Capítulo 07

Por que ele sempre chegava de fininho? Ou será que eu que estava muito distraída com o trabalho? Não saberia dizer ao certo, mas aquela aproximação era tudo que eu não queria que acontecesse.

— Tudo bem, não precisa se preocupar. Só não imaginava ter mais alguém aqui. A voz diferente me assustou. Normalmente, é o Sr. Manoel quem vem verificar as luzes. — Me justifiquei.

— Estava de saída quando reparei haver mais alguém aqui. Pronto, todos os lápis recolhidos. Você realmente é muito boa no que faz. — Ele pegou meu caderno e começou a folheá-lo. Então, lembrei que os desenhos do hotel estavam nele, e tudo que não queria, era mais problema com meu chefe.

— Posso pegar de volta senhor? Preciso correr para não perder meu ônibus. — Ele me devolveu o caderno de esboço antes de chegar nos desenhos do hotel, e respirei aliviada.

Dava graças a Deus por ele não lembrar exatamente de nossa conversa na porta do banheiro. Qualquer outra pessoa que estivesse em meu lugar, ficaria feliz se, naquele momento, ele visse os desenhos. Seria um passo para desmascarar o meu chefe, mas não usaria isso. Iria mostrar que apesar da puxada de tapete dele, era mais que capaz de me destacar de outras formas. Gradualmente, isso já estava acontecendo. O simples fato do dono da Aquiles elogiar meus desenhos e projetos já era um degrau a mais para meus objetivos. Queria acreditar que estava no caminho certo de onde pretendia chegar. Após deixar tudo organizado, me despedi dele.

Enquanto estava na parada de ônibus, um carro parou próximo a mim. Meu coração foi ao pé, imaginando mil e uma coisa que poderia acontecer ali, porém, quando o vidro abaixou, vi ser o Sr. Erick novamente.

— Onde você mora? — Ele perguntou. O encarei sem entender porque ele queria saber onde eu morava. — Vamos, eu te dou uma carona e assim podemos conversar mais a respeito de seu projeto. — Olhei para ele surpresa e sabe aquele ditado que diz: “gato escaldado tem medo de água fria”, me vi nesse dilema. Não querendo compará-lo ao escroto do Frank, mas depois do que passei não tinha como não ficar desconfiada, ainda mais depois do que rolou entre nós.

— Sr. Erick, agradeço mais uma vez, porém prefiro conversar com o senhor amanhã em nosso horário de expediente. Não quero comentários sobre mim na empresa.

— Entendo perfeitamente seu ponto de vista, e admiro seu posicionamento. Você ficou até tarde trabalhando para minha empresa, nada mais justo do que a empresa lhe conduzi até em casa. Vamos entre! — Ele não deu margem para eu recusar.

— Obrigada, Sr. Erick. — Ele apenas acenou com a cabeça. Depois que digitei o endereço no GPS, ele voltou a dirigir, enquanto eu me mantive em silêncio.

— Então, você sempre quis trabalhar com designs? — Ele me perguntou. Aquilo me fez sorrir.

— No início pensei em arquitetura, mas depois que conheci a área de designs me apaixonei.

— Não é um pulo muito grande de um para outro. Digo porque sou formado em ambos, mas o coração bateu um pouco mais forte pelo design. — Fiquei surpresa pelo que ele falou. — Mas você realmente é ótima no trabalho. Poucos conseguem detalhar tão bem um projeto.

— Minha amiga diz que nasci para isso. Ela tentou me incentivar na moda, mas preferi o design de interior.

— Percebi que o projeto que você estava trabalhando a pouco, não é o mesmo que você estava trabalhando pela manhã.

— Correto, não era. O primeiro era uma boutique. O segundo era uma residência. Fui visitá-la um pouco mais cedo e pude conversar um pouco com a proprietária, isso facilitou um pouco as ideias. Estou conseguindo desenvolver um trabalho mais próximo do que ela deseja.

— Nunca pensei dessa forma, porém, você não está errada nesse sentido, Lisa.

O silêncio que se seguiu foi reconfortante. Porém, me dei conta que ele descobriu meu nome. O Sr. Erick era um homem muito atraente. Sendo sincera, gostoso seria a palavra que o descreveria bem, afinal tinha provado um pouquinho dele. Fiquei temerosa de pegar aquela carona, mas nossa conversa fluiu bem, como dois colegas de trabalho conversando. Quando me dei conta, estava em minha rua e logo em seguida defronte ao meu apartamento.

— Muito obrigada pela carona, Sr. Erick. Boa noite e bom descaso para o senhor! — Me preparei para descer do carro, mas ele me parou antes que o fizesse.

— Lisa, não queria que ficasse um clima estranho entre a gente na empresa, afinal trabalhamos juntos, mas percebo que você fica sempre tensa com minha aproximação. O que aconteceu entre nós, jamais teria acontecido se eu soubesse que você era uma funcionária minha, porém quero que você saiba que todos meus elogios quanto ao seu trabalho, nada tem a ver com o que aconteceu entre a gente.

— Eu agradeço pelo seu esclarecimento, Sr. Erick. Vou tentar relaxar, mas é porque realmente fiquei muito surpresa por encontrar o senhor daquela forma, acho que o choque vai passar aos poucos. Vou indo agora, boa noite!

— Uma boa noite e bom descanso para você também! — Desci do carro e ele seguiu sua viagem. Diferente do Frank, ele havia me tratado com total respeito, e aquilo me deixou feliz.

A sexta-feira havia finalmente chegado. Desde a segunda, quando fui chamada atenção pelo Frank por conta do meu atraso, tinha cumprido rigorosamente todos meus horários. Havia montado uma mesa para trabalhar em casa, então se aquele idiota pensava que hoje seria o dia que ele pisotearia em cima de mim, apontando que não sou eficiente, estava muito enganado. Hoje estaria presente à reunião além do Sr. Messias, o Sr. Erick, e aquilo estava me deixando nervosa. Eles analisariam nossos trabalhos apontando os pontos forte e onde deveríamos melhorar. Quando cheguei aquela sala, o Sr. Erick me encarou.

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