Ela está aqui.

Flashback...

— Deive, podemos conversar por um minuto?

Era Rafael, ele havia assistido todo o velório e enterro.

— Esperem no carro, já estou indo.

Deive deu um beijo em Lina e foi ao encontro de Rafael, enquanto todos se dirigiam ao carro.

— Estou ouvindo. Pode falar.

— Vim pedir desculpas por ter falhado na nossa amizade.

— Não vou te desculpar. Eu não sou a Lina, não vejo sempre o melhor nos outros.

— Não precisava se desculpar, mas estou pedindo mesmo assim. Fui covarde e a Bianca estava certa.

— Se é só isso, estou de saída.

— Não é só isso. Você sabe para onde a Bianca foi?

— Realmente está interessado nela, ou só quer brincar com os sentimentos dela?

— É possível que eu tenha me apaixonado. De alguma forma, os momentos que passei com ela foram intensos.

— Eu acredito que ela seja intensa, mas não acredito que você mereça ficar com ela.

— Certamente não mereço, mas essa decisão cabe a ela.

— Não sei onde ela está. Ela não disse para onde ia, e espero que você não a encontre.

Ouvir essas palavras da pessoa que considerava meu melhor amigo foi o que mais me machucou. Além de não saber se veria Bianca novamente, não sei se terei a chance de dizer a ela que sinto coisas por ela, que quero estar ao seu lado neste momento tão difícil.

Eu não culparia Deive por me odiar, considerando as coisas que fiz para prejudicar sua relação com Lina. É ridículo ter me apaixonado pela stripper que me provocava e me deixava na vontade. Após sair do cemitério, fui direto para a delegacia, pois não poderia deixar Nova York sem fazer algo bom pelo meu ex-amigo, que agora não era mais meu amigo. Cheguei à delegacia e relatei o que tinha presenciado: Alfredo tentando abusar de Lina no teatro. Depois disso, fui embora sem saber ao certo se tinha ajudado muito. Também assumi a culpa por vazar as fotos do casamento de Lina e Deive. Não podem me prender por isso, mas podem me processar. Estou disposto a assumir a minha responsabilidade.

Voltei ao Brasil para resolver os últimos detalhes do hotel que acabei de construir em Seattle. Estava pronto e eu poderia tirar umas férias para me concentrar apenas em encontrar Bianca. Retornei a Nova York e vi as notícias de que Alfredo havia sido capturado. Isso parecia bom. Queria ligar para Deive e dizer que agora ele poderia ter paz ao lado da mulher que ama, e que eu estava em busca da minha própria felicidade.

Viajei por várias cidades em busca de Bianca, mas não a encontrei. Ficava aflito por não saber como ela estava, se algo havia acontecido com ela, se ainda estava viva. Tudo isso causava um desconforto estranho em meu peito, uma sensação de impotência e de estar preso em um beco sem saída. Decidi procurar um amigo, alguém com quem eu era próximo, mas fazia um tempo que não o via.

— Apolo, e aí, cara?

— Faz um tempo que você não aparece em Seattle. Ou que não te vejo. - ele me cumprimentou com um abraço.

— As coisas têm sido corridas e complicadas.

— Cara, você é rico e bem-sucedido. O que poderia ser complicado na sua vida de playboy? – ele disse enquanto pedia uma cerveja. Eu me juntei a ele.

— Digamos que conheci uma mulher. Tornei a vida do meu amigo um pequeno inferno ao cobiçar sua companheira, enquanto a mulher que realmente desejo se perdeu e não consigo encontrá-la em lugar nenhum. - Tomei um gole da cerveja e ele riu.

— Isso só pode ser piada, certo? Desde quando você se apaixona?

— Desde que uma stripper entrou na minha vida e me deu um tapa na cara por chamá-la de prostituta. - Rimos juntos e então continuei. — Já faz uma semana que tenho percorrido várias cidades e não consigo encontrá-la. Preciso dizer a ela que me apaixonei, que fui covarde por não tê-la escolhido desde o início. Quem me conheceu antes diria que sou uma pessoa completamente diferente.

— Eu diria que você é uma pessoa completamente diferente. Como isso aconteceu? Quer dizer que, daqui para frente, você não vai mais aparecer aqui apenas para passarmos a noite com mulheres aleatórias e nos divertirmos a noite toda? - Ele disse com sarcasmo, rindo.

— A mulher do meu amigo viu algo bom em mim, mas ele disse que eu não mereço a Bianca. Quero ser uma pessoa melhor para ela. Só percebi que estava apaixonado quando Deive socou meu rosto e disse que Bianca está morrendo. Ela preferiu morrer a ficar perto de mim.

— Sério que ela não achou você a melhor das companhias? – ele continuou rindo.

— Parece que não…

Rimos juntos. Conheci Apolo quando vim para cá há dois anos para trabalhar no projeto do hotel. De certa forma, eu me sentia superior a ele, já que ele era pobre. Eu pensava que estava ajudando esse pobre coitado, dando minha amizade e pagando por noitadas e mulheres. Mas eu estava errado. Depois de tudo o que aconteceu, ele era a única amizade que me restava. Conversamos um pouco mais e mostrei a ele uma foto de Bianca, caso a visse em algum lugar. Ele me disse que estava desempregado no momento e procurando emprego. Foi quando decidi fazer algo por alguém além de mim mesmo. Disse a ele que meu hotel havia sido inaugurado e ofereci a vaga de gerente para ele. Ele seria responsável pela gestão das tarefas dos funcionários, já que não possuía muita formação. Ele ficou feliz com a oportunidade.

No dia seguinte, mostrei a Apolo suas responsabilidades e quem seria o encarregado de administrar o hotel, Amador, que seria responsável pelos hóspedes. Foi bom revê-lo, mas eu precisava ir atrás da minha dama. Apolo me disse que, se a encontrasse por aí, ligaria para mim.

Uma semana depois, recebi uma ligação de Apolo informando que Bianca estava trabalhando no meu hotel. Perguntei-me se ela sabia que o hotel era meu ou se simplesmente tinha ido para lá. Eu estava na Austrália resolvendo alguns negócios e não pude pegar o primeiro voo direto para Seattle. Tive que ter paciência e esperar até que tudo fosse resolvido para que eu pudesse ir encontrá-la. Apolo me disse que ela não estava bem, mas tentava parecer firme e que não havia informado ninguém no hotel sobre sua doença. Fiquei apreensivo e pensei:

"Mesmo que eu vá à falência, eu vou te salvar e não vou te perder novamente."

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