O que você acha, Amanda?

— Amanda! — Ouvi Martin gritando pulando nas minhas pernas como um pequeno macaquinho.

— Martin, o que você fez aqui? — Perguntei surpresa com a presença do garoto. Não costumava ver crianças no prédio.

— Meu papai me trouxe. Não tive aula hoje. Então ele disse que podia brincar com ele no trabalho. O que fez aqui? Veio me ver? — Martin estava animadíssimo.

Olhava para quero menino abraçado nas minhas pernas sem entender, que tipo de pai iria achar uma boa ideia trazer o filho ao trabalho? Talvez fosse a sua única opção? Não posso criticar muito. Não sei qual a realidade daquele garoto. Por falar nisso, o nome do pai dele me pareceu tão familiar.

— Ah. Eu não te disse? Sou jornalista. Trabalho nessa empresa. — Expliquei acariciando a cabeça do garoto que tinha um enorme sorriso enquanto me olhava com os seus olhinhos brilhando.

— Você trabalha aqui? — Dylan se aproximou sem eu perceber. Talvez estivesse entretida demais com Martin.

— Sim, sou repórter. Aliás, Martin disse que você trabalha aqui também. — Falei sem conseguir desviar o olhar dele. Era um homem tão alto. O seu terno parecia feito sob medida para valorizar os seus pontos positivos. Por algum motivo, Dylan teve uma crise de riso enorme.

— Quer dizer que você trabalha aqui e não faz ideia de quem seja eu? — Dylan tentava falar, mas o riso atrapalhava um pouco.

— Não, me desculpe. Não trabalho há muito tempo e sou péssima para memorizar rostos. — Foi a única coisa que pude pensar. Não poderia admitir que nunca prestei muita atenção às pessoas ao meu redor.

— Entendi. Algo me diz que não preciso dizer, você vai acabar descobrindo sozinha. Vamos, Dylan ou acabarei atrasado para reunião. — Martin chamou o filho que balançou a cabeça negando a ideia de o acompanhar — Martin, o que você pensa que está fazendo?

— Papai vai está ocupado, né? Posso brincar com Amanda? Eu prometo que não vou sair de perto dela. As suas reuniões são sempre chatas e cansativas. Eu estava com saudade dela. — Martin disse. Senti o meu coração disparar. Como uma criança poderia ser tão fofa.

— Meu filho, você vai atrapalhar ela no serviço. Não seja assim. — Dylan parecia um pai bastante doce e carinhoso. Se fosse minha mãe tinha dado um sonoro não.

— Tudo bem, eu posso ficar com ele. Não tenho externa hoje e ficarei o tempo todo apenas monitorando as pautas e avaliando qual merecem reportagens. Não terei problemas em ficar com ele até o fim da sua reunião. Só vou ter cuidado para que chefe não descubra. Dizem que ele é um tirano sem coração. — Parecia um pouco problemático aparecer com uma criança no trabalho, mas eu também queria passar mais um tempo com o garoto. Me sinto bem perto dele

— O chefe é um tirano sem coração? — Dylan disse rindo. — Tudo bem. Se algo acontecer, me ligue do celular de Martin. A minha reunião deve durar apenas trinta minutos. Depois disso, passo e pego ele. E você, se comporte, viu?

— Sim, papai. — Martin respondeu.

Subimos para o andar que eu trabalhava, Martin fez várias perguntas sobre meu trabalho no elevador enquanto subimos. Antes de entrar na sala, parei um pouco olhando para porta. Não fazia ideia do que me esperavam, mas mesmo assim, tinha que encarar. É necessário separar o pessoal do profissional e era isso que eu iria fazer.

Entrei na sala segurando a pequena mãozinhas de Martin, de uma forma estranha, me sentia até um pouco mais confiante por conta disso. Olhei ao redor, havia apenas três pessoas. Uma estava com fone de ouvido e as outras duas começaram a fofocar assim que pisei no lugar. Olhei em direção da mesa de Gabriel, ele não estava lá e muito menos Samira. Não sei se isso me deixava aliviada ou nervosa.

— Você gosta de desenhar? — Perguntei sentando na cadeira de frente para minha mesa, puxando uma outra que estava do lado para Martin.

— Sim. — Martin concordou.

— Então vamos fazer uma brincadeira, eu direi uma letra e você deve desenhar algo que comece com essa letra. Por exemplo, se eu disse P, você pode escrever pato, pera, pavão. entendeu? — Tinha que manter ele ocupado ou ficaria entediado e causaria problemas no lugar.

— Parece divertido. — Martin disse animado enquanto eu entregava papel e caneta para ele.

Seguimos nessa brincadeira enquanto eu passava uma peneira nas pautas do dia, selecionando as mais importantes. Gabriel era uma criança muito quieta e obediente. Apenas ficou desenhando do meu lado.

— Gabriel ainda não chegou? Eu tenho uma reportagem para ele aprovar. Tenho que sair daqui a pouco para uma externa. — Cintia perguntou tirando os fones que usava.

— Você não sabe? Ele só vai aparecer de tarde. Não sei o que aconteceu, mas ele viajou com Samira no final de semana. Avisou que chegaria apenas para o turno da tarde. — Uma das mulheres que fofocavam quando entrei falou me olhando. — Parece que eles até mesmo se casaram em Las Vegas. O que você acha, Amanda?