Cap 4 Veida

Os três dias de prazo que nos foi dado passou tão rápido que mal conseguia respirar naquele laboratório, estou esgotada com a correria do trabalho, pra acabar de completar estou em semana de provas, tenho dormido pouco, a pressão do trabalho e da faculdade quase me fizeram esquecer um dia especial, evidente que sei a data, mas só pela manhã me dei conta que é hoje, assim que meu irmão e meu pai me ligaram enquanto estava a caminho do trabalho, queriam saber como estou, eles só ligam a essa hora da manhã nessas datas marcantes..., demonstrei que estava bem, para não se preocuparem.

Claro que em algum momento do dia eu lembraria que seria o aniversário da minha mãe..., assim que desligo, a melancolia me toma, mas não posso demonstrar tristeza..., vou ao banheiro da nossa sala, enxugo as lágrimas, lavo o rosto e me recomponho, ninguém irá notar mesmo que eu estivesse aos prantos, mas me preocupo em não demonstrar meus sentimentos. Passo um pouquinho do nosso perfume especial, só para sentir que ela está comigo..., fecho os olhos inalando nosso aroma e me vem lembranças felizes ao lado dela, é como uma terapia para afagar meu coração.

Me recomponho e volto ao trabalho, Sr Ivanildo separou dois perfumes que conseguimos finalizar, vamos ver se dona Laura concorda em usar um deles..., ainda estou um pouco abalada com meus sentimentos, mal saio do banheiro e dou de cara com os dois..., ela em seu modo autoritário exigindo as fragrâncias, ele tentando aliviar seu lado e jogando sobre mim suas responsabilidades, o que me deixou extremamente nervosa e mais atrapalhada do que já sou...

Ivanildo:_ Vamos Veida..., pegue os perfumes que pedi para você separar a pouco, porque não faz direito seu trabalho..., já havia avisado para deixá-los em um lugar fácil de encontrar, dona Laura tem pressa...

Veida:_ Sim..., senhor..., mas..., é que...

Ivanildo:_ VAI AGORA!

Laura:_ Vamos garota, não tenho tempo para suas desculpas...

Baixo a cabeça e corro para pegar os perfumes, esqueci completamente que ainda segurava um pequeno frasco do meu perfume nas mãos, pego as duas fragrâncias e volto rapidamente para junto dos meus dois "carrascos"..., antes que consiga abrir a mão para entregar os frascos, Sr Ivanildo os toma bruscamente e os entrega a dona Laura.

O imbecil acabou pegando também o meu perfume, me dá até medo de falar..., o nervosismo me trava ainda mais, como vou pedir meu perfume de volta se a mulher começou a testar as fragrâncias enquanto o químico explica as essências e a matéria prima que usou..., fico tentando reunir coragem para falar antes que ela o inale..., mas a mulher tá uma pilha de estresse ao reprovar ambas as fragrâncias apresentadas...

Laura:_ Sr Ivanildo, por mim jogaria as três no lixo sem ao menos me dar ao trabalho de testar a última..., mas eu realmente preciso de um perfume novo..., sugiro que recomece a trabalhar, pelo que me apresentou aposto que essa é mais uma das suas águas de flores que chama de perfume...

Sr Ivanildo:_ Dona Laura..., na verdade..., não sei...

Veida:_ Do-dona..., Laura..., esse perfum...

Laura:_ Cale a boca...

Acho que Sr Ivan ia dizer que meu perfume não faz parte das amostras, também quase tive coragem de falar, mas ela nos cala e inala meu perfume especial..., o semblante dela muda completamente para um ar de surpresa..., faz um movimento no frasco o misturando por uns segundos e experimenta uma segunda vez no antebraço..., escondo o rosto com as mãos tentando aliviar a tenção e rezando para ela odiar o cheiro..., levanto o rosto apavorada quando a ouço falar...

Laura:_ É isso!..., Sr Ivanildo, dessa vez tenho que parabenizá-lo..., esse aroma é tão gostoso..., e marcante..., é sensual e doce..., vamos usá-lo..., como conseguiu?..., é perfeito, vou levar essa amostra para os sócios, pode produzir em grande escala, só precisamos do designer do frasco, tem que ser tão especial quanto esse aroma...

Sr Ivanildo:_ Dona Laura..., só tem um problema...

Estou a ponto de ter uma crise, estou petrificada com tudo o que ela falou, Sr Ivanildo também está quase passando mal, mas ao menos tá tentando desfazer o mal entendido..., a mulher que já havia se acalmado, o encara voltando a expressão séria mas ainda controlada...

Laura:_ O que tem de errado?..., estou dizendo que esse perfume está perfeito, não precisa modificar em nada a sua fórmula, só preciso que me passe o documento com tudo especificado para a patente.

Sr Ivanildo:_ É que..., esse perfume..., não faz parte das amostras..., não o criei.

Laura:_ Não?!

Sr Ivanildo:_ Esse perfume é..., bem..., talvez possamos usá-lo.

Laura:_ Já sei, não foi capaz de criar o perfume sozinho..., então chame o químico que o criou e ele terá todo o reconhecimento...

Sr Ivanildo:_ É claro..., é que...

Ele tá hesitando para falar, me olha como se quisesse que eu dissesse algo para amenizar a situação..., está insinuando que eu autorize o uso..., mas nem pensar..., controlo a ansiedade e reúno coragem para falar...

Laura:_ Sr Ivanildo, fale com o químico que o ajudou e vá até a minha sala, vou levar essa amostra agora mesmo para apresentar...

A mulher se vira para sair da sala ignorando completamente a minha presença..., não posso deixar ela levar, é o perfume da minha mãe, é nosso aroma..., antes que ela passe pela porta, corro e a faço parar, não sei de onde consegui forças para pela primeira vez me impor...

Veida:_ NÃO!

Laura:_ Não?..., o quê?

Veida:_ Nã-não po-pode levar o perfume...

Laura:_ E por que não?

Sr Ivanildo:_ Veida..., deixe dona Laura ir, vamos conversar...

Tomo uma encara impaciente que quase me fez recuar..., ainda tem esse puxa saco mandão tentando me calar..., controlo o medo, meu irmão não está aqui para me defender ou falar por mim..., tento controlar a voz para sair trêmula o mínimo possível, mas a encaro, daqui ela não sai com meu perfume.

Veida:_ Esse perfume é meu senhora Laura..., é pessoal e não uma amostra..., quero que me devolva.

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