Nova tentativa

( Os cinco sentidos despertam as boas lembranças que são terapias curativas para os meros mortais. H.S.)

Há passos seguindo para outro cômodo da mansão infernal.

São Robert e Ayla, que estão caminhando em direção à sinistra biblioteca que guarda todos os mistérios do mundo, menos a saída daquele maléfico lugar.

Enquanto caminham, Robert procura por Othan e os outros, já Ayla permanece em silêncio.

Está frustrada e esconde o desejo de cair em prantos.

Lembra do momentos em que foi feliz com o príncipe e o quanto desejou reencontrá-lo. No entanto , dói- lhe perceber como a realidade é bem diferente do que esperava.

" Que grande decepção!"

Precisa fazer o príncipe acreditar nela, mas antes precisa recobrar sua forças e aguardar o momento exato de começar a falar tudo de novo, até ele perceber o que é na verdade.

Robert para diante da enorme porta.

— Só um momento. Entro primeiro!— Ele falou em alerta.

Ayla continua em silêncio. Ainda remói o que ele sugeriu a tempos atrás.

" Ele me chamou de louca. Não vou perdoar..."

Ele abre a porta e se depara com um salão que parece ser a biblioteca da mansão. Há milhares de livros e obras de arte.

— Meu Deus! — Robert sussurra, impressionado com as telas na parede.

Há quadros em vários ângulos ou situações de monstros de três cabeças. Há também esculturas estranhas: metade humanas, metade feras. Assustador!

Ainda de olho nas artes macabras, Robert comenta:

— Desde que cheguei aqui, percebi que tinha alguma coisa errada, mas agora tenho certeza! Essa família tem problema!

Ayla o escuta, mas prefere se manter em silêncio. Se ela falar sobre a família Hust e que a tela representa o que eles são, seria chamada de louca novamente, então se mantém em silêncio. Até porque está cheia de preocupações: Precisa encontrar Magnus e fazer novo acordo com ele, sair dali imediatamente com o príncipe e quebrar o encantamento que o fez esquecer sua vida passada.

Ele continua:

— Eu sabia que nem devia sair de casa! Primeiro que eu estava de ressaca e depois tive aquele sonho estanho que nem lembro e além disso...

Ao escutar o que ele fala, Ayla se vira para ele instantaneamente. "Ele citou um sonho? Possivelmente foi esse o momento que os dois se reconectaram."

— Espera aí: vamos por partes. Você sonhou com o quê?

Ele deu de ombros.

—Não lembro, mas quando acordei, estávamos num meio de uma tempestade. Depois veio uma neblina e...

Ela pensa rápido. “Bingo! Se ele se reconectou num sonho, será que foi através de um... Beijo?! Será que é esse o segredo para que lembre do passado?”

Ele continua o relato sobre a aparição da sereia:

— Ela me chamava e eu estava tentado a ir, como se estivesse sob o efeito de algum encantamento... Então quando despertei, ela se virou e era uma sereia, acredita?! Uma sereia! Tenho certeza que a intenção dela era me afogar e me levar para o fundo do mar!

Ayla fechou os olhos. Sentiu um incômodo ciúme. “ Dhea, aquela bandida! De olho no meu príncipe, com certeza! E fingindo-se de esposa fiel! Agghhh!”

E então ao olhar para o príncipe ficou mais magoada ainda.

— Se você acredita até numa sereia, porque não acredita em mim? — Ela até que tenta controlar o soluço, mas quando ver, já está se derramando em lágrimas.

" Oh, droga! " Ela pensa. " Por que até as lágrimas não me obedecem?"

Robert fica impactado com o sofrimento da garota e diminui a distância rapidamente, abraçando-a como se fosse um bebê.

— Não chore, por favor... — Foi pior. Ela chorou mais alto ainda. — Não, não... Por favor, não!

Robert não sabe o que fazer. A mulher está mesmo muito magoada. Tudo culpa dele. Que estúpido!

— Me perdoe... Eu não quero magoar você! Mas por favor, não chore assim...

Ayla ouve a voz macia de Robert e pela primeira vez, depois que o viu, sente-se mais reconfortada. Talvez fosse infantil se comportando daquele jeito e sabendo que ele não a reconhece, mas quer tanto o seu príncipe de volta. Ama-o tanto!

Robert sente a maciez de Ayla e um repentino tremor se passa pelo seu corpo. Como descrever aquele abraço? Ela é tão delicada, tão sensível...

— Olha, Ayla, acho que fui grosseiro em não ter ouvido você direito. Vamos começar tudo de novo, está certo?

Ela enxugou as lágrimas com as pontas dos dedos.

— Desculpe...Eu não tinha a intenção de chorar... Na sua frente...

— Por favor, eu que peço desculpas...

Ele ergue o seu queixo e se concentra nos olhos lindos de Ayla.

Ela o fita apaixonada. Agora sim, ele estava se comportando como um cavalheiro.

Acaricia o seu cabelo com carinho, colocando uma mecha por trás da orelha e arrasta propositalmente a costa da mão pelo seu rosto. Sente desejo de beijá-la, mas acaba dizendo:

— Vamos sentar ali, tá?

Ela olha uma grande poltrona por trás deles e concorda com a cabeça.

Ele se afasta dela, mas sem intenção de largá-la, segue de mãos dadas e ao sentar, torna trazê-la para seus braços. Ayla fica confusa se deve ou não deixar-se ficar tão intimamente próxima a ele, mas estava tão bom...

— Pode começar.

A voz aveludada o perturbava até mais do que no século XV. Aquele Robert tem algo a mais que não sabe explicar. Assusta e atrai ao mesmo tempo.

— Bom...Pra começar, eu conheço aquela sereia. O nome dela é Dhea e é CASADA com um tritão. (Fez questão de frisar).

Robert fica em silêncio, sem querer ainda pensar naquela revelação.

— Nós dois nos conhecemos no século XV e sou sua namorada.

(A despeito do século absurdo que ela menciona, até que gosta de saber da informação de que namoram. )

— Você é o herdeiro do reino de Albaron, mas foi enfeitiçado e enviado para este século. Eu, longe desta mansão, tenho poderes. Um deles é que posso viajar no tempo e o outro poder... Tem a ver com este lugar, infelizmente.

— Puxa! Tudo isso que está me dizendo é incrível! Mas tem algo que eu lamento tanto ter esquecido!

Ela fica intrigada e pergunta, presa nos olhos sedutores dele:

— E o que é?

Ele sussurra:

— Eu jamais deveria esquecer de uma mulher tão linda quanto você.

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