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– você está maluca?_ pergunto indignada.

– onde eu estou, que magia negra era aquela?_ a garota ou mulher, perguntou confusa e assustada, me fazendo revirar os olhos.

– garota do campo_ falei frustrada_ lá na sua vila não tem carros?_ arqueio a sobrancelha, cruzando os braços.

– o que são carros?_ seu olhar, emana curiosidade, mas minha paciência inexistente, me faz a ignorar.

– tanto faz, adeus_ começo a caminhar para longe dela, em direção ao meu apartamento sem olhar para trás.

Adentro o edifício e espero o elevador chegar, quando ouço o porteiro praticamente gritando com alguém, e me viro para ver quem era essa pessoa de tão baixo escalão, para que até um simples porteiro, gritasse com ela.

– eu não acredito_ reviro novamente os olhos, ao ver aquela garota maltrapilha na entrada do prédio.

– saía da frente_ a garota diz e estranhamente, o porteiro cai no chão perto da parede, saindo de seu caminho sem ela tocar nele, e aí ela vem até meu encontro_ olá de novo mocinha_ ela sorri para mim.

– o que você quer? Por que me seguiu?_ falo irritada.

– você me salvou, eu te devo a minha vida_ continuou falando com um sorriso nos lábios.

– não me interesso por sua vida, você não me deve nada, vá embora_ o elevador se abre e eu entro, mas a peste entra junto_ o que você quer?_ quase grito.

– te ajudar, eu sinto raiva e ódio crescendo dentro de você e isso me deixa fascinada_ se animou e eu soltei uma risada, sem humor algum.

– 99% das pessoas possuem ódio e raiva, vá atrás delas então_ cruzo os braços.

– não, eu quero você_ ela toca em meu braço e sinto uma descarga elétrica percorrer todo meu corpo, várias passagens de minha vida apareceram em minha mente, momentos marcantes e até cenas de quando eu era muito nova voltam para minha memória, incluindo coisas que eu nem devia me lembrar de tão pequena que eu era.

– ME SOLTA_ grito afastando meu braço de seu toque_ quem você acha que é pra colocar suas mãos em mim?_ pergunto enraivecida.

– bom Vic Saltzman, eu sou a Zora_ faz uma vénia_ a fada das vilãs_ um sorriso perverso aparece em seu rosto, e no mesmo instante, as roupas maltrapilhas que ela usava, se tornam limpas e um pouco melhores, mas não deixam de ser inadequadas para esse lugar.

– o que?_ a encaro confusa e incrédula, talvez hoje eu tenha tomado algum comprimido e esteja alucinando, isso explicaria muita coisa que me aconteceu hoje.

– isso mesmo meu docinho, e nossa eu acho mesmo que você precisa da minha ajuda, sua vida é uma lástima_ falou despreocupada.

– primeiro, como?_ apontei para seu corpo, perguntando silenciosamente como ela havia consertado a própria roupa_ e segundo, como?_ a incredulidade era muito evidente em meu rosto_ eu não estou acreditando no que meus olhos vêem, eu devo estar alucinando ou enlouquecendo_ esfrego meus olhos com os punhos cerrados.

– eu sou uma fada, posso fazer alguns truques, incluindo esse_ se referiu a consertar a roupa_ e também posso ajudar você com seus problemas, tal como fiz com outras garotas, belas e atoladas de problemas, tal como você_ sorriu e, sabe aquele momento dos filmes e contos de fadas, em que uma melodia começa a tocar no fundo? Pois bem, uma melodia, vinda de sabe-se lá onde, começou a soar.

♪ se você desejar...♪

– eu dispenso_ interrompi a cantoria, mal ela começou, entrando no meu querido apartamento.

– ei, eu nem sequer cheguei no refrão_ reclamou.

– não estamos em um musical_ me joguei preguiçosamente no sofá_ além disso, não estou interessada em sua propaganda_ procuro em minha mochila, por meu celular.

