Brincando com fogo

— Está me achando com cara de palhaço? Todos aqui são responsáveis pela redação. Se eu cair, todos vão juntos. Não importam o que digam. Iremos todos conversar com o novo diretor da emissora. Temos que encontrar uma solução. — Gabriel se levantou olhando sério para todos nós.

Ninguém poderia contestar aquele fato dito por Gabriel. Cada um é responsável por seu editorial, mas mesmo assim, com a troca de cargo no meio do expediente, todos se atrapalharam. É difícil mudar a dinâmica de algo, quando estamos em movimento.

Todos os editores acompanharam Gabriel até a sala do novo diretor. Não o conhecia. Havia pouco tempo que tinha assumido a vaga. O que sei sobre o diretor veio por Samira, que parecia encantada com o homem. Sempre dizendo que era um viúvo sexy que voltou do exterior. Era, na verdade, filho do dono da emissora e estava no lugar do pai na direção, que havia se afastado devido a uma cirurgia de urgência. Sinto que Samira exagerou. Deve ser apenas um senhor de idade avançada.

Retiro tudo o que eu disse, eu não podia estar mais errada. Quando a porta gigante se abriu, a figura de Dylan, sentado na sua mesa lendo alguns papéis, surgiu parecendo despreocupado. O meu cérebro travou ali. Tentei repassar tudo que já havia dito àquele homem. Lembrei o que disse a Martin antes de sair para almoçar. Será que ele ouviu? Estou ferrada! Espero que não ou a minha demissão estará decidida.

— O que querem? — Dylan disse com uma voz grossa e seria. Parecia impaciente. Um tom bem diferente daquele usado com Martin.

— Somos da redação do jornal. Me chamo Gabriel, sou o editor-chefe. Hoje tivemos alguns problemas técnicos e meio que não temos... nada para o jornal da noite. — Gabriel estava visivelmente nervoso.

— O que acabou de dizer? — Dylan levantou o rosto olhando para nós. Pude notar a surpresa dele ao notar que eu estava no meio de mais um problema. Estava escrito em sua cara. Ele estava sorrindo de canto de boca?

— Houve uma pequena troca de cargos hoje para melhorar a qualidade da produção. Com isso, os funcionários tiveram dificuldade para produzir. — Gabriel explicou.

— Quem que muda os cargos na metade do expediente? Toda a mudança precisa de uma transição. Quem teve essa ideia ruim? Veio do RH? — Dylan questionou.

— Ah... É.. Foi minha. Pensei que... — Gabriel não sabia nem o que dizer. E havia algo que pudesse falar sobre o acontecido?

— Pelo visto, teremos que rever a sua capacidade de gerenciamento de equipe e administração, mas agora não é o momento. Qual sujestão você tem para resolver o problema. É óbvio que não podemos ficar sem o jornal. — Dylan parecia alguém direto, mas nunca pensei que ele seria o novo diretor.

— Não tenho. Por isso viemos aqui. O que faremos? — Gabriel perguntou. Dylan olhou sério para ele.

— Alguém pode abrir a boca e falar algo que realmente seja útil e resolva o nosso problema? — Dylan insistiu. Levantei a mão e vi ele acenando concordando com a minha interferência.

— Licença. Talvez funcione se colocarmos como uma espécie de edição especial. Colocaremos algumas matérias frias que já estão prontas. Para as notícias importante de hoje, vamos pedir para os apresentadores lerem e comentarem sobre elas. Talvez não tenha a melhor audiência de todos os tempos, mas vai tapar o buraco. — Pensei em culpar Gabriel e Samira ali mesmo, mas achei melhor não me tornar esse tipo de pessoa por conta de uma vingança.

— Gostei da ideia. Façam isso. Gabriel, vamos conversar amanhã sobre esse seu erro. Hoje creio que todos vão ter que fazer hora extra para resolver esse probleminha. De qualquer forma, por hoje, tome a liderança Amanda já que foi um plano seu, espero que consiga fazer. — Dylan concordou voltando os olhos para o papéis. — Podem sair.

Não vou mentir que eu saí daquele lugar aliviada. Talvez agora compreendam o erro de mistura profissional e pessoal. Entretanto, basto eu colocar os pés para fora da sala. Gabriel me puxou para o corredor próximo, me pressionando contra parede.

— Você planejou tudo isso para de vingar, né? — Gabriel gritou enquanto apertava os meus pulsos. — Como se eu tivesse culpa de você ser uma puta mercenária que não se importar com ninguém. Uma egoísta. Deveria pagar por tantos anos que me enganou, se sentir culpada por isso, mas em vez disso, está me atacando?

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