Alguém clareou a garganta atrás de nós e eu percebi que esse alguém estava a chorar.
— Filho. Ainda bem que voltaste... Já estás bem. — disse Alice aliviada a limpar as lágrimas.
— Mãe, pai, desculpem por ter-vos preocupado, mas eu vou ficar bem com o tempo e com a ajuda do Tobias. — diz Richard confiante. — Ele mostrou-me que sou preciso aqui e que não posso deixar que o que os outros me dizem e fazem me guie pelos caminhos que eles querem e desejam. — referiu Richard.
— Filho, precisamos de saber o que se passou de manhã. Tens de nos contar. — Implorou Jonathan.
— Não lhes contaste? — perguntou-me Richard.
— Não. Achei que devias ser tu a contar-lhes a história toda desde o início. - respondi eu.
— Muito bem... Obrigada Tobias realmente penso que a maneira mais fácil de tentar ultrapassar é a falar sobre isso, portanto eu conto-vos. — disse Richard e respirou fundo para começar.
Ficamos todos em silêncio enquanto o ouvíamos a relatar os factos, mesmo aqueles que eu não sabia.
Eles andavam a torturá-los desde os sete anos, ou seja, já há quase três anos, por os pais terem sido expulsos e acusados de traição pelos nossos.
Normalmente eles faziam isso sempre que ele estava sozinho, mas nos últimos meses eles não o atacaram e ele pensou que o deixaram ficar em paz, até que aconteceu isto hoje.
— Eles atormentam-te há quase três anos? Como nunca disseste nada e nós nunca percebemos? Estavas sempre tão sorridente e nunca fazias cara de dor. — perguntou a mãe a chorar.
— Ia ao doutor e dizia que caí a brincar ou que bati em algum sítio. Ele nunca me fez muitas perguntas, só me dava comprimidos para as dores e curava as feridas. — explicou ele envergonhado.
— Ah filho... Não devias ter escondido isso de nós. — disse Alice. — Não o voltes a fazer.
— Sim, filho, a tua mãe tem razão, nós somos teus pais, estamos aqui para ajudar. Continua a história. O que se passou a seguir? — perguntou Jonathan a olhar com atenção para Richard.
— Hoje quando o Tobias e a Maya foram à sala de aula e tiveram uma conversas com os nossos colegas de turma por não nos estarem a tratar de maneira justa, eles devem ter saído da sala a falar sobre a conversa e o Xavier junto com os amigos deviam estar perto e perceberam que estávamos juntos escondendo-se para não serem vistos, a Maya saiu muito triste e chateada e a odiar-nos a pensar que somos a causa de todos os problemas dela. — Continuou Richard e vi lágrimas escorrer em pela cara dele.
— Richard eu não penso isso... Tu és muito importante par mim. Aliás, os dois são muito importantes para mim... — diz Maya quase sem voz.
— Sim querido, a tua irmã não pensa isso. — disse Alice. — Ela tem estado muito preocupada com ambos... Não sai daqui mesmo connosco a mandar. — explica Alice dando um abraço na filha.
— Xiu Alice, deixa-o continuar. — Falou Jonathan e fez sinal a Richard para continuar.
— Ela saiu disparada da sala, mas eu e o Tobias ainda ficamos a falar sobre coisas sem interesse e quando saímos vimos que o Xavier e os amigos estavam à nossa espera. Eu percebi logo que o Tobias ia perceber o que se andava a passar e quem eles eram e fui-me abaixo, não me consegui defender nem a ele. Senti-me fraco por estar frente a frente com eles novamente quando pensei que já estava seguro, mas afinal eles queriam apanhar os dois juntos desta vez. - Continuou ele.
Parou um pouco para beber água e continuou logo a seguir:
— Tobias tentou arranjar um modo de nos fazer sair de lá sem sermos um saco de boxe, mas eu estava com demasiado medo para me mexer e quase deitei tudo a perder. — disse ele e começou a tremer.
Eu dei-lhe a mão e apertei e ele continuou mais calmo.
