VI

Enquanto eu pensava na profetisa sinto-me viajar e a pensar na Maya.

— Onde está a Maya? —perguntei eu sem pensar que hoje era dia de escola.

— Como assim? A Maya está na escola obviamente. — respondeu Jonathan.

— Pensei que ela fosse ficar em casa connosco hoje... — respondi eu.

— O Tobias tem uma paixoneta pela Maya pai. — diz Richard num tom de voz a zombar da minha cara.

— Não é nada disso. Tu sabes bem que ela ontem se deitou tarde para nos trazer para casa sãos e salvos. — respondi eu irritado.

— Essa conversa não tem nada de interessante e não nos leva a lado nenhum. Agora falando de coisas bem mais importantes do que isso... Vamos começar a preocupar com coisas que sabemos que podemos controlar e não nos sonhos que tiveste Tobias. Vocês vão ser os dois treinados, tanto individualmente como em conjunto. O vosso poder junto pode causar muitos danos e se não treinarem, poderá causar mais desmaios e possível trauma a nível cerebral tanto a vocês como para os outros. - explicou Jonathan.

— Eu não quero magoar mais ninguém... Nunca vos quis magoar a vocês nem a mim... Peço desculpa por isso. — disse eu aproveitando que ainda não me tinha desculpado. — A Alice está onde?

— A Alice está a tratar de coisas para a base e para os vossos treinos. Eu fiquei aqui porque tinha de falar com vocês sobre tudo isto que se está a passar nas nossas vidas. — explicou Jonathan.

— Há algo que eu não entendo pai. — disse Richard que parecia estar a pensar muito bem nas palavras. — Eu e o Tobias ainda não somos irmãos de sangue. Não fizemos o juramento, então como podemos ter tantos poderes? Há algo que nos estás a esconder?

Eu queria dizer que há sempre algo que ele nos esconde porque é a verdade mas fiquei só a observar e a ouvir.

— Não estou a esconder nada. Só que assumimos que para serem diferentes e mais poderosos, os vossos poderes conjuntos iriam despertar mais cedo, antes mesmo de fazerem os votos, mas a verdade é que não sabemos. — começou Jonathan a explicar. — Nunca aconteceu nada assim em todos os anos que já vivi. A maior ligação que já vi e presenciei foi do meu filho mais velho, o Henry, com o teu pai Tobias. Mas esta ligação entre vocês é algo especial e diferente e temos de saber mais sobre ela. - disse Jonathan tentando explicar-se.

— Está a tentar justificar as suas ações podres? E o que quer dizer com isso? Quer dizer que vamos ser novamente um produto das suas experiências com o doutor? — atirei eu à cara dele.

— Não, foi muito errado o que fiz e peço desculpa pelo meu comportamento. Queria saber mais e fiquei assustado com o poder que ambos demonstraram contra nós. — desculpou-se Jonathan.

— O poder que demonstramos não é desculpa para termos sido usados como cobaias de laboratório, vocês cortaram-nos e queimaram-nos. Isso não é humano. — respondi eu zangado.

— Tens razão Tobias, no entanto vocês conseguiram derrubar dois adultos só a apontar para nós e com o poder da mente e da raiva. — Explicou-se ele.

Eu fiquei durante um tempo a olhar para ele mas depois assenti.

— Está desculpado desde que não o volte a fazer, porque agora já estaremos sobreaviso. Já estaremos à espera. Então qual é a ideia? Como pretende saber mais sobre o nosso poder? — perguntei interessado.

— A minha ideia é a nível de treinamento e da vossa relação pessoal. Por exemplo, os poderes conjuntos só aparecem quando se faz o juramento, poderes como comunicar mentalmente um com o outro e ver através dos olhos um do outro. É isso que queremos ver se conseguem fazer sem o juramento, caso consigam, assim que fizerem o juramento será tudo muito mais forte. Queremos apenas estimular os vossos sentidos — explicou Jonathan.

Senti que ele dizia a verdade e também senti o entusiasmo crescente do Richard.

— Boa! — disse ele, confirmando o que eu sentia. — E quando começamos?

