CAPÍTULO 16

...Sophie Salles:...

Após o café da manhã, fomos ao banco como combinado. Ao chegarmos lá, Bianca explicou a situação detalhadamente para a atendente. Preenchemos os formulários, fornecendo os documentos solicitados e aguardamos com um misto de esperança e ansiedade.

"Aguardem algum tempo, por favor", pediu, saindo da sala em que estávamos.

"Será que vai ser aprovado?" perguntei para Bianca. "Essas perguntas eram muito do tipo: você tem alguma coisa para nos dar se não conseguir pagar?"

"Bom... mesmo que não dê certo de primeira, pelo menos ela vai nos dizer o que precisamos fazer para conseguir, então não será em vão a nossa vinda até aqui."

"Você tem razão".

Após poucos minutos, a atendente voltou, mas não parecia trazer boas notícias.

"O empréstimo de ambas foi negado. Senhorita Santana, em nosso sistema consta um empréstimo em seu nome com um Custo Efetivo Total de 2% ao mês, um crédito de R$ 30 mil financiado em 48 vezes ficou com 48 parcelas de R$ 862, 32. Esse valor ainda não foi pago completamente, por esse motivo não pode realizar outro empréstimo. E Senhorita Salles, você não tem nenhum imóvel em seu nome, nem mesmo um emprego, então não há possibilidade para um empréstimo por enquanto", nos explicou.

"Entendo...mas se eu estivesse trabalhando, poderia conseguir esse empréstimo?" perguntei.

"Você precisa comprovar uma renda compatível com a dívida que vai contrair, então se você começar a trabalhar, as suas chances de conseguir vão certamente aumentar."

"Entendi, obrigada."

"Disponha", respondeu enquanto saíamos da sala.

"O que você quer fazer?" perguntou Bianca para mim.

"Vou procurar um emprego e tentar falar com Karl. Não se preocupe comigo, agora vou passar lá no Black e ver se estão precisando de alguém.

"Tá bom, te vejo mais tarde", falou se despedindo. "Vou pedir um carro de aplicativo."

"Até mais tarde, Bianca", me despedi, caminhando até o ponto de ônibus. Após trinta minutos, cheguei no Black.

"Oi Cassie", falei, encontrando-a limpando o balcão.

"Por que não me avisou que viria?" perguntou animada, se aproximando e me dando um abraço.

"Foi de última hora, você está ocupada?"

"Agora não, vamos nos sentar", se sentou em uma das cadeiras do balcão. "Como está seu avô?"

"Do mesmo jeito, ele ainda está esperando a cirurgia"

"Espero que ele melhore logo", disse. "Você comentou que já tinha marcado a cirurgia?"

"Está marcada para a semana que vem, na sexta."

"Fico aliviada. E aquele praga Egípcia do Karl?", perguntou com desgosto.

"Eu não sei, já faz um tempo que não vejo ele", respondi. "Você perguntou se estão precisando de funcionários aqui?"

"Perguntei para Lauren, mas parece que todas as vagas já estão ocupadas", disse desanimada.

"Não se preocupe, logo vou conseguir um trabalho legal"

Conversamos mais um pouco, e logo saí da lanchonete para não atrapalhá-la no seu horário de trabalho. Preferi não contar a ela o que aconteceu, decidi tentar resolver as coisas sozinha desta vez. Comecei partindo para o meu próximo objetivo: procurar um emprego.

Dessa vez, segui um pouco mais distante do caminho da outra vez. Fui em alguns restaurantes, mas nenhum precisava de funcionários. Fui até um shopping e andei nas lojas entregando meu currículo. Até teve uma boa vaga, mas eles queriam que a pessoa morasse perto do local, o que não era o meu caso.

Após algumas horas, decidi voltar para casa. No caminho, vi o que parecia ser um restaurante e um barzinho ao mesmo tempo. A condição do lugar não parecia muito boa.

"Quer saber?", gritou uma mulher logo quando entrei. "Eu não vou mais trabalhar nessa merda, cansei", gritou novamente, e logo apareceu a dona dos gritos caminhando na minha direção, na verdade, na direção da porta.

"Você é uma ingrata, não pode ir embora assim", berrou um homem com um forte sotaque italiano, ele era gorducho e aparentava ter uns 58 anos.

"Posso e já tô indo", disse a mulher,  desmanchando o avental e jogando na cara dele com força.

Logo ela passou por mim como um furacão e saiu do restaurante.

