Eu percebi

Passei os dias ansioso para poder voltar a Seattle, ensaiando minhas palavras todos os dias. Estava em busca dela, mas também fiquei preso na Austrália devido a um projeto. Eu havia planejado tirar férias e procurá-la, mas surgiram imprevistos com a empreiteira e precisei resolver tudo antes de partir. Foram necessárias duas semanas para finalmente resolver todos os problemas, mais de um mês desde que encontrei Apolo.

No avião, a caminho de Seattle, tentei procurar pelas redes sociais de Bianca, mas ela havia desativado todas as suas contas. Não conseguia ver como ela estava. Me agarrei à ideia de que, mesmo que ela me rejeitasse inicialmente, tudo ficaria bem.

Cheguei em Seattle e avisei a Apolo que estava a caminho. Pedi para que ele pedisse a Bianca para preparar o quarto para a minha chegada, para que pudéssemos ter um momento a sós e eu pudesse finalmente expressar as palavras que estavam presas em minha mente. Demorou um pouco para chegar ao hotel, mas quando finalmente cheguei, fui recebido por Apolo.

— Acredito que hoje ela esteja melhor do que nos outros dias. Ela está arrumando a sua suíte.

— Tem certeza de que ela não sabe que esse hotel é meu?

— Tenho certeza. Pedi a todos para evitarem mencionar o seu nome. Ninguém entendeu por quê, mas todos acataram a orientação.

— Obrigado, Apolo. Mas como você a encontrou? Você não mencionou isso durante a ligação.

— Você demorou uma semana para me retornar, então achei que não precisava lhe dar todos os detalhes por telefone. Foi a Mikaela quem a trouxe aqui. Parece que são amigas. Eu a reconheci assim que a vi, mas fiz questão de não mencionar que você estava atrás dela. - ele disse rindo, e eu retribuí o sorriso.

— Vou subir... Obrigado novamente…

Eu disse, segurando seu ombro, e agradeci a Apolo. Em seguida, entrei no elevador e segui para o quarto. De repente, o corredor pareceu interminável. Senti um frio na barriga, algo estranho. Quando estava prestes a entrar no quarto, meu advogado ligou e informou que Deive não abriria um processo contra mim pelas fotos vazadas. Respirei aliviado ao receber essa notícia, talvez ainda houvesse uma chance de nos resolvermos um dia.

Ao adentrar o quarto, deparei-me com ela. Estava linda em seu traje social, que realçava suas curvas. Usava sapatilha, e seu cabelo loiro estava um pouco mais escuro. Ela me olhou com espanto, como se não esperasse me encontrar ali. Percebi o silêncio dela e tentei iniciar uma conversa, mas, como era de se esperar da Bianca, ela não queria ouvir. Não posso acreditar que, ao segurar sua mão, me veio à mente aquela noite na boate, quando ela saiu determinada, puxando sua mão da minha. Eu sabia que não seria fácil. A observei sair e me perguntei se deveria segui-la. Mesmo assim, fui atrás dela com calma e a vi entrar no armário.

Fiquei parado em frente à porta, pensando nas palavras que deveria dizer para confortá-la e fazê-la parar de chorar. Mas vamos admitir que eu não sou muito habilidoso nessas coisas do amor. Até dois meses atrás, estava obcecado por uma mulher que não me queria por mero ego e capricho. Eu não sabia o que era sentir essas coisas de verdade.

Eu tentei falar quando a porta se abriu novamente, mas ela não me ouviu. Ela fez questão de me lembrar das suas palavras da última vez que nos vimos e saiu, deixando-me ali. Eu sabia que ela pediria para ir embora, mas não sabia como dizer a ela que eu me importo, que estou ciente dos seus problemas e que quero ajudá-la a resolvê-los. A maneira mais eficaz que encontrei foi iniciar um discurso na frente de um grupo de pessoas que eu nem conhecia e, sejamos francos, que eu não me importo. Se não fosse por ela, eu nem estaria ali. No entanto, mesmo depois de dizer que me importo, ela me olhou com desprezo e passou por mim.

A situação ficou estranha depois que ela saiu, mas Apolo conseguiu contornar a situação dizendo que me mostraria os outros funcionários que estavam no saguão. Eu não pude disfarçar meu olhar quando ela passou por mim. Eu sabia que conquistar a confiança dela seria um desafio enorme, e demonstrar meus sentimentos para Bianca seria um trabalho árduo.

Apolo me acompanhou até o quarto após uma breve pausa para eu conhecer os funcionários. Eu apenas sorria e balançava a cabeça, com a mente focada na imagem dela se afastando. Pelo menos ela continuava desafiadora, não querendo o dinheiro para sair da miséria. A Bianca de antes teria agarrado a primeira oportunidade para viver uma vida tranquila e confortável. Mas agora, ela anseia por amor, e eu quero lhe dar esse amor. No entanto, por que ela não quis me ouvir?

— Cara, você está bem? Passou o caminho todo sorrindo e acenando. Será que você prestou atenção em algo que eu disse? – perguntou Apolo, percebendo que eu estava perdido em meus pensamentos. Respondi, confuso:

— Na verdade, não estou muito bem. Por que ela não quis me ouvir?

— Se você não sabe, como quer que eu saiba?

— Na verdade eu sei porque ela não quer me ouvir, nosso último encontro não foi um dos melhores e eu disse coisas e ela também, mas eu tô aqui.

— Não sei o que dizer. Mas gostava mais da versão do Rafael que não se importava com os sentimentos de uma mulher.

Após a troca de palavras com Apolo, fiquei em silêncio, sentado em uma poltrona, com as pernas cruzadas. O que ele disse sobre mim parecia uma lembrança distante do que eu costumava ser. Como alguém pode mudar tanto? Apolo saiu do quarto, deixando-me sozinho, e uma pequena lembrança veio à mente. Bianca pensa que eu não percebi, mas quando ela passou a mão pelo cabelo, vi seu olhar fixo na pequena mecha em sua mão. Isso significa que ela começou o tratamento. Nunca imaginei que uma lágrima poderia se formar em meus olhos ao lembrar do rosto dela vendo o cabelo em sua mão. A dor em meu peito era intensa.

"De alguma forma, eu vou te ajudar, porque é injusto que não tenhamos nem mesmo uma chance de tentar", murmurei para mim mesmo, determinado a encontrar uma maneira de apoiar Bianca e fazer as coisas darem certo entre nós.

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