Capitulo 18

Kiara

Rodrigo me conta o que passou nas mãos do infeliz. Ele conta que Rômulo descarregou nele choques elétricos. Mas que os soldados disse que ele teve sorte. Pois o "Don" não quis o machucar. Pelo jeito só assustar. 

Pois como dito do soldado para Rodrigo. Nas torturas que o Don faz, as pessoas não saem vivos. São torturados lentamente até a morte. 

Bom. Sei que isso realmente acontece nesse mundo da máfia. Eles fazem isso com os inimigos e com traidores. E a, os que fazem por prazer. 

Munique me contou que já participou de tortura. Ela me contou com riquezas de detalhes como foi. E claro, o motivo.

Foi um infeliz do seu soldado, que estuprou uma das filhas da empregada. A menina tinha apenas 11 anos. Uma tristeza.

Ela me contou que não permitiu que o marido o tocasse. Pois queria ela mesma fazer isso. E como ajuda levou mãe da menina. 

A mãe da menina era mãe solteira. E estava se sentindo culpada por tudo que aconteceu com a filha.  

Uma das palavras que Munique me disse. E que não esqueço jamais. Ódio e tortura, é uma coisa que caminha lado a lado. Na hora do ódio a gente sega, e acaba cometendo as piores atrocidades. Mas depois a culpa vem com tudo. 

Foi a primeira e única tortura que ela fez. Depois disso não teve coragem de fazer mais.

E com isso eu penso. Será que eu teria coragem de fazer algo assim? É difícil pensar me vendo fazer isso. Sou impulsiva, tenho os meus ataques de raiva. Mas não acho que sou capaz de tanto.

Tive uma conversa com Rodrigo a respeito dele ficar aqui comigo. E trazer a Daniele pra cá. E cheguei a conclusão que eu não posso trazer os dois pra esse mundo. Os dois não, os três. Não podemos esquecer do filho deles que está a caminho.  

Claro que Rodrigo se sentiu obrigado a ficar aqui comigo, como eu pedi no começo. Mas depois de muito conversar com ele. Explicando o que é de verdade esse mundo. 

Rodrigo finalmente me entendeu e decidiu que não pode mesmo ficar. 

Sim! Seria maravilhoso ter o Rodrigo ao meu lado. Mas não posso ser egoísta a esse ponto. 

Já tem aqui ao meu lado as duas pessoas que não gostaria jamais que estivesse nessa comigo. Minha mãe e meu filho. 

Trazer Rodrigo e sua família também, seria muito egoísmo. 

Depois do momento com Rodrigo. Segui caminho de volta para o casarão junto do poste que Rômulo colocou na minha cola como babá. Vitor.

Pelo menos ele teve a decência de me deixar sozinha no quarto com Rodrigo. Rum. E não deixa pra ver! 

Era o momento de ir de encontro a Daniele. Ainda não sei como vou encarar, e falar a mentira que Rodrigo me pediu pra contar.

Ele não quer deixar ela apavorada. Então achou melhor dizer que ele teve que fazer uma viagem de última hora com o patrão. E sério! Não sei se vou ser capaz de mentir pra Daniele. 

Finalmente depois de um pouco de caminhada. Chego na frente do casarão. Entro a procura de minha mãe. Vou até o quarto onde ela e o meu filho estava. E não a encontro ali.

Volto pelo mesmo percurso que fiz, a procura de Pedro. E o encontro com o mesmo rapaz de antes. Diogo.

Me aproximo deles chamando por Pedro que logo vem ao meu encontro. 

— Pedro. Onde está a sua vó?

— Ela desceu comigo e encontrou aquela senhora simpática no caminho. 

— Senhora simpática?

— Deve ser a Lurdes, governanta, senhora. 

Olho para o dono da voz, que engole em seco vendo o meu olhar de descontentamento.

— Sen o quê?

Falo o repreendendo, e ele me encara com receio. Deus que homens frouxos. Com medo de uma mulher!

— Desculpa. Kiara! 

— Ótimo! Assim é bem melhor.  Rum, senhora. Era só o que me faltava.

Falo a última frase alto demais, enquanto caminho na direção da casa. Não tinha a intenção de que eu fosse escutada. Mas agora foi. 

Entro na casa novamente procurando pela tal Lurdes. Sigo pelo andar de baixo, e já não sei quantos cômodos já passei e nada de encontrar nenhuma das duas. 

Deus, vou ter que providenciar um mapa dessa casa. Sinto um cheiro familiar. E é inconfundível. Lasanha da mamãe. Sigo o cheiro, e finalmente encontro a minha dona Kira na frente do fogão mexendo as panelas. Ao lado dela cortando legumes, batendo papo adoidado. 

A senhora que encontrei mais sedo, imagino ser ela a tal Lurdes. Fico no batente da porta com os braços cruzados, reparando as duas ali conversando como se fossem amigas de tempos. E um sorriso brota nos lábios. 

Dona Lurdes se vira me vendo parada na porta. E percebo a mulher ficar branca como papel. E só aí me toco que acabei sendo grossa com ela mais cedo. 

Meu pai. Será que eu passo tanto medo assim nas pessoas? Mas o senhor está de prova que eu só fiz isso porque estava com raiva, e preocupada né?

Sabe que não briguei com a dona Lurdes por mal?

— Kiara minha filha. Já estava preocupada com você.

Mamãe fala ao se vira com uma colher de pau na mão. Provando o tempero do molho, que nem preciso provar pra saber que está bom.

— Eu fui vê como um amigo meu está.

— Então você já tem amigo aqui? 

Não se confundem. Não contei a mamãe sobre Rodrigo. Não queria deixar ela assustada. Já basta ter que ficar aqui nessa casa. 

— É um amigo que veio comigo mamãe! Tá fazendo lasanha? Hum o cheiro tá maravilhoso!

— Tô sim. Mas foi uma luta pra Lurdes me deixar fazer. Ela ficou falando que o patrão dela poderia não concordar. 

Mas você já me conhece, não é minha filha? Não gosto de ficar parada. 

— É, eu sei! E não se preocupe, dona Lurdes. Eu mesmo converso com o seu patrão sobre isso. Está bem?

— S-Sim senhora. 

Qual a desse povo com esse negócio de senhora pra cá.  Senhora pra lá. Aí, eu não suporto isso. 

— Kiara. Apenas Kiara por favor, dona Lurdes!

— Mas senhora eu não sei se...

— Se o patrão vai concordar. Meu Deus!

Desdenho completando o que sei que ela vai falar. E acabo falando as últimas palavras ríspidas de mais. Olho pra senhora que continua pálida e assustada me encarando. E agora chamou a atenção da minha mãe com a sua postura assustada.

— Ela não gosta de ser chamada de senhora. Acha que isso a deixa velha de mais.  

— E eu tenho razão, mamãe!

Falo me aproximando mais das duas. Preciso tirar essa primeira impressão ruim que deixei na coitada da dona Lurdes.

— Mas vem cá Lurdes. Por que está tão pálida assim? Tá passando mal? 

Mamãe pergunta, e dona Lurdes me encara com os olhos mais arregalados possíveis. Se é que tem como.

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