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– onde você estava Victoria Saltzman?_ oiço a voz imponente de meu pai, enquanto tentava entrar o mais silenciosamente possível em casa, o que pelos vistos não funcionou.

Viro meus calcanhares o mais lentamente possível e então olho para ele que de braços cruzados, me encarava parado próximo ao corredor que vai dar a cozinha_ eu estava no shopping, precisava comprar um celular novo_ dei de ombros.

– você estava comprando um celular até as 19:38?_ seu tom de incredulidade estava nítido, e internamente revirei os olhos.

– eu estava comprando um celular sim, mas decidi parar na praça de alimentação, por isso demorei_ forcei um sorriso e ele continuou me analisando_ posso ir agora?_ pergunto impaciente.

– amor?_ a voz de Claire, esposa de meu pai, soa e ouço seus passos, se transformando em minha deixa para subir as escadas e ir para o quarto.

Ao adentrar minha fortaleza, finalmente largo minha mochila em seu devido lugar, coloco meu novo celular sob a cômoda e o conecto no carregador, tomo um banho e me troco, depois aproveito para ficar deitada na cama e não fazer nada.

Um momento depois, escuto batidas na porta e o aviso de que o jantar estava servido, por isso me levanto e desço as escadas para seguir até a sala de jantar. Estavam todos a mesa, meu pai, Vince e Claire, então tomo o meu lugar e me mantenho em silêncio enquanto os mesmos conversam e se servem.

– como foi o dia de vocês?_ meu pai pergunta depois de um tempo em silêncio_ Vince?_ olha para o mesmo, que não queria falar nada, mas ao ouvir seu nome, sem levantar o rosto de seu prato, ele responde:

– o meu dia foi bom_ e terminou por aí, deixando o mais velho com uma certa cara de tacho.

– e você Vicky?_ sua atenção é direcionada para mim, e mesmo sem olhar para seu rosto, sei que ele me encara esperando sua resposta.

Por isso, mastigo o mais devagar possível e ao terminar o que estava em minha boca, sem vontade alguma respondo:_ bom_ e então volto a comer.

– bom? Só isso?_ ele insiste.

– sim, apenas bom_ dei de ombros despreocupadamente.

Ao perceber que não conseguiria puxar conversa com o Vince e nem comigo, meu pai se entretém em uma conversa com sua esposa e por vezes tentava incluir nós dois no papo, mas não dava certo e ele se contentava com a esposa, foi assim até que eu terminei de comer e me dirigi para o meu quarto. Preocupada com Zora, peguei meu celular e disquei o novo contato dela, enquanto ouvia chamar, me perguntava se as minhas explicações, os filmes que assistimos e tudo o que eu a instruí, estavam a ajudando a se adaptar ao meu apartamento, e se ela ao menos teria se alimentado com algumas das coisas que eu comprei para ela.

– hey, tudo bem?_ o pequeno objeto circular, que a mesma me implorou para levar, acendeu e pude ver a imagem da mesma.

– eu dei um celular para você usar_ reviro os olhos e sigo até a bola de cristal.

– isso aqui é mais prático_ ela sorri e acena para mim.

– você comeu?_ pego a bola de cristal e levo até a minha cabeceira, me sento na cama e então cruzo os braços.

– huhum_ ela assentiu_ eu estava indo agora ter meu sono de beleza e você?

– eu também vou dormir, amanhã tenho tanta coisa para fazer_ me deitei, tendo perdido a visão da mesma.

– ah, eu tenho uma surpresa para você_ falou animada.

– que surpresa?_ me levanto para poder olhar novamente para ela, mas em sua expressão, não tem como saber que surpresa é.

– até amanhã Vicky_ então ela desligou, ela nem sequer me deu tempo pra perguntar alguma coisa e já desligou.

Infelizmente, tenho certeza que essa garota está aprontando alguma coisa de errado, tipo, nem conheço ela a 24 horas mas ela já me mostrou que tem sérios problemas mentais e que sinceramente, não me vou livrar dela tão cedo, porém, ela me poderá ser de muita ajuda, quando eu for fazer da vida daquele idiota um inferno.

•••

Os olhares estavam focados em mim, enquanto eu seguia pelo corredor até meu cacifo, os alunos ficavam sussurrando coisas uns para os outros mas eu não estava ligando e nem tinha vontade alguma para tentar escutar o que era. Assim que terminei de pegar o que precisaria e deixar o que no momento era desnecessário, segui para sala e me sentei em meu lugar.

– Vicky?_ levanto o rosto para ver Bia me olhando trémula, esperando para ouvir o que eu queria explicar.

– eu quero que você me traga os planos da organização da feira, e que diga pra quem quer que o esteja organizando, que a diretora me colocou pra consertar os erros dela_ falei olhando para o meu celular e quando olhei para a mesma, ela estava acenando mais do que o necessário_ ah, e diga para aquela garota, a Fernanda acho eu, pra trazer os meus pincéis aqui_ novamente ela acena positivamente_ pode ir_ voltei minha atenção para meu celular enquanto a mesma se retirava da sala, e eu podia sentir o olhar de repulsa das amigas do Jay sob mim, me fazendo esboçar um sorriso de orgulho e continuar mexendo em minhas redes sociais.

