XI

Eu sabia que estava vivo ao ouvir a voz de Alice a gritar com alguém a dizer:

— Nem penses em aproximar-te daqui. Sai. Já fizeste estrago que cheguem.

Do outro lado só ouvi um riso de escárnio e alguém a bufar de raiva.

Senti uma mão na minha perna e uma cabeça na minha coxa e percebi que alguém estava a dormir em cima de mim.

Estava tão cansado que o meu cérebro desligou e ofereceu-me uma noite péssima com pesadelos que nunca mais acabavam.

Os pesadelos que tive desta vez não foram tão vividos quanto o último, mas foram muito intensos.

Primeiro sonhei que estava a ser arrastado pelo Xavier e o seu querido grupo para o mar e que eles me afogavam, suponho que sonhei isso por saber que o espírito do Xavier é um espírito marítimo e por ele nos querer ver mortos e enterrados.

A partir daí os sonhos mudaram e foram bem mais reais.

O sonho seguinte mostra que a Maya estava prisioneira ao meu lado e eu precisava de a salvar ou morreríamos os dois. Eu conseguia vê-la na cela dela e estava muito mal tratada cheia de hematomas e feridas abertas.

O pesadelo seguinte mostrava que eu, Maya e Richard estávamos no topo de uma montanha linda, a vista era única, as nuvens viam-se de perto, o céu limpo e azul era lindo de se ver, para além do céu e das nuvens a montanha estava coberta de neve que todos adoramos. De repente Maya escorrega e cai pela montanha abaixo para a morte.

Quando esse pesadelo chegou ao fim eu acordei sobressaltado e bati com a cabeça em algo.

— Au! — queixei-me eu. — Richard?

— Está tudo bem. Não te preocupes. Temos feito vigias e ficamos com vocês os dois para não acontecer mais nenhum incidente — disse uma voz no escuro baixinho — Vou chamar a Alice e o Jonathan — e foi-se aproximando e vi ser o líder Marcus com um sorriso alívio por estar acordado.

Eu acenei e tentei agradecer, mas não conseguia, a garganta estava seca e sentia-me mal.

Eu olhei em volta e vi que bati com a cabeça numa máquina e quase que bati no candeeiro.

Senti um peso na minha perna e olhei assustado e vi a Maya a dormir em cima de mim.

— Maya. — chamei eu com voz rouca.

Maya abre os olhos devagar, fica a olhar fixamente para mim e lança-se ao meu pescoço para me abraçar.

— Oh meu deus! Tobias eu lamento imenso. — diz Maya a chorar.

— Não te preocupes com isso Maya. Podes arranjar-me um copo de água? Estou cheio de sede. — pedi eu.

Maya foi buscar o copo e ficamos em silêncio à espera que Jonathan, Alice e Marcus voltassem.

Eu olhei para o lado e vi que Richard estava lá com a cara inchada da pancada que levara e tinha alguns hematomas nos braços e supus eu no peito e ainda dormia.

— Tobias, graças a deus. — disse Alice com um suspiro, abraçando-me. — O que se passou? O que vos fizeram? Richard está cheio de hematomas, tu também tinhas um na barriga, estou preocupada, conta-me por favor. — pediu Alice quase a gritar.

Eu não conseguia entender como uns pais não conseguem perceber que um filho está constantemente a apanhar porrada de outros mas ainda assim contei o que se tinha passado hoje.

— Aqueles quatro rapazes encurralaram-nos e empurraram-nos. Foi isso. — disse eu aborrecido porque tanto Richard como Maya estavam a ser vítima de bullying, e eles não repararam, embora um fosse física e outro emocional.

— O Richard tem hematomas antigos, não percebo como isso aconteceu ainda por cima sem termos reparado em nada. — respondeu Alice com ar culpado o que me irritou e fez dizer umas verdades.

— Pois eu também não percebo. Eu percebi e tentei defendê-lo hoje dos rapazes que lhe batem há meses e talvez anos. Uma vez vi-o a mancar da perna e estava negra. E já assisti a baterem-lhe, mas quando cheguei lá já tinham desaparecido e ele já estava de pé a fingir que estava tudo bem. — respondi eu com azedume. — No entanto, nem todos do grupo nos fizeram mal. Estava lá um, o Micael que não fez nada.

