É injusto

Parada ao lado da cama, fiquei olhando para ele enquanto minha respiração ficava cada vez mais pesada. Eu não sabia o que fazer nem quais palavras poderia dizer a Rafael, até que ele falou.

— Bianca, como você está? - ele disse se aproximando.

— Com licença. - respondi, tentando sair do quarto.

— Bianca, espera!

Ele disse, passando na minha frente e ficando próximo a mim. Eu olhei nos olhos dele e não sabia o que fazer, então passei a mão pelo meu cabelo e senti uma pequena mecha entre meus dedos. Senti um leve pânico se aproximando.

— Tenho te procurado por todos os lugares no último mês. Por favor, podemos conversar?

Eu o encarei nos olhos e pensei: "Ele realmente veio atrás da segunda opção?"

— Sinto muito, Rafael, mas a prostituta não está disponível para você! — disse, sentindo as lágrimas querendo escapar. Ele segurou minha mão.

— Não diga isso.

Puxei minha mão e saí do quarto com o coração acelerado, tremendo. Ao olhar para minha mão, vi a mecha de cabelo. Em seguida, entrei em um armário de limpeza e desabei a chorar. Meu cabelo começou a cair, e o Rafael estava aqui. É aquele ditado, a calmaria antes da tempestade. Após alguns minutos chorando no armário, eu abri a porta e ele estava em pé do lado de fora.

— Bianca, eu te procurei durante todo o mês... Pode me ouvir? — Ele disse com as mãos nos bolsos, parando em minha frente.

— Sério, Rafael? Você passou um mês procurando pela prostituta barata? O que aconteceu? A Lina te rejeitou de novo? — Disse com raiva.

— Não estou apaixonado pela Lina... — Ele respondeu balançando a cabeça.

— E você é capaz de se apaixonar por algo além do seu ego? — Respondi, arrumando meu uniforme e saindo.

— Se me deixar falar...

— Não, Rafael, eu não quero ouvir nem ver você. Não ficou claro da última vez que nos encontramos? Não ficou claro que pedi para me deixar em paz? — Respondi, empurrando-o para longe e saindo.

Desço até o setor dos funcionários, não me sentindo bem. De repente, o dia escureceu e aquela dor voltou. Pedi ao Apolo para sair mais cedo, e ele concordou, já que eu havia trabalhado muitas horas na última semana. Mikaela me viu, e ela parecia ser a pessoa que mais me conhecia, mesmo tendo apenas um mês que nos conhecemos. Ela sabia que algo estava errado.

Enquanto eu pegava minhas coisas para ir embora, Rafael apareceu na porta do setor de funcionários. Eu o encarei, segurando minha bolsa e o blazer. Mikaela percebeu minha expressão de espanto e deduziu que eu o conhecia. Ele então entrou na sala, e Apolo o cumprimentou e apresentou todos os funcionários, incluindo eu, que fiquei em um canto da sala cheia de armários, olhando para ele e recebendo seu olhar de volta. Em seguida, ele fez um breve discurso.

"Quero agradecer a todos que estão trabalhando duro aqui para fazer este hotel crescer. Eu posso ter um ego enorme, mas reconheço o esforço de cada um de vocês, e quero deixar claro que estarei presente em todas as etapas de qualquer situação que surgir, porque eu me importo."

Eu sabia que essas palavras não eram dirigidas à equipe.

Flashback...

Rafael foi atrás de Bianca e pediu uma explicação do por que ela estava daquele jeito.

— Bianca, espera. Por que você está assim?

— Não quero falar com você novamente, Rafael. Vá embora.

Rafael segurou seu braço, sentindo seu coração apertar por alguma razão.

— Não vou embora até você me dizer o que está acontecendo com você.

— Agora você se importa? Até o dia em que o Deive se casou, eu era uma prostituta barata, e você fazia questão de me humilhar constantemente. Não precisa fingir, pode ir embora, vá lá ficar com sua obsessão.

Rafael sempre pensou que Bianca não se importava com as coisas que ele dizia, afinal, ela sempre o confrontava da mesma forma ou pior.

— Bianca?

— O que é, Rafael? Já ficou claro que sou inútil para você. Apenas vá embora.

— Por que está dizendo essas coisas?

— Será que é mentira?

— Pare com isso, Bianca. Você não é inocente, sempre me disse coisas terríveis, e eu não estou aqui choramingando.

— Você é um babaca. Não entende nada sobre mulheres. Acha que o mundo gira ao seu redor só porque tem dinheiro, e que todos devem se curvar a você. Acorde, Rafael, existem pessoas com problemas de verdade, além de apenas uma mulher que você não conseguiu comer, enquanto seu amigo a comeu e até se casou com ela.

— Uau, Bianca!

— Apenas me deixe em paz e vá embora!

— Se é isso que você quer.

Essa lembrança me fez querer chorar. Foi a última vez que nos vimos. Enquanto ele terminava seu discurso, uma breve lembrança do que aconteceu passou pela minha mente. Peguei minhas coisas e passei por ele, sentindo seu perfume. Por um momento, quis parar, mas continuei caminhando, mantendo minha determinação. Não havia como eu e Rafael dar certo. As coisas já começaram de forma errada, e agora ele estava aqui. O que ele pensa que eu sou? Uma segunda opção só porque foi rejeitado novamente pela mulher que ele queria? Não vou me sujeitar a esse papel. E o que ele quis dizer com "não estou apaixonado pela Lina"? Uma onda de lágrimas tomou conta de mim e, dessa vez, não consegui contê-las. Segui meu caminho para casa entre as lágrimas.

Ele estava tão perto. Será que ele sabe o que está acontecendo comigo? Será que Deive e Lina contaram a ele, e por isso ele está aqui? Então, não seria amor, seria pena. E uma facada perfurou meu coração. Por que eu me apaixonei por ele? Por que me permiti ser tocada e beijada por ele? Por que vou acabar morrendo sozinha? São tantas perguntas sem resposta. Mas eu gostaria que ele tivesse se apaixonado por mim. Gostaria de ter a chance de ser amada. Mas ele é um babaca, e o que ele quis dizer com "eu me importo"? Seria comigo? Acho que não deveria estar me fazendo essas perguntas. Por que você veio, Rafael? Seria apenas para se divertir?

Cheguei em casa e me joguei na cama, as lágrimas caindo. Em voz alta, eu disse:

"É injusto você estar aqui, quando sei que nunca te tive. É injusto eu estar à beira da morte e apenas sentir dor no peito, que não é causada apenas pela doença que está me matando."

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