| Abre A Boca William

William: A Jaqueline sai vestida do banheiro. O cheiro dela fica em todo canto, ela está com uma roupa simples, diferente das que usa no trabalho. É possível ver que tem curvas bem acentuadas e não faço ideia do porquê se esconde naqueles ternos horripilantes. Ela pega uma mala e coloca algumas roupas, acessórios e itens de higiene pessoal. Seguimos até a minha cobertura falando sobre assuntos aleatórios, nada importante.

Jaqueline: William me faz rir contando que o Andrew, perguntou se o Maicon estava mentindo para Aline. Ajeito óculos com o dedo sem querer.

Desculpa.

William: Encaro a Jaqueline sem entender o motivo dela ter ficado séria e de ter se desculpado.

Não entendi.

Jaqueline: Ajeitei o óculos, foi sem querer.

William: E se desculpou por isso?

Jaqueline: É um hábito que estou tentando mudar, sei que é irritante.

William: Acredito que é um hábito comum para quem usa óculos e se quer saber, acho fofo você ajeitando os seus óculos.

Jaqueline: Fico super sem graça com o elogio do William. Chegamos a cobertura de um prédio que fica perto da empresa.

William: Jaqueline, esse é o meu apartamento, tem alguns quartos de hóspedes e quero deixar claro que estamos aqui pela segurança que o prédio oferece. Não irei te desrespeitar e pode ficar a vontade, o tempo que precisar.

Jaqueline: Solto a respiração que estava segurando sem me dar conta. Tenho vontade correr sem olhar para trás. William me encara preocupado, devo estar branca agora, não imaginava que ele me traria ao apartamento dele. Só morei com um homem na minha vida, porque nem pai tive e passei por tantas coisas que é assustador estar sozinha com o William no espaço dele.

Estou com medo, me perdoa. Não quero ser injusta, fez tanto por mim, mas é um sentimento que não controlo.

William: Senta aqui, vou pegar uma água para você e vai me contar, porque está tão assustada.

Tento ligar para o Maicon e ele não atende, estou preocupado com o Andrew e queria muito um conselho sobre a Jaqueline. Ela está assustada e parece com medo de mim.

Jaqueline: William sai e tento controlar a minha ansiedade. Repito para mim mesma, ele não é o Diogenes, várias e várias vezes. Ele volta com a água e bebo toda. Quando fico nervosa bebo muita água.

William: Porque tem uma medida protetiva contra o seu ex-marido?

Jaqueline: O óculos, é um trauma. Ele me bateu no rosto, porque se irritou comigo ajeitando. Não foi a única vez que me bateu.

William: Não sei explicar a razão, mas fico revoltado. Preciso disfarçar a raiva que me dá ouvindo a Jaqueline.

Jaqueline: O que todos se perguntam é porque nos sujeitamos a isso, talvez essa seja a sua dúvida. No meu caso, tinha 17 anos quando o conheci, quase 18 anos. Ele era tão paciente e carinhoso, que me apaixonei. Me entreguei por inteira e só esperamos que completa-se 18 anos para casar. Entrei nesse relacionamento cheia de sonhos e ele começou a se mostrar com coisas sutis. A primeira coisa, foi sugerir que cuidasse da casa, disse que logo teríamos filhos e que o deixaria tranquilo saber que estava em casa segura, cuidando deles. Aos poucos ele mudou a minha forma de me vestir, se quer percebi, porque o Diogenes dizia que era porque ficava mais bonita. Em seguida foi a minha alto estima, não podia mais me arrumar como antes e comecei a me sentir feia, era como se só ele fosse me querer.

Willian: Jaqueline faz uma pausa, a sua voz soa embargada e sinto o meu peito doer ouvindo ela. Uma sensação ruim.

Não precisa continuar.

Jaqueline: Quero que saiba quem é o Diogenes. Ele é manipulador e tenho medo que te machuque por estar me ajudando Willliam. A pior parte veio quando me tornei uma inútil, não ajudava financeiramente em casa e só dava trabalho. Por minha culpa, começou a beber, tudo isso segundo o Diógenes. Eu acreditei, me senti mal e tentei de tudo para ser melhor. A casa era impecável, econômizava tudo que podia e cozinhava almoço e jantar para ter sempre comida nova. Nada era suficiente, mas piorou quando ele bebia e começou a me bater. Poderia ter ido embora, mas estava destruída, não tinha para onde ir e ninguém a quem recorrer, porque ele me isolou de todos e nem me dei conta. Me sentia tão culpada pela ruína dele, que era como se tivesse obrigação de aguentar as consequências.

Estava... Estava grávida, dois meses, uma vida crescendo no meu ventre que me deu esperança. Pensei, se ele não mudar agora por esse bebê, vou embora. Preparei uma surpresa e o Diogenes chegou bêbado, ele me agrediu e tive um aborto espontâneo. Fiquei com depressão, perdi a vontade de viver e os insultos se tornaram tão constantes que me acostumei a ser tratada como lixo. Um dia, sai de casa sem rumo, ouvi falar de uma agência de saúde mental e conheci a dona na porta. Menti para ela e para mim mesmo que o Diógenes era bom, que ele só me batia devido à bebida, mas com o tempo de tratamento, entendi que a culpa não era minha e recomecei.

William: É difícil imaginar você passando por tudo isso, fica um sentimento de impotência, misturado com revolta e por fim alívio por ter conseguido entender que não teve culpa. Mais ainda, porque saiu desse relacionamento e recomeçou. Farei de tudo para que o Diógenes nunca mais toque em você Jaqueline!

Jaqueline: Você tem um coração tão bom quanto o do seu irmão. Obrigada William.

A campainha toca, seco as minhas lagrimas, enquanto o William vai atender a porta. Levo um susto com uma loira, alta, peituda tirando o sobretudo e agarrando ele.

William: Praticamente tiro a língua da Nessa da minha garganta, oh mulher afoita. Minha nossa, ela está nua, com os peitoes no meu peitoral. Me afasto dela rápido, porque também não sou de ferro.

(Nessa, 24 anos)

Nessa: O que houve gostoso, não está no clima?

William: Nessa nota a presença da Jaqueline e acena com uma expressão confusa. Ela sobe e fecha o sobretudo. Graças a Deus!

Não estou sozinho Nessa!

Nessa: Abre a boca William.

Jaqueline: A Nessa tira um chiclete da boca do William e coloca na dela de volta. A situação fica ainda mais constrangedora.

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