Capítulo 14

Respirando fundo para não perder a paciência, Nathaniel encarou sua filha, furioso. Sabia que a postura de Emily era essa, pois ela ainda guardava magoas por ser abandonada por Henry e desejava que Alexsander fizesse o mesmo com a filha dele.

— Eu posso participar do conselho das empresas do senhor Michael sem ter que me casar tão cedo com Beatrice, vovô. Dessa forma, eu posso auxiliar na administração. — Alexsander sabia que aquilo não era eficiente, mas queria escapar daquele casamento premeditado.

— Como? Sendo um mero fantoche dos acionistas?! — Gritou Nathaniel, perdendo completamente o controle. — Não se faça de idiota, Alexsander! É muito diferente participar do conselho da empresa e ser o dono dela! Casando-se com Beatrice, você teria o controle das ações e do dinheiro que ela herdou do pai! Sem falar que essa é a chance de recuperar completamente nossas empresas.

— Entendi. Alexsander seria uma espécie de gigolô. — Provocou Emily determinada a atrapalhar os interesses de seu pai.

— Nãoooo! — Gritou novamente Nathaniel, colocando a mão no coração, fingindo um mal-estar. — Você vai me matar desse jeito, Emily.

Preocupados, Emily e Alexsander se aproximaram de Nathaniel para socorrê-lo.

— Traga água para vovô. — Alexsander pediu a um dos empregados.

— Desculpe, papai. Não foi minha intenção. — Ela falou, nervosa, atropelando as palavras.

Após beber água, já mais calmo, Nathaniel retomou a conversa. Sabia que agora, Emily não iria mais atrapalhar com receio que ele passasse mal novamente.

— Me escute, meu neto. — Nathaniel segurou a mão de Alexander com força, levando em direção ao seu coração, encarando o neto com intensidade. — Todos sabem que era meu sonho e de Michael unir nossas famílias. Na época, seria a união de duas empresas prósperas. Infelizmente, não deu certo com sua tia e Henry. — Ele dirigiu um olhar de pesar para Emily, pois sabia que aquilo ainda magoava ela. — Então, nós descobrimos que Henry iria ter uma menina e acertamos aquele novo acordo. Seu casamento com Beatrice foi decidido antes mesmo dela nascer. — Os olhos de Nathaniel se encheram de lágrimas, naquele momento. — Seu pai ainda estava vivo e nossa empresa era tão poderosa quanto a de Michael. Infelizmente, após a morte de James, tudo decaiu. Agora, meu grande amigo está passando pela mesma dor que passei, que é perder um filho. O casamento com Beatrice vai ser a realização de um sonho, vai ajudar Michael, vai ajudar nossa empresa e você ainda vai honrar a palavra do seu pai. — Nathaniel usava sem dó e nem piedade todas as armas possíveis para fazer com que Alexsander aceitasse aquilo. Afinal de contas, ele nem tinha como saber que por seu falecido pai, ele não precisava se casar com a neta de Michael. De fato, aquele era um desejo de Nathaniel e Michael.

— Alexsander. — Observando toda aquela cena, Emily chamou seu sobrinho. Ela tentou se manter calada, pois não queria contrariar seu pai novamente, principalmente, depois do mal-estar que ele teve. Contudo, ela pretendia que a filha de Beatrice fosse bastante infeliz, naquele casamento. — Você pode se casar com a menina agora e viver uma vida paralela. Pode ter outras mulheres. Isso é muito comum. — Ela destilava seu veneno, percebendo que a luta contra a realização do casamento já estava perdida mesmo.

— Mas tia... Eu não acho que isso seja justo com a menina, Beatrice. — Alexsander não era um canalha. Apesar de não sentir nada por sua futura esposa, ele não achava que isso era certo.

— Meu querido. Eu falo isso somente agora, por enquanto, que ela é tão novinha. — Mentiu Emily para não parecer tão ruim aos olhos de Alexsander. — Quando ela estiver mais velha, mais madura, você pode tentar um relacionamento com ela e dessa forma, o amor pode surgir entre vocês. — “Deus queira que não” Ela pensou.

Como para Nathaniel era indiferente se Alexsander ia ser fiel a Beatrice ou não, ele se manteve calado, analisando as reações do neto, que já tinha adquirido uma postura mais calma, demonstrando que estava disposto a aceitar aquilo.

— Certo, vovô, eu concordo com isso, mas tenho uma exigência que a família Reynolds precisa aceitar, caso contrário, nada feito. — Alexsander falou de uma forma que não admitiria ser contrariado naquele ponto. — Nós vamos nos casar em segredo.

— Como assim? — Indagou Nathaniel. — Como a união de duas famílias tão importantes pode ser feita em segredo? A menina vai querer uma festa! E como você vai assumir as indústrias Reynolds sem que as pessoas saibam que você é casado com Beatrice?

— Uma festa? — Zombou Alexsander rindo. — Me poupe, vovô. Dispenso isso. Eu não me sinto bem com essa situação, me casar com Beatrice tão jovem, mas vou aceitar por você, por papai e pela empresa. Contudo, eu não abro mão dessa minha exigência. Com relação a assumir as indústrias Reynolds, as ações estarão sob minha posse, não interessa a ninguém saber se for por casamento ou se ganhei ela na loteria. O fato é que vou assumir as empresas é ponto.

Pensativo, mas ainda fingindo mal-estar para que Emily e nem Alexsander desconfiasse, Nathaniel refletiu sobre aquilo. Sabia que Michael não faria questão de festa, ele também poderia justificar isso com a morte recente de Henry, mas manter o casamento em segredo?

— Ok, Alexsander. Eu vou acertar isso com Michael. Vou falar francamente com ele e tenho certeza de que meu amigo vai entender seu ponto.

Depois de tudo acertado com Alexsander, Nathaniel voltou a falar com Michael, explicando ao amigo que não existia a necessidade de uma festa, visto que seria até desrespeito com Henry, pois a família ainda estava de luto. A parte de manter o casamento em segredo foi mais difícil para explicar, mas no final, Michael entendeu que Alexsander tinha razão. Beatrice só tinha 15 anos e seria bastante estranho para ele e para ela também, do nada, os dois aparecerem casados, quando mal se viam somente nas festas da família. Quando ela estivesse mais velha, eles até poderia fazer uma festa para celebrar e divulgar aquela união, mas no momento, era melhor tratar tudo de forma mais discreta mesmo, longe da mídia e evitando fofocas em torno deles.