Não demorou muito e o professor de literatura entrou na sala, cumprimentando todo mundo_ bom meus senhores, e senhoritas_ ele sorriu, o professor era bonitinho, mas não tanto pra ser digno de me chamar a atenção_ hoje teremos uma aluna nova_ ao anunciar isso, os murmúrios dos alunos começaram_ por favor, silêncio, e aqui está a nova aluna_ então a garota entrou na sala_ apresente-se por favor.

Só podia ser ela, Zora estava aqui e parecia apenas uma garota normal, pelo menos ela aprende rápido e sabe agir como um ser humano, mas por outro lado, que droga ela está fazendo aqui?_ meu nome é Zora Fairywood, tenho 18 anos e me mudei faz poucos dias para a cidade_ a mesma se apresentou e seguiu para se sentar em uma cadeira bem do meu lado.

– está fazendo o que aqui?_ sussurro para que apenas ela me escute.

– vim te ajudar_ sorriu orgulhosa de si mesma, e só não retruquei porque o professor começou a aula dele e eu foquei minha atenção na mesma.

Aula vai, aula vêm, finalmente o sino tocou e o intervalo nos foi presenteado. Cada aluno se levantou e se retirou da sala em silêncio (mentira, ninguém estava em silêncio), era barulho para todo o lado, desde vozes, risadas e até o som das cadeiras sendo afastadas pelos alunos.

– vamos para casa, finalmente_ Zora se levantou aliviada e sem conseguir me conter acabei rindo da inocência da mesma_ tá rindo de que?_ me olha intrigada.

– doce e inocente Zora_ analisei minhas unhas enquanto falava com certo deboche_ ainda falta a outra metade do período_ me levanto da cadeira e ela me olha incrédula.

– esse lugar ocupa 50% do vosso dia?_  sua indignação era super evidente.

– do NOSSO dia_ a corrigi enquanto ela vinha atrás de mim_ você quis se meter nessa alhada, então vai ter que se referir ao nosso dia, porque agora o seu também vai ficar preenchido por aulas_ dei de ombros, seguindo despreocupadamente até o refeitório, enquanto a morena atrás de mim, olhava em todas as direções e não parava de tagarelar sobre as coisas e suas funcionalidades.

Fizemos os nossos pedidos, ou melhor, eu fiz os nossos pedidos e depois seguimos para a quadra de tênis, onde mesmo sob relutância da fada, nos sentamos para comer, pois Lenny, Jay e o pessoal, estavam sentados na mesa principal e Zora estava mesmo a fim de ir lá, se sentar e causar algum caos na vida daquele povo patético e idiota.

– porquê você me tirou de lá?_ reclamou se sentando do meu lado_ eu queria preparar super partidas para o garoto_ cruzou os braços indignada.

– ao invés de você querer causar um escândalo, pode me ajudar com a minha vingança_ sorri de canto.

Um sorriso animado preencheu seu rosto_ então você se decidiu?_ seu tom de voz condizia demais com seu sorriso.

– eu pensei muito e então cheguei a conclusão de que ninguém mexe comigo e sai impune_ dei de ombros e me foquei em meu lanche.

– e quais são as ideias? Maçã envenenada? dedo picado?_ o sorriso em seu rosto se alargou ainda mais, porém minha indignação ficou evidente pela careta que fiz, enquanto um pergaminho e uma esferográfica surgiam do seu lado e começavam a anotar alguma coisa.

– não use magia em público_ suspiro_ e sério? Maçã envenenada?_ reviro os olhos_ por favor, actualiza seu portfólio garota_ reclamo e ela faz um muxuxu decepcionada.

– me dê uma ideia então_ cruzou os braços.

– eu tenho a ideia perfeita pra um começo_ sorri_ mas vou precisar da sua ajuda, considerando que eu tenho que ir pro meu treino de balé_ dei de ombros e a mesma assentiu freneticamente aceitando o meu plano, sem nem mesmo saber qual era.

•••

O meu ensaio de balé foi esgotante, a noite, secante, tive que passar meu tempo inteiro, me perguntando se o meu plano tinha dado certo, se Zora tinha conseguido fazer o que eu a instruí com precisão, ou se tinha realmente resultado na perfeição e eu podia finalmente começar a me vingar de Jay.

Ao amanhecer, me arrumar, tomar o café e ainda seguir para o colégio, meus pensamentos continuavam correndo para a pergunta sobre o início de minha doce e querida vingança. Por sorte, minha última aula antes do intervalo principal seria cálculo avançado e eu compartilhava tal aula com o mesmo, por isso quando vi ele com uma touca no cabelo seguindo para a sala, um enorme sorriso preencheu meu rosto.

– como sabemos se deu certo?_ Zora sussura do meu lado, depois de guardar seu material em seu cacifo e se aproximar de mim perto do meu.

– calma meu docinho_ sorri e fechei meu cacifo depois de pegar o necessário_ pode deixar que eu trato disso_ seguimos para a sala e lá nos acomodamos em nossos lugares.

