Entrar naquele táxi foi a coisa mais difícil que já fiz. Nunca imaginei que assumir minha culpa por tudo o que aconteceu com Lina e Deive me deixaria tão leve, mesmo com minhas chances de sobrevivência reduzidas. Tudo começou a fazer sentido em algum momento. Ouvir Lina dizer que me apaixonei por Rafael e eu não poder negar que gostaria que aquele idiota estivesse comigo, que se apaixonasse por mim, mas ele é obcecado por ela e adorava me chamar de prostituta, humilhando-me constantemente. Nunca imaginei que desejaria mais beijos dele. Que gostaria que ele me amasse. Não quero morrer sozinha e sem ter conquistado nada na vida.
Decidi pegar aquele táxi em frente à casa de Lina e partir, começar de novo em um lugar onde ninguém saiba quem sou, meu passado, Rafael. Deixar tudo para trás. Continuaria cuidando da minha mãe, mas teria que trabalhar o dobro para pagar meu tratamento e a clínica onde ela estava. Dessa vez, não escolheria o caminho mais fácil e não voltaria para minha vida de stripper. É possível ganhar muito dinheiro assim, mas depois de ser tocada por ele, não gostaria que nenhum outro me tocasse ou beijasse. Tentei duas vezes desse jeito e acabei aqui, sozinha, com uma estranha dor no peito, e não era por causa do câncer que estava me matando.
Cheguei à rodoviária e fiquei algumas horas no caminho para Seattle. Não me lembro exatamente quantas horas, mas lembro dos meus pensamentos voltando ao único momento em que me senti verdadeiramente conectada a ele, sem mentiras. A festa em que fomos em um encontro triplo, aquele momento em que nos beijamos e foi algo sincero.
Ao refletir sobre todos os momentos conturbados que vivi com ele, decidi guardar tudo em uma caixa nas profundezas das minhas memórias mais sombrias. Agora, tinha um novo foco: encontrar um emprego e lidar com o que realmente estava me matando. Descobrir que tinha câncer me deixou em estado de choque. Como eu ia conseguir me cuidar sozinha? Não é que nunca tenha me virado sozinha antes, sempre me virei, mas lidar com homens pervertidos me tocando e fazendo pole dance era uma coisa, passar por sessões de quimioterapia sozinha era outra. Ninguém estaria lá comigo, segurando minha mão e dizendo que tudo ficaria bem. As lágrimas em meu rosto são resultado de várias dores e angústias.
De repente, estava em Seattle, descendo do ônibus e respirando fundo.
“Ótimo, Bianca, você sempre esteve sozinha, consegue lidar com isso.”
Saí da rodoviária e fui direto para o meu novo lar. Eu vendi minha casa em Nova York e comprei um apartamento menor aqui. A sala e a cozinha eram integradas, com paredes azuis, e já vinha com um fogão e geladeira. Havia uma pequena bancada com azulejos pretos. No outro cômodo, encontrava-se o quarto com um banheiro. O quarto dava para uma pequena varanda que permitia uma boa visão do céu. Havia também uma pequena mesa de dois lugares nessa estreita varanda. Era aconchegante. Nem mesmo desfiz as malas, apenas me deitei na cama e desabei em choro e soluços, pedindo a Deus para sobreviver a tudo o que eu iria passar e estava passando. Pedi para que ele aliviasse a dor do meu coração partido, além das dores que o câncer estava começando a causar em meu corpo. Enquanto chorava, ouvi alguém bater na porta e pensei:
"Quem está batendo aqui a essa hora?"
Levantei-me e fui até a porta, secando as lágrimas. Ao abri-la, deparei-me com uma pessoa baixinha, de pele morena e cabelos lisos, com um sorriso simpático e um pote de comida nas mãos, que ela estendeu para mim.
— Olá, sou a Mikaela, sua nova vizinha. Como você chegou tarde e não ouvi barulho de entregador, trouxe um pouco de sopa para essa noite fria.