– ah qual é, uma música sempre convence as pessoas_ cruzou os braços emburrada_ você é pior que eu, tão amargurada_ reviro os olhos, me focando em procurar o contato de Kimberly, uma "amiga" digamos assim, que sabe sempre quando tem corridas de rua, seja de carros ou de motos, as quais as vezes, secretamente participo_ ei, presta atenção em mim_ fez birra me fazendo mais uma vez revirar os olhos_ qual é o seu problema?_ puxou o celular da minha mão.

– ei_ tentei pegar o aparelho, mas a mesma já havia se afastado.

– que coisa esquisita é essa?_ perguntou olhando curiosa para o meu celular, me fazendo soltar um suspiro e voltar a me jogar no sofá.

– olha, eu não estou tendo um bom dia, então por favor, devolva o meu celular_ falei calmamente.

– me fala qual o seu problema eu posso ajudar, sabe, se você não escutou eu sou uma fada_ sorriu, ainda com meu celular nas mãos_ já agora, pra que serve isso?_ começou a clicar descontroladamente em meu celular.

– ei, para com isso_ me levantei bruscamente, após escutar o som de uma chamada iniciada e corri para perto dela, tomando o aparelho de suas mãos_ que droga_ falei após notar que ela discou o contato de algum idiota e infelizmente, quando estava prestes a desligar, o garoto atendeu a ligação.

Isso me impediu de desligar a chamada? Não! Eu não me importei com isso, e desliguei a chamada sem dizer uma palavra sequer, pegando toda a mínima educação que possuo e a jogando ralo abaixo.

– não volte a fazer isso_ a repreendi irritada, e foi vez dela revirar os olhos para mim.

– minha nossa, qual é o seu problema, desde que conheci você eu só ouço reclamação e chatice, quantos anos você tem? 100?_ debochou se jogando de qualquer forma no sofá.

– o que você quer?_ cruzei os braços.

– agora sim, você fez a pergunta certa_ sorriu se sentando melhor no sofá_ eu preciso voltar para a minha dimensão, e para isso eu vou precisar da sua ajuda, ou melhor, de ajudar você a alcançar a felicidade_ sorriu.

– ta me zoando?_ pergunto indignada_ pede outra pessoa, eu sou feliz o bastante_ forcei um sorriso e me virei seguindo para a cozinha.

– acho que você não entendeu_ ela veio atrás de mim_ eu tenho que ajudar você, especificamente você_ cruzou os braços enquanto eu bebia um pouco de água.

– porquê eu?_ passei as costas da mão pelos meus lábios pra poder limpar as gotículas de água que tinham sobrado.

– porque sabe, naquele momento em que eu segurei seu braço e tal, eu acabei fincando sem querer uma ligação de fada madrinha e protegida com você_ forçou um sorriso me fazendo a olhar indignada.

– O QUE?_ gritei_ como você foi fazer uma coisa dessas, pra que? Ah meu Deus, você só pode estar brincando comigo, que droga_ comecei a andar de um lado para o outro.

– e tem uma coisa, se eu não conseguir ajudar você a alcançar a felicidade, eu não poderei voltar para a minha dimensão e você não vai se livrar de mim_ parei de andar e me virei para ela.

– aí minha nossa_ usando o dedo indicador e o polegar, massagiei minhas vistas, mas foi uma péssima ideia pois minhas lentes de contato quase saíram_ ok, então você está dizendo que, eu tenho que te aturar até que você consiga ir para sua "dimensão"_ fiz aspas com os dedos_ e enquanto você estiver aqui, você irá fuxicar na minha vida, achando que eu preciso achar a felicidade?_ a encarei acenando com a cabeça_ ok, você pode me passar essa garrafa de água?_ pedi e então a mesma me passou a garrafa de água_ oh, que estranho, isso me fez feliz, que legal, agora você pode vazar_ sorri.

Ao olhar para ela, a mesma me encarava incrédula e isso quase me fez rir, mas me contive_ não é assim que funciona_ falou indignada_ não é tão simples assim, você não pode fingir felicidade_ cruzou os braços.

– se eu bem me lembro, você disse que era a fada das vilãs, agora porque está vindo com esse papinho de felicidade? Ou melhor, eu nem sequer sou uma vilã, porque tenho que te deixar fuxicar na minha vida?

