Escolhida

Não tinha a intenção e assustar ou machucar a roxinha, na verdade, eu saí de perto para justamente não fazer isso. Quando li a mensagem com a intimação para o baile, soube que teria que me apresentar com ela.

A diferença é que posso escolher como a apresentar, mas de qualquer forma precisei pedir um tempo maior para os membros e claro que isso teve consequências para mim.

Quando me lembrei que ela ficou na cama, passei apenas na padaria para comprar algo que disfarce a minha saída as pressas, mas me surpreendi quando a vi ali preparando o café da manhã.

O seu olhar de dúvida para a comida me divertiu, ela se sentia bem, alegre e principalmente despreocupada.

— Não queria te assustar — a seguro erguendo o seu corpo no ar, para diminuir a pressão no seu pé.

— Eu poderia… eu… — ela engole seco nervosa pela nossa aproximação.

— Estava até agora a pouco sentada sobre a minha bünda mexendo onde falei para não deveria tocar e está tímida apenas porque te tirei do chão?

— Seu imbecil me coloca no chão — seguro o riso ao ver a mudança no seu comportamento e já ciente que ela vai reclamar mais ainda — Me levanta… Aiaiaiai, ta doendo.

Eu tinha noção que ao colocar ela no chão a dor voltaria, mas não entendi o motivo disso mexer tanto comigo, já que escutar ela choramingando de dor, fez o meu corpo reagir sozinho.

A ergo sentando no balcão da cozinha enquanto ela me olhava atentamente, antes mesmo que eu toque no seu tornozelo ela tenta segurar a minha mão e isso me fez sorrir.

— Não desça — ela confirma com a cabeça engolindo seco novamente, vou até o quarto pegando uma pomada que ajudará a aliviar a dor.

Com toques leves vou massageando e aplicando mais pomada assim que era absorvida, isso a fez relaxar e até mesmo sorrir, mas antes que eu pudesse falar alguma coisa a sua barriga voltou a roncar.

Nego com a cabeça quando ela ameaça a descer do balcão quando me viro para terminar de preparar o café da manhã. Em completo silêncio, ela acompanhava os meus movimentos atentamente.

Preciso pensar numa forma de avisar que preciso dela, no baile, mas faço isso depois que ela comer, já que assim o seu humor melhora consideravelmente.

— Olha, Otto, eu não quero ser intrometida, mas aconteceu alguma coisa?

— Sim — acabo sorrindo com ela revirando os olhos pela minha resposta curta — Estou sendo forçado a comparecer acompanhado num evento que não quero ir.

— Owwww, agora faz sentido o seu péssimo humor.

— Que ótimo que entende, pois, é você que vou levar comigo neste evento.

— Não está falando sério? — como não a respondo ela me acerta com um tapa no meu ombro — Me diz que isso é uma brincadeira.

— Por que fica me batendo se estou cuidando de você?

— Você cuida de um lado e me complica do outro, como vou num evento? E se o louco do meu suposto noivo me acha? Pior… Se os meus pais me encontram?

— Calma roxinha, nesses eventos posso te garantir que os seus pais não vão nem ficar sabendo — os seus olhos estão fixos em mim e por alguns segundos me sinto perdido neles.

— Não consigo nem parar em pé ainda.

— Será daqui a algumas semanas e... bom…

— Fala de uma vez Otto.

— Para que você não corra perigo, você vai ser apresentada como a minha escolhida — até me assustei quando ela ergueu o meu rosto me puxando pelos cabelos, já que havia voltado a minha atenção para o seu pé.

— Sua namorada?

— Noiva…

— Não, esquece isso não vai dar certo.

— Me lembre por favor em que momento avisei que poderia negar?

Ela apenas me olhava abrindo e fechando a boca, mas nenhuma palavra saiu da sua boca, pelo menos não naquele momento. Porém, o seu olhar era tão intenso e carregado com ódio que me impressionou.

O nosso convívio é de poucos dias, mas eu a conheço há muito mais tempo, seja pelo dossiê ou pela semana que fiquei a observando eu já conseguia saber que ela está esperando o momento para surtar e principalmente fugir.

Não vou facilitar para ela principalmente quando o assunto é a sua fuga, mas também não quero forçar muito, sinceramente não faço a menor ideia de como conduzir essa situação.

Optei em não sair daqui até que ela volte a conversar pelo menos comigo, só não esperava que ela fosse tão dura na queda assim. Estamos há quatro dias em completo silêncio.

Se ela quer ficar calada por mim tudo bem, mas não saí do seu lado nem que seja para brigar comigo ela terá que se comunicar. Ou era isso pelo menos que eu esperava dela.

— Isso não vai dar certo, o que acontece se nos descobrirem?

— Morremos — depois que percebi que poderia ter sido um pouco mais delicado com a verdade, já que ela voltou a conversar comigo.

— Está arrumando uma desculpa para me agarrar? Esquece, se fosse fazer já teria feito, mas me explica o motivo, eu preciso entender.

— Eu pedi para sair — não sei o motivo de estar contando a verdade, mas pelo menos agora tenho a sua atenção — Mas não saiu como planejei, por isso fiquei tão irritado quando recebi o convite.

— Se é um convite, então pode negar, simples não vamos… — a sua voz foi morrendo no final, provavelmente ela deve estar processando o que eu disse — Precisamos mesmo ir?

— Sim, sou obrigado a comparecer e não vou deixar você sozinha para se meter em mais encrencas — não consigo segurar o sorriso ao ver ela revirando os olhos — Se ficar ao meu lado como noiva…

— Namorada, ou é isso, ou me devolve para os meus pais — ela dá uma pausa respirando fundo — Olha, estou fugindo há alguns anos para não me casar com qualquer um, pouco me importa o que foi negociado, é a minha vida, você me ajudou e ainda me ajuda sei disso, mas não vou me passar como a sua noiva.

— Posso dar um jeito nisso.

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