— Eles querem fazer-nos sofrer pela decisão que vocês tomaram de mandar os pais do Xavier embora e a maneira que acharam de fazer isso foi de nos magoarem. Tenho medo que tentem algo com a Maya a seguir, mas penso que não, visto que podiam ter-lhe feito algo quando ela saiu sozinha da sala. — Continuou Richard.
— O importante são vocês. Eles nunca lhe fariam mal. Ela é apenas uma garota... Julgas que lhe fazem mal só por ser nossa filha? — perguntou Jonathan a olhar de lado para Maya.
— Não sei, mas eles deixaram bem claro que não iam parar de vir atrás de nós para nos infernizar a vida. Eles bateram no Tobias e tinham-nos encurralado, mas ele foi mais ágil e mais rápido que eles, porque enquanto eles nos diziam coisas horríveis como que nós não prestamos e que o mundo estava perdido se dependesse de nós, o Tobias conseguiu arranjar um buraco para se escapar e arrastou-me com ele. — Continuou Richard.
Eu olhei para ele e ele para mim a pedir-me desculpa com os olhos por não ter conseguido reagir.
— Eles estão obstinados em infernizar-nos a vida e na altura queriam fazer-nos chorar e implorar por vocês. Então seguiram-nos e bateram-nos e foi então que eu desmaiei e o Tobias formou a bolha de proteção à nossa volta. — Concluiu Richard.
— Nós vamos resolver isso filho, não te preocupes. — disse Jonathan.
— Mas esse não é o único problema. — referi eu irritado pela desinteresse que ele mostrou para com Maya e por continuar com a conversa de que resolvem o problema.
— Então qual é o problema? — perguntou Jonathan.
— Os nossos colegas não nos falam, afastam-se de nós, querem distância e agora com isto devem ter ainda mais medo de serem vistos connosco, medo de serem os próximos a sofrer as consequências. Estamos completamente isolados dos outros, aliás, até a Maya já não se quer dar connosco porque ninguém se aproxima dela, dizem que ela é estranha e que se dá com pessoas perigosas, ou seja, nós. Todos os amigos que ela tinha já nem olham para ela e eu sinto-me péssimo por isso. — explico eu.
Maya aproxima-se de mim e de Richard e da-nos um abraço.
— Desculpem por ter-vos abandonado... Eu não vos odeio, não poderia... Eu amo-vos aos dois. Vocês são a minha família. — diz Maya e da beijo na nossa testa.
Jonathan olhou para mim e concordou:
— Sim, Tobias, é verdade o que estás a dizer. Todos têm de perceber que vocês não vão mudar o mundo sozinhos. Vou pedir ao Marcus para enviar mensagem de holograma para todos os líderes de todas as bases e para enviar também para todos os dormitórios e casas daqui. Precisamos de ter uma reunião urgente com todos.
— Para que horas deve ser enviada a mensagem? Eu vou falar com ele e tu ficas aqui de olho neles. — diz Alice.
— A reunião é para depois do almoço, e a mensagem para as oito da manhã. Assim todos observam a mensagem e o aviso. — pede Jonathan.
Alice saiu a correr e Jonathan pergunta:
— Vocês querem ficar aqui ou querem ir para casa?
— Para casa! O mais rápido possível por favor. Já tenho passado tempo demais nestas malditas camas. — reclamo eu.
Jonathan ri-se com vontade e ajuda-nos a sair da ala hospitalar.
Assim que chegamos a casa eu e Richard caímos na cama e no sono.
Eu adormeci a pensar se o dia seguinte ia ser melhor ou pior que este...
Santo Deus... Richard sofre desde os 7 anos...
Uma criança de 7 anos a sofrer bullying desta maneira é horrível...
Os pais deixam de lado a Maya, mas será que ela está realmente segura?
O que será que vai acontecer no dia seguinte?
Qual será a maneira que Jonathan e Alice vão arranjar para proteger as crianças?
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Atualizado até capítulo 75
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