Eu a encarei, sem saber o que dizer, mas peguei o pote em suas mãos. Mikaela percebeu meu rosto inchado e rapidamente mudou sua expressão, continuando a falar.
— Está tudo bem? Desculpe se atrapalhei alguma coisa. — Mikaela perguntou, preocupada.
— Está tudo bem sim. Você não atrapalhou, na verdade me tirou do transe em que eu estava. Quer entrar e comer essa sopa comigo? — respondi, tentando ser gentil.
— Você tem pratos ou talheres? — ela perguntou.
— Na verdade, não. Acabei de chegar e ainda não comprei nada para a casa. — admiti.
Ela saiu por um momento, e fiquei confusa, pensando se talvez não tivesse sido tão amigável como pretendia. Quando eu ia fechar a porta, Mikaela voltou com talheres e dois pratos. Dei-lhe um pequeno sorriso e ela entrou. Sentamos na bancada e ela iniciou uma conversa. "Talvez eu devesse fazer amigos e ser um pouco mais aberta a novas pessoas", pensei.
— Por que está em Seattle? Aqui chove e é frio. — ela perguntou, fazendo uma pequena piada.
— Aqui fica um dos centros mais importantes de tratamento contra o câncer do país. Vim para tentar o tratamento lá. — respondi, sendo sincera. Ela pareceu surpresa.
— Você tem câncer?
— Sim, de mama. — respondi, sentindo vontade de chorar.
— Sinto muito. É uma doença terrível.
— Sim, é. Mas acredito que vou ficar bem, tenho que acreditar. Vou começar a quimioterapia para tentar reduzir o tumor e depois farei uma cirurgia para a remoção das duas mamas, a fim de evitar que ele retorne. Mas esse tratamento é caro. Eu tinha algumas economias e vendi minha casa em Nova York para vir para cá. Consegui um bom dinheiro com a venda, o suficiente para começar o tratamento por três meses. Só preciso de um emprego para juntar dinheiro para os próximos três meses. Resumindo, é isso. — Ela me olhava com tristeza.
— Você está sozinha aqui?
— Sim, estou. Não tenho família, apenas minha mãe, que está em uma clínica de reabilitação.
Mikaela respirou fundo e colocou o prato na bancada.
— Eu trabalho em um hotel aqui perto. Eles estão precisando de camareira, se você quiser. Embora eu deva admitir que você não parece se encaixar nesse trabalho, é bonita demais para isso. Mas pode ser mais fácil para você durante o tratamento. O hotel é novo e foi inaugurado por um playboy daqui, mas o salário é bom. — Ela estava me oferecendo ajuda. — Por que está me oferecendo ajuda? Acabou de me conhecer e eu não preciso de pena. — Respondi, tentando não ser rude.
— Não é pena, mas você precisa de um emprego, e onde eu trabalho precisa de alguém. — Ela me encarou.
— Está bem, amanhã irei lá ver se me contratam.
— Eu te acompanho. — ela disse, indo em direção à porta. Ela se virou para mim e perguntou: — Você ainda não disse seu nome?
— Bianca... — respondi, suspirando.
— Muito prazer, Bianca. Pode me chamar de Mika. Amanhã de manhã, eu te chamo aqui.
Ela saiu, eu fechei a porta, encostei a cabeça nela e as lágrimas voltaram a rolar. Pelo menos agora eu tinha um emprego, ou quase isso, já que precisava ir até lá. Voltei para cama, deitei e olhei para a janela. Meus olhos estavam pesados devido ao choro, e acabei adormecendo, relembrando dele e sabendo que nunca mais o veria.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Vilma Alice
É Bianca.Recomeçar a vida sozinha,doente e em um local onde não conhece nada e nem ninguém é realmente muito difícil mas,Deus não lhe abandonou.Ele mandou a Mikaela para lhe ajudar e cuidar de você.Tenha fé em Deus e a sua cura virá.
EU CREIO.
2023-12-08
1
Maria Izabel
muito difícil para Bianca pois o tratamento com quimioterapia e muito cruel as pessoas passam muito mal após as aplicações
2023-11-10
0