"E você? O que quer?", berrou o homem  em minha direção.

"Eu... tô procurando um... emprego", falei ainda em choque pelo que acabei de presenciar.

"Hoje é seu dia de sorte, menina!",jogou o avental em mim,"Coloque isso e me siga."continuou.

Será que fiz a coisa certa? me perguntei isso várias vezes, antes de colocar o avental. Por fim, o coloquei e segui o homem, que me levou até uma pia cheia de pratos.

"Considere isso um teste de aptidão para o trabalho. Na verdade, eu não preciso de funcionários, mas você parece desesperada por um bom emprego", disse, indicando que eu deveria lavar a louça.

"É... tudo bem", falei meio confusa.

Então ele saiu, e eu comecei a lavar os pratos. Após quarenta minutos, terminei de lavar tudo, e foi quando ele apareceu novamente.

"Vamos para a segunda fase agora", disse, olhando para a pia vazia, como se estivesse inspecionando meu trabalho com atenção.

"Segunda fase?", repeti surpresa. Afinal, eu tinha acabado de lavar uma pia cheia de louça.

Ele começou a andar novamente, e eu o segui.

"Exatamente. Você sabe atender clientes? Limpar mesas?", perguntou com aquele sotaque carregado.

"Eu sei limpar mesas, e sobre clientes, não se preocupe, eu tenho alguma experiência", falei, me baseando em tudo que Cassie me ensinou.

"Ótimo, vamos abrir daqui a trinta minutos. Você deve limpar as mesas e varrer",após dar a ordem o homem sumiu novamente e reapareceu com uma vassoura velha e um guardanapo molhado.

"Não tem mais produtos de limpeza?", perguntei, olhando ao redor.

"Por que precisa de mais?", perguntou, sem se importar.

Olhei com receio para o guardanapo que estava em um tom escuro de tanta sujeira.

"Apenas limpe logo e não faça tantas perguntas. Vou terminar de fazer o preparo de algumas das refeições, depois volto para ver como você está se saindo", disse, saindo novamente.

Voltei para a pia onde lavei a louça anteriormente, joguei água no rosto e na nuca e, em seguida, lavei o guardanapo com o sabão que estava ali. Peguei um balde, coloquei um pouco de água e dissolvi um pedaço de sabão. Feito isso, fui em direção ao local que ele me mandou limpar.

Coloquei as cadeiras sobre a mesa enquanto varria o local. Ao terminar, as recoloquei nos seus lugares e limpei as mesas e cadeiras com a água e sabão.

Quando terminei, estava exausta. Me sentei em uma das cadeiras que eu tinha acabado de limpar e descansei um pouco.

"Você já cansou, menina?", perguntou o homem, voltando,"Ainda precisamos abrir e atender os clientes. Essa é a última fase e a mais importante!" , disse, esbugalhando os olhos. "Como sou bom, vou abrir hoje para você, mas só hoje, não se acostume", ele foi até a porta e virou a placa que estava off para On.

'É sério isso?', pensei.

Após dez minutos, algumas pessoas começaram a aparecer. Fiquei em pé, cumprimentando-as com uma "Boa tarde", e entregando alguns folhetos que eram como o cardápio do lugar. Atendi as mesas muito bem, devo isso à Cassie.

Depois que duas mulheres saíram, um casal de idosos adentrou. Fui até eles e entreguei os folhetos. Após isso, anotei os pedidos deles e fui até a cozinha levar para o meu chefe, cujo nome descobri ser Enrico.

"Um casal acabou de pedir Macarronada à Carbonara", falei enquanto trazia os pratos que estavam em outra mesa.

"Ok. O que foi servido nesses pratos que você tem aí era a macarronada, não é?", questionou apontando para os pratos sujos em minhas mão.

"Sim, por quê?"

"Me dá aqui", pegou os mesmos . "Vou aproveitar eles."

"O que?", perguntei, incrédula.

"Todos os pratos estão sujos, menina, e também já havia macarronada neles. Os clientes nem vão perceber!", murmurou.

"Deixa que eu lavo bem rapidinho. Isso não é higiênico", tentei pegar os pratos da mão dele, o homem ergueu a sobrancelha.

"Muito bem. Era isso que eu queria ouvir. Você passou no meu teste surpresa. Agora vai lavar esses pratos enquanto vou esquentar a comida", disse, mas não pareceu sincero.

Apenas peguei os pratos e fui lavar, antes que ele inventasse de servir os clientes com pratos sujos novamente.

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