Recuar

Ele estava sem camisa ao abrir a porta, e eu passei por ele tentando ignorar o fato de ele ter um abdômen perfeito. Tentei não parecer louca ao verificar discretamente o quarto para ver se ele estava acompanhado. Ele fechou a porta e se dirigiu à cama novamente. Pensei: "Ele não vai falar comigo?"

Fui para a sala de jantar e preparei a mesa para o almoço. Ele não havia pedido muita comida, apenas para duas pessoas, então ele estava acompanhado? Me aproximei da cama e disse a ele que a mesa estava pronta. Ele se levantou com um sorriso de lado, quase me derreti.

— Quer almoçar comigo? Assim podemos conversar. — Ele me olhou de forma estranha.

— Não posso me juntar a você, senhor. Estou em horário de trabalho. — Ele sorriu.

— Eu sou seu patrão e digo que você deve se sentar à mesa comigo. — Ele se levantou da cama.

— Contra fatos não há argumentos.

Respondi sorrindo quando ele passou por mim sem camisa. Achei engraçado ele tentando me seduzir, jogando o mesmo jogo que eu costumava jogar. Sentei à mesa disposta a ouvir o que ele tinha a dizer, conforme havia decidido no dia anterior. Depois de comermos em silêncio, percebi algumas vezes que ele me olhava, e eu retribuí o olhar. Era estranho estar nessa situação, meu coração acelerado. Aquilo parecia uma trégua, e eu me permiti sentir um pouco da ilusão de que aquele olhar era de amor por mim. Ao final da refeição, eu me levantei com a intenção de voltar ao trabalho.

— Bianca, pode esperar? — Ele perguntou apreensivo, segurando novamente minha mão.

— O que você quer, Rafael? — Perguntei olhando para sua mão.

— Definitivamente, eu não sou bom para você. Não sei falar de amor ou de sentimentos, e é óbvio que não me importo com ninguém além de mim mesmo. Mas me importo com você. Devia ter dito isso quando você gritou comigo na rua.

— As coisas não começaram bem. A prostituta aqui tem outras prioridades no momento, e eu não confio e nem acredito em você. — Fiz uma pausa e olhei para ele. — Você ia deixar ele machucá-la? — Perguntei com firmeza.

— Sim, eu ia. — Ele respondeu, subindo a mão pelo meu braço até meu rosto, segurando-o com as duas mãos. E continuou: — Ela não é você. Jamais deixaria alguém fazer aquilo com você.

— Você não deveria deixar aquilo ser feito com ninguém, Rafael. — Respondi, tirando suas mãos do meu rosto.

— Eu não sou bom para você, com certeza sou o pior tipo. Mas me apaixonei por você e quero ser bom o suficiente para merecê-la. Fui covarde, Bianca. Você estava certa. Mas você também errou.

— Eu errei sim, por isso assumi meu erro.

— Por isso digo que você está certa.

Ele concordou, tentando evitar uma discussão. Ouvir essas palavras vindas de alguém como o Rafael era algo que eu jamais achei que ouviria, mas não era o suficiente. Ele novamente tocou meu rosto, puxando-me lentamente para perto. Senti um arrepio quando ele tocou meus lábios com delicadeza em um beijo tranquilo. Mais uma vez, senti aquela paz e sensação que só experimentei quando nos beijamos na festa. Aquele beijo era real. Ao fim do beijo, ele disse:

— Não espero que me perdoe agora, nem amanhã. Mas espero que, quando sentir algo, seja por mim. Que quando acordar e quiser ver um rosto, que seja o meu. Que quando tiver um problema, seja em mim que você se apoiará. Não espero que acredite nas minhas palavras agora, Bianca. Espero que acredite quando eu mostrar a você que todas elas são verdadeiras em atos. Que o homem que eu era mudou no momento em que você estapeou meu rosto, ou quando colocou a mão em você sabe onde e me possuiu com seu olhar. Não espero que acredite que meus sentimentos são verdadeiros. Eu só quero que saiba que eles existem.

Sorri ao ouvir suas palavras, mas com uma declaração dessas, fica difícil recuar. Com um beijo tão suave, olhei para ele e disse:

— Não é o suficiente, Rafael. Não podemos, não posso te dar essa chance. Não agora. Não posso fazer você passar por coisas que nem eu entendo ainda.

— Tudo bem. Quando estiver pronta. Mas eu não vou a lugar algum sem ter ao menos a chance de tentar.

Ele se afastou de mim com o rosto entristecido. Saí do quarto. Não é que eu não quisesse ficar com ele, eu queria e quero muito. Mas há algumas barreiras, como ter certeza de que ele não está mais obcecado pela Lina, assim como o meu câncer. Eu não queria uma chance de felicidade se fosse apenas por alguns meses. Eu a queria por completo. As lágrimas começaram a escorrer, embora eu tivesse jurado não chorar mais por essa situação. Fui para o setor dos funcionários e, no banheiro, em um canto, chorei. Ele estaria mesmo ali por mim? Suas palavras foram tão verdadeiras. Como faço para acreditar nele? Como faço para acreditar que também mereço essa chance?

Sentada ali no chão, ouvi o barulho de alguém entrar e sentar no chão da cabine ao lado.

— Falou com ele? – perguntou a voz da cabine ao lado.

— Mikaela? – perguntei.

— Quem mais seria? – respondeu com uma risada.

— Falei, mas as coisas estão complicadas. Não posso fazê-lo assistir à minha morte, mesmo que eu queira ficar com ele. Existem algumas barreiras.

— Eu entendo. Desculpe por ontem. Entendo que as coisas são complicadas. O que ele disse?

— Disse que está apaixonado por mim e que não espera que eu acredite nele.

Ouvi um silêncio. Mikaela saiu da cabine e abriu a porta da minha, dizendo:

— Aquele homem está apaixonado por você? – disse, de boca aberta.

— Ele disse que sim.

— E você disse o quê?

— Que não é o suficiente... - disse, limpando as lágrimas.

— Meu Deus, amiga... Bianca, você deveria contar a ele, para pelo menos ele poder escolher ficar.

— Não. Vou passar por isso sozinha. E se, no final, eu sobreviver, vou atrás dele...

— Isso é uma idiotice, pura besteira... Ele pode não ser o melhor, mas ele está aqui.

— Ele está aqui porque sou a segunda opção, e eu não confio nele. Não posso simplesmente me jogar nos braços dele e torcer para que tudo dê certo, Mikaela! - respondi, levantando e ficando brava.

— Por que não?

— Porque não quero ter uma felicidade pela metade. E, por favor, não se envolva e nem diga nada a ele.

— Você está sendo injusta, Bianca. Ele merece pelo menos saber onde está se metendo.

— Essa decisão é minha.

Mais uma vez, Mikaela saiu com raiva de mim. Ela não entende como isso é difícil para mim, como é angustiante não poder estar lá em cima com ele. Porque eu poderia ficar com ele só para lhe dar a chance de me perder de novo, mas não, prefiro que ele sofra agora do que depois. É melhor a dor ser apenas minha.

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