Capítulo 11

A madrugada estava sendo intensa na cabana, nenhum dos dois conseguiam dormir por conta dos acontecimentos recentes que aconteceram no festival. Lara por um momento até conseguiu, mas começou a rolar de um lado para o outro na cama até finalmente despertar toda suada e ofegante.

Hoje não seria diferente dos outros dias, já que pesadelos costumam ser frequentes em suas noites frias e solitárias. Ela fica um bom tempo sentada na cama no escuro, com a cabeça baixa de olhos fechados.

Lara - Oh, Deus!

Ela lamenta e tira a roupa para tomar um banho, já que o colchão, lençóis e a camisola que vestia ficaram umedecidos pelo suor, deixando seu corpo pregando. Ao ligar o chuveiro apenas fica ali recebendo toda aquela água fria sobre o seu corpo desnudo e quente, até que deu uma aliviada nos sintomas de angústia que sentia.

Ela sai do banheiro enrolada na toalha e abre a mala procurando por outra camisola ou simplesmente uma camiseta confortável para vestir.

Lara - Poxa, eu poderia ter trazido mais uma peça para dormir.

Lamentando, fechou a mala, olhou para a porta pensativa, pegou o traje suado e saiu do quarto a caminho da sala onde Rick estava deitado no sofá dormindo de barriga para cima, e dessa vez ele estava com camisa, Lara ficou mais aliviada e passou para a cozinha pois estava com sede.

Como a claridade do cômodo estava agradável, apenas a meia luz, Lara não queria acender a da cozinha e acabou não enxergando e chocou o copo nos outros, que emitiram um barulho de vidro trincando. Rick abre os olhos e olha na direção, enxergando apenas o vulto de Lara.

Rick - Tá tudo bem, aí?

Ela olhou para trás um pouco sem jeito.

Lara - Sim, estou.

Rick - Você pode acender a luz da cozinha se quiser, Lara! Como está conseguindo enxergar alguma coisa aí?

Lara - Não precisa Rick.

Ele sentou no sofá, pegou o controle e ligou a televisão.

Rick - Não está conseguindo dormir?

Ela andou até o meio da sala e parou.

Lara - É que os pesadelos não deixam.

Ele a olhou dos pés à cabeça, pois ela se encontrava de toalha.

Ao se dar conta que não estava vestida com trajes para dormir e sim de toalha, Lara ficou vermelha igual um pimentão e voltou para a cozinha e colocou a camisola na máquina de lavar junto com outras roupas que estavam separadas no canto para lavar.

Lara - Tá passando o que na programação noturna?

Falou do outro cômodo com uma voz um pouco mais alta, e também queria tirar a tensão que pairava entre eles.

Rick - Um filme de terror!

Lara - Você vai assistir?

Ela sorriu, pegou o sabão e virou o rosto para trás esperando a resposta dele.

Rick - É, parece que perdi o sono também.

Lara - Quando eu era adolescente costumava assistir filmes de terror todo final de semana com as minhas amigas da escola.

Ela liga a máquina colocando-a para funcionar.

Lara - Era bem divertido.

Ela pausa lembrando do passado com um sorriso de lábios fechados no rosto.

Rick - Sente saudades?

Lara - Sim, elas iam para a casa da minha avó e ficavam o final de semana inteiro, era muita resenha.

Rick - Imagino. (risos)

Lara - Hoje, cada uma seguiu a sua vida, tem filhos, outras não. Enfim, coisas da vida.

Rick - Quer uma camisa minha emprestada? Vejo que não tem mais nenhuma roupa reserva para dormir.

Ela cruza os braços na frente do corpo e anda até a sala novamente.

Lara - Eu agradeceria.

Ele levantou e pegou a mochila no canto, abriu e tirou uma camisa branca de malha, manga curta.

Rick - Toma!

Lara - Obrigada!

Ela pegou e adentrou o corredor, entrou no quarto para vestir. Mas quando ela colocou no corpo subiu um aroma agradável adentrando às suas narinas com força, ela arregalou os olhos e pensou em tirar. Na realidade, Lara não queria se acostumar com o cheiro dele, apesar de ser muito bom, tinha medo que a admiração por ele virasse algo bem maior, pois era impossível não se apaixonar por um homem como ele.

Ela respira forte e tira a camisa a jogando-a em cima da poltrona, pega a toalha outra vez e se cobre, sentando na pontinha da cama com os braços esticados e as mãos sobre as pernas.

Lara - O que foi isso?

Fitou a sua pele e passou a mão sentindo-se toda arrepiada e com bolinhas pelo corpo. Isso já era uma demonstração nítida que o Rick mexia com ela de uma maneira diferenciada.

Lara - Por que eu estou assim, porquê?

Essas sensações eram novas para a Lara, era uma jovem mulher de 25 anos que namorou apenas uma vez na vida, e o engraçado era que nunca sentiu essas sensações calientes, como se estivesse com o corpo chamas pelo Heitor.

Lara - Eu nunca o amei.

A ficha dela caiu.

Lara - Não era amor.

Ela fica com seus pensamentos longe, analisando sua última e única relação amorosa até o momento.

Lara - Para de pensar nessas coisas, isso que estou vivendo é apenas uma carona de um cara gentil que ficou com pena da minha situação naquele momento, e nada mais. Quando chegarmos à Califórnia ele irá voltar com a ex, porque ainda gosta dela, e eu continuarei a minha vida.

Ela tentava se convencer a si mesma que não era real essas sensações que estava sentindo. Lara fecha os olhos e passa mais uma vez a mão no braço sentindo os altos relevos do arrepio.

Lara - Ah...

Ela desencana e levanta-se, pega um lençol seco na cômoda e tira os outros, posteriormente deita e fica olhando para o teto mergulhada no dilúvio de seus pensamentos que insistiam em ter direção própria no que pensar e relembrar.

...

Quase 04:00h, e os créditos finais do filme começam a passar na tela preta com letras brancas na televisão, e junto tocava uma música nostálgica, Rick ressonava baixinho deitado no sofá.

🎵 Simon e Garfunkel - Sound of silence.

O som do silêncio (música) ecoava por todos os cômodos da pequena cabana, Lara escutava com os olhos lacrimejados, de repente meio sorriso brota de seus lábios e só então ela fechou os olhos, aquela música parece que acalmou seu coração e parou seus pensamentos, ela adormeceu.

...

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