Hotel mirage

Eu acordei cedo depois de adormecer em meio às minhas lágrimas. Fiz um rabo de cavalo no cabelo e vesti uma roupa discreta. Eu não tinha muitas opções, mas acabei escolhendo uma calça jeans e uma blusa salmão, além de um tênis preto. Peguei uma bolsa e fiquei esperando Mikaela aparecer na porta. Alguns minutos depois, ouvi alguém batendo na porta, era ela.

— Está pronta? - perguntou, olhando-me de cima a baixo.

— Não julgue pelo que vê. É o melhor que tenho para uma entrevista de emprego. – respondi com firmeza.

— Sério? O que você fazia antes de vir para cá? – perguntou com sarcasmo.

— Eu era stripper. — respondi, deixando-a chocada.

— Ah, isso eu não esperava. – respondeu, surpresa.

— Podemos ir? – a apressei.

Saímos em direção ao Hotel Mirage. Quando ela mencionou o nome, me pareceu familiar, mas eu não conseguia lembrar exatamente onde já tinha ouvido falar dele. Ignorei a sensação de que algo ia acontecer ou a corrente que me puxava para aquele lugar. No caminho, conversamos um pouco mais e ela me contou que morava em Seattle há dois anos, seus pais haviam falecido e ela estava sozinha. Estava cursando Arquitetura na faculdade e por isso queria muito trabalhar no Hotel Mirage, pois o homem que o construiu era renomado e o melhor na área. No entanto, ela não mencionou o nome dele, apenas disse que ele era um playboy. Naquele momento, eu não conectei os pontos. Ela também mencionou que era apaixonada por música e gostava de ler nas horas vagas. Não havia muito o que contar sobre mim. Já havia dito o que precisava dizer e evitei tocar em certos assuntos, como Rafael, Lina e Deive, então evitei falar muito sobre mim.

Chegando ao hotel, ela me apresentou ao gerente, Apolo. Ele era alto, de pele morena, cabelos castanhos e olhos verdes. Seu terno barato destacava seus músculos, e ele tinha uma expressão séria. Ele foi muito educado e me explicou sobre a vaga e minhas responsabilidades. Basicamente, eu seria responsável pela limpeza dos quartos e arrumação das camas, além de prestar serviço de quarto, se necessário. O salário seria de quinze dólares por hora, e quanto mais horas eu trabalhasse, maior seria o pagamento semanal. Eu teria direito a folgar até dois dias por semana, o que era perfeito para conciliar com meu tratamento. Quanto aos horários, poderia escolher entre o turno diurno ou noturno, ficando a meu critério.

Após sairmos do Hotel Mirage, Mikaela decidiu ir comigo até o centro de tratamento contra o câncer. Ela queria estar ao meu lado, e eu não entendia bem o motivo. Ela não precisava ser gentil comigo, afinal, mal nos conhecíamos. Mas confesso que era reconfortante ter alguém ao meu lado sem saber sobre as coisas que já fiz. No centro de tratamento, disseram que eu precisaria fazer novos exames e uma nova biópsia para verificar se a doença estava progredindo rapidamente e, assim, iniciar a quimioterapia o mais rápido possível.

Os exames acabaram sendo mais caros do que eu imaginava. Com todas essas despesas, meu dinheiro só duraria por dois meses e meio. Um embrulho se formou em meu estômago e acabei vomitando em uma lata de lixo próxima à recepção. Os sintomas estavam começando a se manifestar mais intensamente. Eu precisava comprar os remédios prescritos pelo médico para tentar controlar a náusea. Novamente, a vontade de chorar me atingiu, mas segurei as lágrimas até chegar em casa e poder desabar quando estivesse sozinha. Mikaela segurou meu cabelo enquanto eu vomitava e olhei para ela com os olhos cheios de lágrimas.

— Obrigada por isso... – murmurei com a voz embargada.

— Não tem de quê, pelo menos não é um vômito de ressaca... – ela disse com um sorriso, e eu retribuí.