– aff Vicky, só alinha nessa que ao fim, ambas sairemos vitoriosas, que tal?_ revirou os olhos.

– pela primeira vez, eu tenho que concordar com você, mas enfim_ segui de volta para sala_ se vamos fazer isso, vamos ter umas regras básicas_ me sentei no sofá e peguei meu celular.

– pode me passar um pergaminho e uma pena para que eu anote nossas regras?_ se sentou na poltrona próxima a porta.

– toma_ passei um caderno e uma esferográfica para ela.

– o que é isso?_ olhou enojada para meu material_ eu pedi uma pena e um pergaminho_ falou óbvia.

*Regra número 1: você tem que aprender a viver na actualidade;

*Regra número 2: nada de mexer com meu celular;

*Regra número 3: você só pode mexer com a minha vida, quando eu pedir.

– suas regras não fazem sentido_ reclamou ainda mais indignada do que no início_ como eu só poderei te ajudar quando você pedir?_ reclamou.

– eu não quero você se metendo em coisas que eu posso resolver.

– eu aceito todas as suas regras se você mudar a terceira_ cruzou os braços.

– e o que seria?_ arquiei a sobrancelha.

– eu posso mexer com a sua vida quando eu souber que você precisa de ajuda, mesmo que você negue_ falou convicta, e eu soltei um suspiro.

– ok, eu vou pensar no seu caso_ me levantei_ cadê meu celular?_ comecei a procurar pelo aparelho.

– aquela coisa mágica que acende uma luz e faz uns barulhos estranhos?_ perguntou mordendo a ponta da minha esferográfica.

– não morda a minha esferográfica_ falei seria e ela afastou o objeto de sua boca_ agora, voltando ao assunto anterior, você viu aquela "coisa mágica?"_ ela assentiu_ e cadê?_ perguntei óbvia.

– você foi com ele para a cozinha, deixa que eu vou lá pegar_ foi pra lá.

– não precisa, eu vou_ segui ela.

– está meio sujo, deixa limpar.

– nãããããão_ falei, mas infelizmente, foi tarde demais e ela jogou meu celular no lava louças_ o que você fez?_ choraminguei pegando meu celular e vendo a água escorrer dele de volta para o lava louças.

– você me assustou com aquele grito e escorregou_ deu de ombros.

– a vontade que eu estou tendo de te esganar é tão grande_ a olhei, mas estranhamente eu não estava com raiva dela por ter jogado meu celular na água, nem sequer triste eu estava_ você tem sorte que eu tenho todas as minhas informações guardadas na cloud_ sai da cozinha em direção ao quarto.

– desculpa_ veio atrás de mim.

– se vamos conviver, você precisa se vestir melhor_ apontei para suas roupas e logo voltei a me concentrar em procurar as roupas que eu queria no guarda roupa.

– eu me visto bem_ reclamou mostrando seu vestido ridiculamente horrível, mas logo revirou os olhos ao ver que eu a encarava com a sobrancelha arqueada_ ah qual é_ cruzou os braços e logo se jogou na minha cama.

– regra número 1_ a lembrei sem nem sequer me virar, mas logo tive que o fazer, pois encontrei a roupa que eu procurava_ aqui está, vista-se com isso, nós vamos sair_ falei pegando outra peça de roupa e seguindo para o banheiro para me lavar e vestir.

Tomei um banho rápido e coloquei uma calça jeans azul escura, meus Vans pretos, uma blusa na cor rosa, mas por cima coloquei uma camisola de capuz preta, meu boné na mesma cor e então saí do banheiro, voltando para o quarto.

– minha vez_ a mesma passou por mim correndo e logo bateu a porta atrás de si.

