— Você está bem? Eu te machuquei? — me ajoelhei na frente do garoto que chorava.
— Ah! Não. Eu… — o garoto começou a chorar mais ainda.
— Você está machucado? Precisa de um médico? — perguntei desesperada. Já imaginando a manchete dos sites de fofoca: " Jornalista foge do seu noivado e quase mata menino na praia".
— Não. — O garoto respondeu sem parar de chorar. Fiquei na dúvida se a resposta dele era para o médico ou para ter se ferido.
— Qual é o seu nome? — Perguntei sentando na areia da praia, ao lado dele. Era mais fácil acalmar ele antes. Talvez estivesse mais assustado do que eu.
— Martin — O garoto respondeu.
— Onde estão seus pais? — Questionei. A praia estava completamente deserta. Como era um lugar impróprio para o banho, normalmente, não haviam banhistas nas redondezas, era até mesmo estranho encontrar uma criança por ali pelo perigo que era a praia.
— Mamãe está no céu. Papai me abandonou. — Martin respondeu com tristeza. Senti uma pontada no meu coração. Que tipo de pai abandona o filho?
— Porque diz que ele abandonou você? — Olhando para o garoto, podia se ver claramente que era bem cuidado. Suas roupas eram de marca. Tinha um semblante pálido, mas saudável. Não parecia características de alguém abandonado.
— Ele não veio me buscar. — Martin respondeu desenhando algo na areia da praia.
— Seu pai sabe que você está aqui,
perdido, esperando por ele? — Era desolador ver aquela criança nessa situação.
— Não sei. — Martin disse olhando para mim.
— Então, não deveria tomar conclusões precipitadas. Deve se encontrar com ele e tirar suas dúvidas, mas até que isso aconteça, que tal um sorvete? — Ofereci. Me senti um pouco criminosa, mas não podia deixar uma criança sozinha na praia. Alguém poderia machucar ela. Meu plano era ir na delegacia depois de acalmar Martin.
— Papai disse que eu não deveria acompanhar estranhos, mas você não parece estranha para mim. — Martin talvez não tenha compreendido exatamente o que o pai quis dizer com estranhos. E definitivamente, não tinha nada de normal em mim.
— Talvez seu pai quisesse dizer para não acompanhar pessoas que não conhece. E realmente ele está certo. As pessoas podem ser bem ruins. Na frente das pessoas podem parecer ser boas, mas por dentro são malvadas. Lobos em pele de cordeiro. — Me perguntei se ele entenderia o que eu estava tentando dizer.
— Acho que eu entendi, mas as pessoas que conhecemos também podem ser assim, né? — Martin me surpreendeu com aquilo. As crianças estão cada vez mais precoce. Eu nunca teria tido uma conclusão dessa na idade dele, mas eu compreendia exatamente o que ele estava falando. Samira, dizia ser minha amiga. Gabriel era meu noivo. Nenhum dos dois confiaram e acreditaram em mim. Será que sempre foi assim e eu não notei?
— Sim, às vezes nos enganamos em relação às pessoas. Ah! Deixa eu me apresentar, eu me chamo Amanda, tenho 30 anos, sou jornalista e acabei de fugir do meu noivado. — Essa era a minha nova descrição. Pensando nisso, não pude deixar de rir.
— Você não gostava dele? — Martin perguntou surpreso.
— Sim, mas talvez ele não gostasse o suficiente de mim. — Na verdade, talvez até gostasse, mas amor não é o suficiente para uma relação, ele não tinha confiança o suficiente ou teria deixado eu me explicar. Me senti o tempo inteiro encurralada por eles dois. — E você, quantos anos tem? Como veio parar na praia?
— Eu tenho oito anos, a namorada do papai me trouxe, mas desapareceu. — Martin disse desanimado. Oito anos, que coincidência, aquela criança também teria a mesma idade que ele. Me pergunto como ela está agora? Será que está tão bonito assim?— Então, que tal o sorvete?
— Sim! — Martin respondeu um pouco mais animado. O que foi ótimo.
No meio do caminho, conversamos sobre várias coisas que tínhamos em comum. Assim como eu, o garoto é fascinado em astronomia, quebra-cabeças e jogos de videogame. Bom, a última parte creio que a maior parte das crianças da idade dele tem.
— Qual sorvete.. — Quando ia pedir o sorvete notei que havia fugido sem carteira ou celular. — Temos um probleminha. Eu fugi sem carteira ou celular. Temos que cancelar o sorvete.
— Eu pago. — Martins disse tirando uma pequena carteira do bolso. Para minha surpresa, tirou uma nota de cinquenta reais. Que criança de 8 anos anda com isso tudo na carteira? Na idade dele, quando conseguia 1 real saia mostrando para todo mundo e nunca gastava. — Será que isso vai dar?
— Sim. Qual sabor que você quer? — Mais importante, eu estou sendo bancada por uma criança? Esse dia realmente está virado de cabeça para baixo. Será que pode piorar?
Tomamos sorvete, conversamos e rimos mais um bocado. Nunca gostei muito de crianças, mas era fácil interagir com Martin. Eu até esqueci todo aquele caos que havia vivido agora a pouco. Quando notei que o garoto estava mais calmo, decidi que era melhor buscar por seu pai, ele deveria está preocupado com o desaparecimento, ao menos, eu espero. Quando estávamos andando em direção da delegacia para conseguir ajuda das autoridades para o encontrar , vimos os policiais se aproximando de mim correndo.
— Olha, estamos com sorte. Encontramos eles bem rápido. — respondi aliviada. Estava com medo de não ter ninguém no ponto policial, acontecia com frequência isso, pela falta de pessoal suficiente, às vezes ficava vazio na hora da ronda.
— Você está presa por sequestro. — O policial gritou enquanto me algemava. Definitivamente, eu estava com tudo hoje, menos com sorte.
— Amanda, você é malvada? — Martin me perguntou confuso. Eu não fazia nem ideia de quem eu tinha supostamente sequestrado.
— Que?? — Gritei desesperada. Como o dia que era para ser o mais feliz da minha vida virou esse caos? Eu era para me tornar noiva, vou me achar me transformando em uma presidiária?
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Atualizado até capítulo 98
Comments
Joelma Oliveira
quando não é uma queda é um coice kkkk
2024-11-11
3
karvalho Heloiza😍
kkkkkkk eitaaaaaaaaaaaaaa
2024-12-29
0
elenice ferreira
essa tá cagada de urubu, azarada assim! misericórdia!
2024-12-15
1