perdido em meus pensamentos e, enquanto a manhã clareava, me surpreendi mais uma vez com o quanto estou envolvido por essa mulher. Nunca fiquei acordado pensando em alguém assim antes.

Flashback…

Rafael voou em Bianca, a colocando sobre a parede.

— Cuidado com o que fala, se quiser acordar amanhã.

Bianca o olhou nos olhos e colocou a mão dentro de suas calças.

— Que bom que isso te excita.

Ela tirou a mão rindo, deixando Rafael desnorteado.

Essa é uma das minhas lembranças favoritas, o quanto Bianca é desafiadora, o quanto ela me desafiava sem medo. E pelo menos isso continua o mesmo, é claro que ela não vai se render facilmente. Mas se eu quiser ter uma chance com ela, tenho que ser sincero. Meus olhos finalmente começaram a pesar, então decidi tirar o terno e deitar na cama. O sol já estava prestes a nascer quando finalmente adormeci.

Algumas horas depois, enquanto eu estava dormindo, ouvi a campainha tocar. Confesso que, no primeiro momento, estava tão sonolento que mal conseguia enxergar quem estava entrando. Mas então ouvi sua voz, e foi como se eu acordasse de um transe. Depois de comermos, conversamos, e foi maravilhoso. Éramos só eu e ela. Se ela permitiu que eu a beijasse, é porque existe uma chance, porque há sentimentos envolvidos. E está tudo bem, ela não está pronta para admitir esses sentimentos para mim. Mas eu estava pronto para admitir os meus, mesmo que ela dissesse que não era suficiente. Eu sabia que isso levaria tempo, seria tolice pensar que ela cederia facilmente.

Depois que ela saiu do quarto, tomei um banho e decidi sair também. Foi quando vi uma pessoa bastante alterada, que eu não conhecia. Talvez fosse uma amiga dela. Decidi abordá-la.

— Oi... – falei, tentando ser simpático.

— Você é um canalha, não cansa de fazer ela chorar? – ela disse, brava.

— Não foi minha intenção. Posso te fazer uma pergunta?

— Claro. – respondeu, revirando os olhos.

— Como está a situação financeira da Bianca? E o tratamento?

— Você sabe? – respondeu, surpresa.

— Sei, mas não diga a ela que eu sei. Quero que ela me conte.

Ela fez uma pausa, me julgando com o olhar, mas respondeu.

— Ela está fazendo o tratamento em um centro especializado. Já se passaram duas semanas desde que ela começou, e ela precisou fazer alguns exames. O médico disse que houve uma pequena melhora, mas ainda há tempo para uma cura. No entanto, o tratamento é caro, e ela está trabalhando incansavelmente aqui para conseguir o dinheiro.

Cada palavra que ela disse foi como uma facada no meu peito.

— Mande-me o endereço do centro, e por favor, não mencione nossa conversa para ela. E você pode fazer outro favor?

— Se estiver ao meu alcance.

— Leve-a a um bom salão de cabeleireiro e peça para fazer um corte de cabelo para ela... Eu sei o quanto a Bianca se preocupa com sua aparência e o quanto ela deve estar sofrendo.

— Você realmente está apaixonado, não posso guardar esse segredo dela.

— Eu mesmo vou contar no momento certo. Você pode me enviar o endereço da casa dela também? E os dias em que ela faz quimioterapia?

— Posso... – ela respondeu, pegando meu número.

— Obrigado…

Eu estava determinado a ficar ao lado de Bianca, com ou sem a permissão dela. Voltei para o meu quarto e passei a tarde trabalhando. Vi quando a mensagem da amiga dela chegou ao meu celular, contendo o endereço do centro de tratamento. Naquele momento, peguei as chaves do carro para ir até lá. Quando abri a porta, encontrei Bianca parada em frente a mim, olhando-me com um sorriso confuso.

— Está tudo bem? – perguntei, confuso.

— Não, porque você está bem, e eu não posso...

Ela se jogou em cima de mim e me beijou, me empurrando contra a parede. Foi um beijo intenso e cheio de desejo, com minhas mãos subindo pelas suas costas e ela com os braços ao redor dos meus ombros, com os pés suspensos. Continuei subindo minha mão até chegar em seu cabelo, mas então ela parou.

— Desculpa, agi por impulso. Não posso fazer isso. – disse, afastando-se.

— Bianca, por favor! – falei, passando na frente dela.

— Não, Rafael, você não deve ter mudado. Só deve estar procurando uma conquista, a adrenalina da caçada, assim como fez com a Lina.

— Isso não é verdade...

— Claro que é! Você não muda de opinião tão rapidamente, você queria ela! Por que mudou de ideia?

— Bianca, pare! Eu não mudei de ideia, eu me apaixonei por você! – disse, elevando a voz.

— Então você ainda quer ficar com ela?

— Falando desse jeito, parece que eu tive algo com ela. Mas, na verdade, eu não tive, e você fez questão de jogar isso na minha cara. A Lina foi apenas uma conquista que eu queria usar, eu não estava planejando me apaixonar pela stripper vadia no meio do caminho.

Assim que as palavras saíram da minha boca, percebi que tinha falado besteira. Seu olhar de decepção me magoou profundamente.

— Sinto muito, Rafael. Eu não deveria estar perdendo meu tempo aqui. Já disse que a prostituta aqui não está disponível.

— Bianca, pare de se fazer de vítima. Você também errou. Tentou prejudicar o Deive e a Lina e agora está se fazendo de ofendida.

— Você é um imbecil, continua sem entender nada. Apenas vá embora, Rafael. – Ela virou as costas. Eu segurei o braço dela, impedindo-a de sair.

— Não, eu vou ficar, quer você queira ou não! Não vou desistir de você! Mesmo que se chame de prostituta barata! Foi por você que me apaixonei e me recuso a deixar que esse insulto faça com que eu desista de você, Bianca. E pare de repetir que é uma prostituta!

— Você acabou de me chamar de vadia!

— Porque você faz questão de se desvalorizar desse jeito, mesmo eu não pensando assim. Bem, não mais. Então, por favor, pare com isso?

— Não, e me deixe em paz. – Ela puxou o braço.

— Só quando você admitir que não sente o mesmo por mim, só então eu irei embora.

Eu gritei enquanto ela se afastava, cheio de raiva.

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