— Falhamos enquanto pais, mas agora estamos aqui e queremos ajudar. Tens de nos dizer o que aconteceu mesmo. A Maya disse que falaram com os alunos do vosso ano e que ninguém ouviu nada do que tinham para dizer, mas depois ela foi-se embora e não sabe de mais nada. — disse Jonathan.

— O que vai fazer quando souber o que aconteceu? Dar um aviso? Dizer para não fazerem isso? Assim que os denunciarmos vai ser pior vão-nos fazer ainda pior. — disse eu com raiva.

— Não te preocupes. Nós vamos fazer um comunicado geral, tais atitudes não são permitidas aqui dentro, e segundo ouvi dizer vocês não foram os primeiros com quem eles se meteram, mas todos têm medo de falar, alguém tem de se chegar a frente e falar primeiro ou eles não vão sofrer consequências. — Continuou Jonathan.

— Lamento eu não vou falar, se alguém tem de falar é o Richard. Só por curiosidade, o que aconteceu com eles? Onde é que eles estão? — perguntei.

— Eles queriam vir aqui ver-vos e falar com vocês, mas nós não os deixamos, principalmente porque puseram um no hospital com o braço e ombros desfeitos, temos medo que queiram vingar-se, então montamos guarda e desde então não se voltaram a aproximar. — respondeu Jonathan.

— O Richard ainda não acordou? Esperava que ele acordasse ao mesmo tempo que eu, mas continua na mesma. À quanto tempo estamos aqui? — perguntei.

— Trouxemos-vos de manhã. Agora é de madrugada. Portanto, menos de um dia. — disse Alice ajoelhada ao lado da cama do filho.

Eu levantei-me com a ajuda da Maya e disse:

— Richard, meu irmão, acorda. Anda lá.

Eu toquei-lhe na mão e ouvi Richard num 'loop' do horror a dizer que é um falhado e que o mundo estava melhor sem ele, entre outras coisas.

Retirei a mão e respirei fundo. Os meus olhos encheram-se de lágrimas pelo horror que ele devia estar a sentir dentro dele.

— Eu ouvi a mente dele... Ele está num ‘loop’ interminável a fazer-se sentir mal a dizer que não vale nada, que sente que o mundo está melhor sem ele. Ele sente-se perdido e pensa que não vale a pena voltar. — informei eu, senti lágrimas escorrerem-me pela bochecha e senti o sabor salgado delas ao chegarem à minha boca. — Temos de o fazer perceber que precisamos dele e que ele é importante para todos nós. — disse eu a limpar as lágrimas e num tom de voz confiante. — Vou tentar uma coisa para o fazer sentir isso. Quando toco nele sinto o que ele sente, pode ser que consiga fazê-lo. — informei eu.

A sala ficou toda em silêncio para me deixar concentrar e eu ganhei coragem para voltar a tocar em Richard e sentir o que ele sente e ver o que ele vê.

Respirei fundo e voltei a tocar na mão dele, em vez de sentimentos tive uma visão, para a qual não estava preparado.

Richard estava no chão de joelhos a ser maltratado e abusado psicologicamente pelos três canalhas.

O horror dessa visão foi tanto que me afastei de repente andei para trás e bati com a cabeça com força na minha cama.

Eu suspirei ao ver que não era real e que era uma visão ou uma memória dele o que me fez ficar com a garganta presa num sufoco.

— Tobias? O que se passou? — perguntou Jonathan a aproximar-se.

— A situação é bem pior do que eu pensava... Não sei se o vou conseguir trazer de volta. — conclui eu fazendo Jonathan e Alice olharem um para o outro com raiva no ar.

Mais um capítulo gente linda!

Então… Neste capítulo tivemos mais sonhos do Tobias. O que será que elas significam?

Richard está num ‘loop’ de desgraça e vergonha... Será que vai conseguir sair dele? Será que Tobias vai ter força suficiente para o puxar para fora dessa onda?

Fiquem desse lado para descobrirem!!

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