CAPÍTULO 14 - AMNÉSIA TEMPORÁRIA

...Sophie Salles:...

Acordei com dores no corpo inteiro, especialmente na cabeça. Ao tocar a testa, percebi uma textura diferente e constatei que havia um curativo ali.

"Graças a Deus você acordou!", tia Casilda apareceu na porta.

Foi então que me dei conta: estava em um hospital.

"Por que estou aqui?", perguntei um pouco rouca.

"Não se lembra?", ela parecia espantada.

"Do que eu deveria me lembrar?"

"Oh, querida...", suspirou, se sentando ao lado da cama.

"Como está nossa paciente?", indagou um médico adentrando o quarto.

Ele parecia ser bem jovem para um médico e tinha um sorriso encantador.

"Mal, muito mal, doutor", respondeu tia Casilda. "Ela não lembra do que aconteceu antes."

"Dado o impacto na cabeça, é normal uma amnésia temporária", explicou dando um sorriso gentil.

"Eu bati a cabeça? Tia Casilda, me conte o que aconteceu", pedi, nesse momento tive uma rápida memória de atravessar a rua correndo e um carro vindo em minha direção. "Um carro me atingiu?", perguntei, sentindo uma leve dor de cabeça.

"Você está lembrando!", disse,animada.

"Calma senhora, não a force, pode ser prejudicial", interveio o médico, caminhando com ela para fora do quarto. "Sophie, precisa de repouso".

"Eu não quero descansar", falei, mas eles já haviam saído. "Quero ver meu avô", murmurei para mim mesma.

Olhei ao redor do quarto e vi roupas dobradas em cima de uma cadeira. Reconheci meu celular sobre elas e cheguei à conclusão de que eram as minhas.

"Perfeito", murmurei, retirando uma agulha do pulso e me levantando.

Após me vestir e guardar o celular no bolso, saí do quarto. A numeração indicava o quarto 469. Andei pelos corredores até encontrar uma enfermeira. Afinal, eu não poderia sair do hospital sem alta; se fizesse isso, teria problemas para receber atendimento novamente caso precisasse e também precisava avisar tia Casilda que eu estava bem e queria sair daqui.

"Com licença!", chamei, parando-a. "Você sabe onde posso encontrar o médico do quarto 469?"

"Deve ser o Dr. Rafael, é ele que está cuidando dos pacientes hoje", respondeu.

"Onde posso encontrá-lo?", perguntei.

"Siga-me, eu te levo até o consultório dele", disse, me acompanhando.

Ao passarmos, ouvi a enfermeira dizer para outras que estavam conversando:

"Vou na sala do doutor gatão, volto logo." Elas soltaram risadas com o comentário.

Logo ela me guiou até a frente de um consultório.

"Obrigada", agradeci e bati na porta. Ela continuou comigo até ouvirmos o médico falar 'Entre', ao entrar, fechei a porta e vi o médico distraído lendo o que parecia ser um prontuário.

"Preciso receber alta", levantou a cabeça, surpreso.

Ele guardou o papel e olhou para mim.

"Por que está de pé? Deveria estar repousando, senhorita", disse.

"Doutor, estou bem, e preciso receber alta", insisti.

"Sente-se", obedeci e ele examinou meus olhos com uma lanterna. "Parece bem, mas precisamos de uma tomografia e trocar o curativo."

"É só um arranhão, não preciso de curativo. E não vou fazer a tomografia", declarei.

"E por que vai fazer?"

"Sinceramente? Não tenho dinheiro para mais despesas hospitalares, já estou lidando com as do meu avô", comentei, me levantando.

"Seu avô? Ele está aqui?", questionou.

"Não. Posso ser liberada? Quero ir vê-lo".

"Apenas faça a tomografia. O hospital vai cobrir todos os custos, não se preocupe", afirmou.

"Volto amanhã, pode ser? Hoje tenho coisas a resolver", expliquei, lembrando que Luiza vai levar a compradora até a minha casa.

"Está bem, vou assinar sua alta, mas não deixe de fazer a tomografia amanhã", concordou, preenchendo um papel e fazendo uma ligação rápida. "Pode ir agora."

"Obrigada, Dr... Rafael, certo?", perguntei, incerta sobre seu nome.

"Rafael Mancini", confirmou, estendendo a mão para um aperto rápido. "E você é Sophie Salles."

"Isso mesmo. Obrigada e até logo doutor", me despedi saindo do consultório.

Procurei tia Casilda pelo hospital para contar que tive alta e que iria até a sua casa para tomar um banho e ir ver meu avô no hospital.

"Te procurei por toda parte", me disse ao encontrá-la. "A enfermeira do seu quarto me falou que você tinha recebido alta."

"Sim, o médico viu que não era grave e me deu alta. Mas ainda não consigo lembrar do que aconteceu", expliquei. "A senhora sabe como meu avô está?", perguntei preocupada.

"Não se preocupe, já liguei para o hospital, ele está bem", me tranquilizou.

"Que alívio. E Bianca?"

"No quarto 367", disse baixinho.

"Ela também está aqui? Por quê?", perguntei confusa e preocupada.

"Vocês se machucaram. Ela quebrou o braço, e você bateu a cabeça. Eu estava indo para o quarto dela agora", esclareceu.

"Vou com você", disse, seguindo-a pelos corredores.

Logo chegamos ao quarto e vi Bianca com um braço engessado.

"Ainda bem que está bem, Sophie!", me  abraçou aliviada.

"Como nós nos machucamos juntas?", perguntei, tentando entender.

Ela me olhou, confusa, e depois para a mãe, que balançou a cabeça negativamente.

"Ela não se lembra do que aconteceu", contou.

"Meu Deus. Por que tanto suspense? Meu avô está bem mesmo?", me preocupei.

"Ele está bem, só que...pode sentar?", pediu.

Me acomodei na cadeira ao seu lado, aguardando suas palavras.

"O que você lembra?", questionou Bianca.

"Lembro de ir ao hospital ver meu avô, correr para não perder o ônibus e ser atingida por um carro", respondi.

"Não, isso foi há algum tempo. Era sobre o cara arrogante", disse, tentando me lembrar.

"Cara arrogante?", repeti confusa.

"Deixa para lá. Você se lembra de ter colocado sua casa à venda?"

"Claro que lembro", respondi. "Aliás, preciso voltar logo para esperar Luiza e a moça que vai comprá-la."

"Sophie, você a vendeu", disse com cuidado, me deixando extremamente surpresa e feliz.

"E por que estão tão sérias? Isso é ótimo!", falei, vendo suas expressões cansadas.

"Deveria ser, mas você foi roubada, Sophie", revelou.

"Roubada? Como?", exclamei, indignada, me levantando.

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