— Esta semana vão descansar, parecem ambos muito cansados ainda. Para a semana começamos a treinar as vossas emoções em casos de tensão, ao mesmo tempo que têm as vossas aulas normais. Vou pedir ao doutor para vos vir ver e fazer as análises para ver se está tudo bem. Tentem não sair muito de casa até estarem recuperados — informou Jonathan.

Algo me dizia que nós estávamos prisioneiros, mas que era para nosso bem, talvez as pessoas soubessem do nosso episódio e estivessem com medo e por essa razão tínhamos de fazer os possíveis para não sair de casa.

Eu olhei para o interior da sala e do sofá às estantes havia uma fissura de energia e tudo o que havia entre ambos os locais tinha desaparecido e havia montes de cinza no chão. Tínhamos desfeito móveis a pó com apenas um movimento de mão e muita raiva.

Eu percebi logo de imediato o porquê de nos quererem estudar e de quererem perceber os poderes que temos depois de ver a fissura que tínhamos causado na nossa sala. Se eu estava assustado com o nosso próprio poder, então imaginava os outros.

O doutor vinha todos os dias visitar-nos e dizia que estava tudo bem connosco que estávamos prontos para outra.

Maya trazia sempre matéria para nós estudarmos de todas as disciplinas, para conseguirmos acompanhar as aulas,visto que aos doze anos o nosso destino seria definido.

Eu sentia que ela estava triste com alguma coisa, mas não a queria perturbar com perguntas, embora o olhar dela me preocupasse porque estava triste e vazio.

A semana passou sem mais incidentes e sem mais sonhos. Tanto eu como o Richard descansámos o suficiente para voltar a uma nova semana de estudos e de trabalhos.

Antes de irmos para as aulas, Jonathan chamou-nos e disse:

— Já sabem, de manhã têm as aulas normais, vêm almoçar a casa e depois vamos todos para um campo especial para começar os vossos treinos de emoções em casos de tensão então preparem-se mentalmente para isso. Não quero ter de levar ninguém para o hospital por sucumbirem às vossas emoções. — informou Jonathan. — Vou pedir relatórios do vosso processo tanto nas aulas normais como nestas, portanto não quero nada menos do que o vosso melhor. — disse Jonathan com um sorriso. — Eu sei que são capazes.

Saímos de casa e quando chegamos a sala de aula rapidamente vimos a tensão no ar assim que entrámos . Todos se afastavam de nós como se tivéssemos alguma doença contagiosa e eu reparei que Maya estava a olhar para a janela, mas que algo estava errado naquela imagem, onde antes costumavam estar três colegas de turma, não estava nenhum.

Ela estava completamente sozinha. Fiz sinal ao Richard e fomos sentar-nos com ela.

Ela não nos viu ou se viu não demonstrou. Quando parou de olhar pela janela reparei que estava a chorar. Ela limpou as lágrimas e sorriu a tentar enganar-nos mas eu tinha visto.

Eu senti-me mal porque por algum motivo parecia-me que aquilo tinha a haver connosco. Percebi então que devia ser isso que a tinha deixado tão infeliz durante esta última semana, mas ainda sentia que havia algo mais.

— Maya estás sozinha irmãzinha. — disse Richard completamente alheio à situação.

Ele olhou confuso para mim talvez porque estava a sentir pena e culpa vindos de mim sem entender o porquê.

— Preferes ficar sozinha? — perguntei-lhe — Se quiseres vamos para outra mesa.

— Não te preocupes com isso. Já estou habituada. Está a ser assim há duas semanas desde o incidente. — respondeu Maya com voz triste e cansada.

Eu queria perguntar porquê, mas o professor entrou e começou a dar a aula. Eu não consegui concentrar-me, pelo facto de ela estar a sofrer as consequências de algo que não era culpa dela.

Quando a aula acabou todos fugiram tanto os nossos colegas como o professor e a única coisa que a Maya conseguiu dizer sem olhar para mim foi:

— Bem-vindos de volta e bem-vindos à nossa nova realidade. Vemo-nos na aula de desporto. — E dito isto saiu seguindo os outros.

Que dor no coração pela Maya... Coitadinha...

Muito injusta esta situação com os meninos certo?

Tobias é muito humano, muito altruísta, preocupa-se muito com o que a Maya sente e o que ela está a passar. Quem não queria ter um Tobias na vida?

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