Nós saímos do centro e eu queria ir direto para casa, mas Mikaela insistiu em passar em algumas lojas para comprar talheres, pratos, copos e panelas. Também fomos ao mercado para comprar comida antes de irmos para casa. Ao chegarmos em casa, eu estava cansada e sentindo dor. Tudo o que eu queria era minha cama e chorar. No entanto, a vizinha intrometida não me deixava em paz. Eu entendia que ela estava tentando ser simpática e me ajudar, mas naquele momento só queria ficar sozinha.

— Obrigada por passar o dia comigo, Mikaela, mas eu preciso descansar. – Tentei ser educada ao expressar meu desejo de ficar sozinha.

— Tudo bem, eu entendo que você quer ficar sozinha. Amanhã podemos ir trabalhar juntas, se quiser.

Ela saiu e eu apenas confirmei com a cabeça. Tomei banho, troquei de roupa e decidi que precisava arrumar a casa. Era uma forma de relaxar e tentar esquecer tudo o que me afligia. Depois de limpar dois cômodos e uma pequena varanda, organizei as compras e preparei panquecas para o jantar. Sentei-me à mesa da varanda e refleti sobre como eu havia chegado àquela situação, sobre o mal que tentei causar a duas pessoas que se amavam e o quanto meu coração tolo ainda pensava naquele idiota. As lágrimas voltaram a escorrer, mas dessa vez a brisa fria do vento parecia tentar secá-las.

Fui para a cama, adormeci rapidamente e acordei com o sol batendo em meu rosto. A manhã estava fria, mas ensolarada. Ao ver aquele brilho, decidi que não choraria mais. Eu ia dar um jeito na minha vida, mesmo sabendo que estava morrendo. Iria procurar algo para estudar, trabalhar. Não desistiria. Iria fazer valer a pena, mesmo que fossem meus últimos meses na Terra. Levantei, tomei banho, me arrumei e fui cedo comprar meus remédios em uma farmácia próxima de casa. Voltei e peguei minhas coisas e uma xícara de café. Mikaela apareceu na minha porta, conforme combinado, e juntas fomos para o trabalho.

Já havia se passado um mês desde que eu tinha ido embora de Nova York para Seattle, e as coisas estavam indo relativamente bem. Eu tinha começado a estudar design de interiores e estava me saindo bem, apesar das dores e do cansaço. O trabalho no hotel não era tão exaustivo, era honesto e eu estava gostando da minha vida calma. Finalmente sentia que estava vivendo para mim, as coisas estavam se encaixando. Além disso, eu estava me aproximando da Mikaela, minha vizinha irritante. Estava realmente gostando de ter sua amizade. Sem falar que ela tem me acompanhado ao centro de tratamento, já que eu fico muito mal depois das sessões de quimioterapia. Eu digo a ela que não precisa ficar comigo, mas ela insiste que está lá porque gosta de mim e se importa. É algo novo para mim ouvir essas palavras.

Em uma quarta-feira, acordei me sentindo melhor do que em muitos dias. Algo estava diferente naquele dia, meu coração estava acelerado, mas pensei que pudesse ser por causa dos remédios. Fui trabalhar e, ao chegar lá, fui designada para limpar o quarto do dono do Hotel Mirage. Ele ia visitar o lugar e fazer algo relacionado ao hotel. Eu não sabia exatamente o que era, mas segui as ordens. Quando cheguei ao quarto onde ele ficaria, fiquei encantada. Parecia uma casa, com um design moderno em tons neutros. Havia uma sala exclusiva para a jacuzzi, uma sala de jantar, um escritório e uma cama enorme. Além disso, a vista da cidade era incrível. Havia até um closet, e me perguntei por que alguém precisaria de um closet daquele tamanho.

Enquanto eu arrumava o local e me certificava de que tudo estava impecável do jeito que ele gostava, alguém entrou pela porta falando ao telefone. Não consegui ouvir claramente sobre o que estava falando, mas reconheci a voz. Quando me virei, ele estava lá, me encarando, e minhas mãos ficaram geladas quando nossos olhares se encontraram. Senti um nó na garganta e fiquei sem palavras.

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Comments

Maria Izabel

Maria Izabel

Nossa é o Rafael 😳💓💓💓💓💓💓

2023-11-10

0

Jolie

Jolie

Manooooooo

2023-10-26

0

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