Após a entrada do professor, Jay não tirou a touca e ainda não consegui ver se estava correndo do jeito que eu queria por isso, eu levantei a mão e o professor logo focou sua atenção em mim, assim como toda a turma.

– professor, segundo o código de estudantes do colégio, no número e secção b, não é proibido usar qualquer coisa que cubra nossas cabeças durante as aulas?_ falo despreocupadamente.

– sim senhorita Saltzman, mas onde quer chegar com isso?_ ele arqueia a sobrancelha.

– me parece que há um breve descumprimento dessa norma_ dou de ombros e o professor percebe do que falo depois de uma breve varedura de olhos nos alunos.

– senhor Goldberg, pode por favor retirar essa touca na minha aula?_ fala seriamente para o mesmo.

– erh, eu..._ Jay é interrompido.

– agora se faz favor_ Jay suspira mas logo obedece e a cena que vejo é um tanto que surpresa, mas satisfatória na mesma.

Eu dei para Zora tinta verde para colocar no shampoo dele, mas sua cabeça estava colorida igual um arco-íris, com tantas cores diferentes e até brilhantes_ eu achei que verde era sem graça, arco-íris é melhor_ Zora sussura no meu ouvido, e várias risadas são escutadas na turma.

– acho que uma das my little pony ficou para trás_ um dos garotos do Fundão fala em meio a gargalhadas e todo mundo acompanha.

– o colégio passou a aceitar as guerreiras do arco-íris_ outra voz zoou.

– parem_ o professor pediu mas ninguém obedeceu.

– guerreiras do arco-íris nada, é a própria princesa arco-íris_ mais alguém zoa e as risadas não pararam de ecoar.

Quando as risadas pareceram diminuir, Zora se levantou e todos a olharam meio confusos, até eu mesma. A fada caminha até Jay e com uma carinha de inocência, a mesma estende um lápis que na ponta tinha uma estrela.

– toma, você precisa mais disso do que eu_ o garoto a olha confuso_ afinal, todas as fadas tem uma varinha mágica_ e todos voltaram a rir, até mesmo o professor quase riu, mas se conteve e repreendeu todo mundo por estar fazendo bullying com Jay.

Assim que todos se calaram a aula prosseguiu, mas não deixei de notar o olhar furioso de Jay sob mim, me fazendo piscar para ele e logo voltar minha atenção para a aula.

•••

– foi você não foi?_ Jay veio até mim antes que eu saísse da turma e depois que o professor saiu_ você fez isso com meu cabelo?_ me olhou decepcionado e aqueles olhos cor de mel me transportaram para memórias boas, memórias que eu queria guardar, mas que descobrir o que ele realmente pensava de mim as fizeram se transformar em pó.

Afasto os pensamentos idiotas e no meu rosto um sorriso debochado surge_ que foi? Agora além de perseguidora sou pintora de cabelos?_ cruzo os braços.

– você misturou as tintas no meu shampoo não foi?_ sua expressão lentamente se transformou de decepção a irritação.

– porquê eu faria isso?_ o sorriso em meu rosto dizia totalmente o contrário.

– você é tão infantil, qual é seu problema garota?_ segurou meu braço com força, a medida que a irritação virava raiva.

– você é quem está me agredindo na frente de vários estudantes, e me acusando sem provas_ a calma em minha voz tinha a capacidade de o irritar ainda mais.

– Jay para, não vale a pena_ Sean o segurou mas o mesmo parecia não escutar.

– é isso mesmo que ela quer Jay_ Heidi falou perto do mesmo e eu sorri ainda mais para o mesmo, para depois ter meu braço solto de seu aperto.

A parte antes em aperto estava vermelha então analisando o local, voltei minha atenção para o garoto que seguia com os amigos para a saída_ James_ ele me ignora_ sabia que agressão da expulsão?_ pergunto sugestiva e o mesmo se vira para me ver sorrindo enquanto caminho para a porta de saída_ fica esperto mocinho_ passo por ele e vou até Zora que observava tudo da porta.

– nossa_ ela fala boquiaberta_ você é tão cruel garota_ seus olhos brilharam, literalmente brilharam ao olhar para mim_ porque você se arriscou assim falando que ele usava toca?_ me perguntou curiosa.

– porque nada é pior do que você saber quem fez isso mas não ter como provar_ sorrio vitoriosa_ já agora, vamos almoçar, estou faminta_ seguimos em direção ao refeitório.

– eu tenho tanto para aprender com você_ falou animada_ dessa vez a vitória foi sua_ ela fez uma pausa mas logo soltou um gritinho_ olha só, a vitória foi sua, Vitória_ falou pausadamente como todo mundo que espera que você entenda as piadas bobas o faz, e ao olhar para seu rosto, o sorriso parvalhão que esse tipo de piada traz estava presente me fazendo soltar um suspiro de indignação.

– você parece tão... adolescente_ sorri orgulhosa_ está indo bem_ dei de ombros continuando nosso caminho em busca de comida pra me reabastecer.

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