Cartas trocadas

— Amanda, o editor está te chamando na sala dele. — Cintia disse ao sair da sala dele algumas horas depois da conversa que tive com ele.

Me surpreendi, pensei que Gabriel não iria querer ver a minha cara por algum tempo. Também pensei na possibilidade de ser chamada direito para o recursos humanos sem piscar. Não faço ideia do que está passando na cabeça de Gabriel, mas tenho certeza que coisa boa não deve ser.

— Licença. Cintia disse que estava procurando por mim. — Entrei na porta sem jeito. Samira continuava ali, sem fazer absolutamente nada, apenas assistindo tudo que estava acontecendo enquanto serrava as unhas.

— Sim. Você parece estar muito empolgada para trabalhar. Achei melhor dar o que você quer. Hoje mudarei a função da equipe. Te enviarei como repórter de rua, na área de polícia. Samira se tornará pauta e Cintia ficará com o editorial da cidade que era de Samira. Assim ficará a nova organização. — Gabriel tinha um sorriso que eu desconhecia, mas senti um nojo absurdo. — Claro, você sempre tem a opção de desistir. Sabe que essa editora é uma das mais perigosas e compreenderei caso queira abrir mão.

Olhei para Gabriel e depois para Samira, que tinha um sorriso cínico. Não precisava pensar muito para saber qual era o plano daqueles dois. Seria colocado nas piores matérias do mundo. Fariam com que o ambiente de trabalho fosse tão ruim, que eu não conseguiria manter, mas estão enganados se pensam que apenas isso vai me derrubar. Se alguém deveria sair daqui, não sou eu, mas eles dois que são péssimos profissionais.

— Eu agradeço a oportunidade. Será uma forma de aprender mais sobre a dinâmica de repórter de rua. Obrigada, senhor Gabriel. Estarei esperando as minhas pautas, senhora Samira. — Não darei o que eles querem. Vamos ver quem acabará pedindo demissão primeiro.

— Que? Você apenas vai concordar sem questionar nada? — Gabriel não esperava que eu reagisse indiferente. Podia ver a decepção nos seus olhos. Ele queria me quebrar. Tirar tudo de mim.

— Questionar? Você é o editor-chefe, escolheram essa função por acreditarem na sua competência para delegar funções e administrar elas. Um verdadeiro profissional. Se acredita que haverá um maior crescimento com essas últimas alterações, com toda a experiência que tem, não posso reclamar, apenas agradecer. — Falei sorrindo com meu olhar nele.

— Tem certeza que o seu orgulho é mais importante que a sua segurança? Sabe como é a editoria de polícia. — Gabriel tinha um semblante preocupado. Samira notou e bateu com força na mesa. Pude ver um anel enorme, era um enorme solitário. Conhecia ele muito bem. Havíamos escolhido juntos.

— Oh! Notou o meu anel? Não te dissemos ainda, nós casamos. Parece que Gabriel descobriu quem realmente vale a pena passar a vida. — Samira sempre foi descarada assim?

— Notei. Mesmo que isso não importa. E agradeço por ter me alertado para isso. Também desejo felicidade para os dois. Agora podemos voltar ao que interessa? Irei assumir o editorial como solicitado. Esperarei apenas a pauta para iniciar. Se me der licença. — Sim, assim está ótimo. Que eles aproveitem os dias pacíficos.

Assim que fechei a porta, ouvi Samira gritando e jogando as coisas da mesa no chão, parecia frustrada por não ter me visto mal como claramente esperava. De qualquer forma, podem ter vencido a batalha, mas eu vou ganhar essa guerra. Não permitirei que tirem o meu emprego por razões banais. Pelo menos, até que eu consiga um que me pague o suficiente para sobreviver. Por hora, vou tomar cuidado e colocar o feitiço contra o feiticeiro, mas no fundo do meu coração, minha forma de era colocar fogo naquela sala e deixar apenas o anel... Ah! Isso! O anel.

* CHAMADA ON *

— Alô? É da polícia? Eu tenho uma denuncia para fazer... — Vamos ver até quando esses dois vão se meter sorrindo em meio a essa guerra terrível.

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