Capítulo 19 Uma Bruxa!

Benjamin

Assim que entrei no trem, relaxei o corpo e observei a paisagem de Oxforshire rumo a Londres, um caminho que já conhecia nos mínimos detalhes, mas nunca enjoava de olhar, e hoje em especial, parecia mais lindo que nos dias anteriores. Não demorou para eu acabar dormindo nos 50 minutos de viagem, e sonhar com Aurora ao meu lado, me falando da paisagem que via lá fora.

Acordei com o motorista, que já me conhecia, me chamando. Agradeci e desci do trem, agora eu pegava um ônibus que me deixava próximo do hotel.

Incrível como o amor mexe com a gente, a fachada do hotel já era magnífica, e hoje parecia um esplendor inigualável. Piquei o cartão e o trabalho logo iniciou, especialmente com checkout dos hóspedes, domingo de tarde muitos vão embora, então é só correria para carregar as bagagens.

No final da tarde, fui chamado para carregar as bagagens de uma senhora, que dado todo o glamour que a rodeava, devia ser muito rica e importante.

— Boa noite, senhora! Seja bem vinda!— falei educado, pegando as malas infinitas da mulher e colocando num carrinho apropriado.

— Cuidado com essa mala, querido. Possuí minha coleção de perfumes franceses, odiaria ter eles quebrados.— a mulher falou retirando os óculos escuros, revelando olhos verdes gato, que me olharam dos pés a cabeça.

Me senti intimidado por essa mulher, ela devia ter uns 40 anos, mas usava uma maquiagem marcante e forte, tinha um ar empoderado e sedutor, como se todos ao seu redor fossem meros funcionários ao seu dispor. Uma beleza exótica, provavelmente muitos procedimentos estéticos. O chapéu só lhe dava um ar maior de domínio, as luvas pretas e as pérolas que envolviam seu pescoço, ostentava poder. Cheguei a sentir um calafrio na espinha, pois seus olhos não se retiravam de mim, e de maneira misteriosa ocultavam suas intenções.

Continuei meu trabalho, seguindo as etiquetas do hotel, sendo gentil e atencioso com a hóspede que claramente tinha um tratamento especial por todos os funcionários.

Entrar no elevador e ficar a sós com ela, foi aterrorizante, podia sentir os olhos dela em mim, me causando um profundo constrangimento e terror. Quando o elevador abriu, suspirei aliviado, fui na frente, chequei o melhor apartamento do hotel, verifiquei o bar, frigobar, lençóis, toalhas, temperatura ideal e deixei as malas no lugar que ela pediu. Fiz tudo isso sob o olhar aterrorizante dela.

— Quero que prepare um banho na banheira de hidromassagem.— ela exigiu.

— Eu não sou um mordomo, Sra. Martínez. Vou pedir que providenciem um.

— Quero que seja meu mordomo, posso te pagar particular.— ela falou com um sotaque mexicano.

— Não tenho permissão para executar trabalho fora do que me pedem. Em que mais posso ajudá-la.— perguntei a fim de sair logo dali.

— Quero conversar com o gerente, quero escolher quem trabalha para mim. Do mais, vamos conversando durante a semana, minha estadia ainda será longa em Londres, tenho negócios.— ela me olhou com desdém.

Assenti educadamente e saí do quarto quase correndo. Continuei meu trabalho, me distraindo com os momentos quentes que tive com Aurora, sempre acabava com um sorriso bobo nos lábios. Uma hora mais tarde, o gerente me chamou, ele estava apressado e nem sentou para conversar comigo.

— Sr. Backer, a Sra. Martínez quer que seja o mordomo, concierge e mensageiro dela. Aproveite! Ela dá ótimas gorgetas!

— Sim senhor.— respondi tentando esconder o meu pânico.

— Independente do que aconteça, ela tem a preferência nesse hotel. Sirva ela no que exigir e amanhã conversamos sobre uma promoção. E lembre-se, ela gosta de funcionários discretos, mas acredito que isso não será um problema para o senhor, é um exímio funcionário!— o gerente falou sério.

Assenti, mesmo achando tudo muito estranho e suspeito. Desde quando um funcionário tem tanta preferência?

Me virei para sair da sala.

— Ela quer que prepare um banho na hidromassagem, pegue as essências e espumantes, com a governanta executiva.

— Certo.

Saí dali intrigado, sabia na teoria como um mordomo deveria agir, é um serviço de luxo, temos que auxiliar o hóspede em tudo, desde providenciar reservas de teatros, a um mero banho de banheira. Tem que ser discreto, fazer uso das regras de etiqueta. Além de carregar as malas dela, como o meu cargo exigia, teria que me desdobrar e ser um "concierge", auxiliando com táxis, passeios turísticos e indicações de restaurante. Estava ferrado com essa mulher esquisita, que mais parecia um bruxa!

Falei com a governanta, ela me mandou ir até a supervisora das camareiras, na sala delas, um murmurinho soava, como se estivessem conversando sobre algo proibido. Assim que apareço todas se calaram, pedi o que precisava e perguntei as melhores combinações para o banho. Uma das camareiras me falou, sendo bem gentil.

— É para Sra. Martínez?— a supervisora perguntou.

— Sim.— respondi.

— Imaginei...— ela murmurou.

Todas me olhavam desconfiadas e curiosa. Saí dali pensativo, tinha uma tensão no ar, algo que me deixou muito intrigado, e tudo me dizia ser relacionado aquela mulher misteriosa. Segui meu caminho pelos corredores do hotel, até chegar no quarto da fenticeira. Bati na porta e anunciei minha chegada. A mulher me atendeu abrindo a porta e dando as costas. Fechei a porta e fui direto para o banheiro, ela veio atrás falando a temperatura ideal da água e quais essências eu deveria usar. Segui o pedido à risca, e enquanto esperava a banheira encher, me surpreendi com ela entrando no banheiro, vestida com um robe vermelho. Desviei o olhar e foquei na água da banheira, pedindo aos céus que enchesse logo e eu pudesse sair dali.

— Ligue a hidromassagem, querido, gosto bem espumante.— ela falou próximo de mim.

Engoli em seco e obedeci, fechei a torneira e me levantei, sem encará-la. Ela se despiu na minha frente, deixou o robe cair no chão.

— Pegue meu robe e pendure.— ela exigiu.

Prontamente eu peguei, pelo menos não precisava olhar para ela, me mantive olhando o robe.

— Esqueci minhas pérolas, pode retirar para mim?

Ouvir esse pedido foi fatal para mim, parecia que ia sofrer um enfarte a qualquer momento. Devagar eu me virei, procurando não olhar o corpo completamente nu na minha frente. Essa mulher é louca?

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