Fiquei olhando para a decoração do meu quarto e naquele momento, todo o peso dos acontecimentos de mais cedo, caiu de volta em meus ombros. Meu apartamento me foi oferecido pela minha avó quando fiz 15 anos, foi um presente secreto, o qual a única pessoa que sabia da existência, além de minha avó, era o garoto que eu considerava meu melhor amigo, até o dia de hoje. Quando mais nova, eu fui sequestrada duas vezes e por isso meu pai proibiu explicitamente que eu saísse de casa, ou então, eu tinha que ser acompanhada e vigiada por guarda-costas 24 horas por dia, mas então, em um dia depois das várias brigas dos meus pais antes de sua separação, eu tinha uns 11 anos na altura, acabei fugindo de casa, peguei um táxi e segui para casa da minha avó. Fiquei lá o final de semana inteiro e minha doce avó, me manteve por perto e cuidou de mim, então quando completei 15 anos, ela me deu de presente esse apartamento, na intenção de me dar um lugar pra descansar de ser uma Saltzman de vez enquando.

No momento, o que trouxe de volta todas as lembranças daquela humilhação de mais cedo, foram as fotos no pequeno mural do quarto, onde tinham várias fotos de mim junto com o Jay em várias das nossas saídas, em vários anos diferentes e até mesmo quando nos conhecemos aos 09 anos, tinham tantas memórias ali, fotos carregadas de significado, mas apenas para mim, pois pelos vistos, para ele eu era só uma perseguidora que queria destruir seu relacionamento.

– como eu sou idiota_ falei com a voz embargada e logo comecei a arrancar as fotos em que o garoto que me tirava o fôlego estava. A cada fotografia arrancada, uma parte de mim era estilhaçada e uma lágrima escorria por meu rosto, e quando dei por mim, eu já estava chorando no chão enquanto amassava e espalhava as fotos no chão, com meu coração estilhaçado em mil pedacinhos distintos_ eu te odeio James, te odeio tanto_ falei com a voz embargada e então senti braços me acolherem em um abraço reconfortante.

Eu não queria que ela me visse dessa forma humilhante e horrenda, mas estranhamente, eu não conseguia parar de chorar, não conseguia conter as lágrimas e voltar a minha pose de durona. Durante momento algum, ela disse alguma coisa, mas eu me senti confortável com aquele silêncio, então quando me senti melhor, as lágrimas cessaram e eu me levantei após o afastamento da mesma_ por favor, finja que isso nunca aconteceu_ falei limpando meu rosto com um lenço que a mesma me passou.

– do que você está falando?_ forçou uma cara de confusão e sorriu, me fazendo esboçar um mínimo sorriso_ já agora_ caminhou em direção as fotografias no chão e logo apanhou uma delas_ esse é o idiota que fez seu dia ir tão mal?_ arquiou a sobrancelha e me olhou.

– ele mesmo_ terminei de limpar meu rosto e peguei um pequeno estojo de maquiagem.

– e quem são esses?_ em meio a minha maquiagem, arranjei um segundo para prestar atenção nela, e a vi apontar para uma foto de quando eu tinha 6 anos de idade.

– são o meu irmão gémeo o Vincent, a Delawere minha prima, e o Tyler, melhor amigo do meu irmão_ voltei a prestar atenção na minha makeup.

– vocês eram tão fofos_ nesse momento tive vontade de revirar os olhos, mas me contive pra não estragar o que eu estava me esforçando pra terminar.

Me levantei após a finalização do processo de maquiagem e logo olhei para a mesma_ vamos lá, eu preciso de um celular novo, e você, de umas roupas melhores_ apontei para ela e depois segui para a sala.

– falando em roupas, eu estou achando essas muito desconfortáveis_ falou segurando a blusa caríssima da última coleção de verão como se não fosse nada demais_ elas são tão apertadas_ passou as mãos pela calça_ e nada práticas_ se remexeu na camisa.

– aff, vamos logo_ falei prendendo uma risada e então a mesma me seguiu até fora do apartamento.

– pra quê esse boné?_ falou quando adentramos o elevador.

– porque sim_ dei de ombros e então ela ficou ali, fazendo perguntas sobre tudo o que via pela frente, tentando compreender a "magia negra" envolta de tudo o que existia ao nosso redor.

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Comments

Mokey D.Luffy

Mokey D.Luffy

Imersa na leitura.

2023-09-28

1

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