Perca de memória

Eduarda

Chegamos no hospital, e uma equipe de emergência já espera por ele, vou acompanhando até onde dá, retiro a carteira dele e o celular, como ele vai para a emergência, se alguém ligar perguntando por ele eu atendo.

Entro com eles, mas o médico manda eu ficar na sala de espera, que logo me trata notícias.

Horas se passam, e mais médico vem para atender ele. E sinceramente, essa coisa de esperar é horrível de mais, eu preferia não está aqui, com tantas coisas para eu resolver, tenho que ficar vigiando um homem barbado.

Mas pelo que vi, ele está sozinho aqui, e ficar só em um lugar desconhecido dever ser a pior coisa para um ser humano. Nossa, como eu sou contraditória, eu mesmo me perco com meus pensamentos.

Espero impaciente por notícias, pego o celular dele, e fico olhando... desbloqueio ou não?

Será que ele é casado? Será que tem filho?

Resolvo desbloquear do meu jeitinho único, não ah celular que fique bloqueado na minha mão, fazer o que, filha de traficante tem que aprender de tudo, até o que não presta.

E assim que eu abro, vou direto nos contatos, tem vários, mas nada que esteja escrito, amor, querida, esposa ou coisa do tipo.

Todos são nomeados por nomes ou sobrenomes, mas nada além disso.

Resolvo abrir as suas redes sociais, e lá no Instagram, tem uma foto dele com uma mulher. Resolvo entrar no perfil dela, e lá na foto dela com ele tem a legenda.

" Você foi a minha escolha, te amo meu marido".

Pronto, era tudo que eu precisava saber, ele é casado. Pesquiso mais para saber se tem filhos. Mas não encontro nenhuma criança.

Continuo buscando qualquer coisa que seja, para que eu possa conhecer melhor ele. Curiosidade de brasileiro é sinistro de mais, e a minha então, ganha de todo mundo.

Desligo o celular quando o médico me chama, pelo susto meu coração quase sai pela boca, mas a minha alma, tenho certeza que saiu voando.

É foda quando a gente está fazendo algo errado e alguém chega assim, parece que quer nos matar.

— bom Eduarda, o corte foi bem profundo, mas conseguimos controlar a hemorragia, só me preocupa que o lado do corte é bem onde fica a parte das memórias, se ele acorda sem se lembrar de nada pode ser um problema.

— por que problema doutor?

— por que a memória dele poder ter se perdido em qualquer momento da vida dele, pode não se lembrar de absolutamente nada, como se fosse uma criança, ou pode se lembrar de algumas coisas e outras não. Ele pode nem se lembrar quem é. Tenho esses dois casos aqui, um deles ainda está no hospital, pois só se lembra quando era um menino de 10 anos.

— onde está esse homem agora?

— na psiquiatria.

Será que ele ficará doido também? Me dá até um certo medo, pois a culpa de ele está aqui, é toda minha. Eu não deveria ter me aproximando dele. Merdä, agora vou ficar com peso na consciência. E eu não gosto disso.

O médico termina suas explicações, e diz que ele também pode não perder a memória, que só saberemos quando ele acordar.

Vou aguardar para o desenrolar dessa história.

Me levanto indo até a lanchonete do hospital, como rápido, aguardando pelas notícias.

Até que o celular dele começa a tocar, na tela aparece o nome Luna. Respiro fundo e atendo.

— cadê você Liam, que deixar todo mundo doido mesmo? É desse jeito que você disse que ia mudar pela Laura?

Laura, esse é o nome da mulher dele que estava no Instagram.

— se não me responder, eu vou até aí te pegar, onde já se viu, a mulher está aqui em prantos idiota.

— alô. — repondo curto, e um silêncio vence na ligação, mas gaguejando ela me pergunta.

— cadê o meu irmão?

Ah, ela é irmã dele. Merdä, se eu falar que ele está apagado, ela vai querer vim aqui.

— ele está dormindo.

— acorda ele com água gelada, quem é você afinal?

— eu sou... Eu sou a que está mostrando a cidade para ele, ele me contratou como se fosse a sua assistente.

Outro silêncio, até que ela fala baixo na linha, perguntando se a gente tem algum caso, digo que não, que eu não sou mulher de caso e sei que ele é casado.

— bom, pelo menos você é mais educada que ele, senti uma coisa ruim no peito, e fico feliz que ele esteja bem, só pede para ele me ligar quando acordar está bem?

Digo a ela que mandarei ele liga, mas se ela conhece o bom humor dele, se ele não ligar ela não ficar preocupada. Eu sei que menti, mas, a vida sem sempre é falada a verdade.

Ela desliga agradecendo, e eu fico perdida agora, se ele realmente perder a memória, não vai conhecer ninguém, tomara que ele fique bem.

Volto para a sala de espera, isso é tão chato, eu poderia está fazendo tantas coisas agora, mas a porrä da minha consciência pesada não me permite sair daqui.

Eu tinha que puxar aquele freio de mão? Tinha, porque se eu não puxasse não seria eu. Como meu pai sempre diz, eu sou um ímã para confusão e desastres.

Já não suportando mais a espera, me levanto e vou atrás do médico, e bem na hora que eu chego na porta ele me fala que o Liam acordou, mas está totalmente fora de controle.

Pronto, o que eu temia aconteceu, o cara ficou louco e vai parar na psiquiatria, agora, como vou dizer isso para a irmã dele, depois de disse que ele estava dormindo?

Peço para o médico me levar até ele, e quando eu chego ele está brigando com a enfermeira, porque não quer a agulha no seu braço.

Parece um bebê chorão, nunca vi uma pessoa com medo de agulha, como pode um homem desse tamanho ter medo?

— não acredito que um cavalo desse tamanho tem medo de uma agulhinha.

Ele me olha com raiva, acho que se podesse me partiria no meio só com o olhar.

Me aproximo dele, a enfermeira tenta mais uma vez aplicar a injeção, mas ele mete a mão no meio, não deixando ela o furar.

— para com isso, você precisa tomar isso aí para ficar bom.

— eu não te perguntei nada, sai fora nem sei quem você é... Não sei nem quem são essas pessoas.

— não se lembra quem você é?

Ele me olha com um olhar confuso, percebo que ele não se lembra mesmo. E agora, o que eu vou fazer com um Mafioso que não sabe nem quem é?

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