Júlia
Eu praticamente acho que gosto de ser humilhada pela minha família. Não consigo entender por que aceitei vir com eles afinal. Talvez tenha sido porque pensei que eles realmente tinham mudado. Isso foi ridículo, eles só queriam me pisar ainda mais.
O pior é que, no fundo, eu queria ver uma faísca, um lampejo de esperança de que estava enganada e que eles me amavam, mas não.
Eles não me amavam. Por algum motivo que não consigo explicar, eles não me consideravam merecedora do amor deles, e eu só queria entender. Quando o Miguel me ligou, minha mãe tomou o celular da minha mão com brusquidão.
No entanto, o que meu pai me disse doeu mais do que qualquer tapa que ele pudesse me dar. Ouvir ele dizer que eu deveria ter morrido quando nasci me quebrou por completo. Comecei a tremer, como se faltasse ar, meu rosto banhado em lágrimas.
Mas nem isso fez com que minha mãe, minhas irmãs ou meu pai se importassem comigo. Em vez disso, eles me bombardearam com coisas horríveis. Disseram tantas, mas tantas coisas ruins para mim que nem sei mais por que estou aqui.
Só pensava em sair dali, estar na presença deles me sufocava, me fazia sentir uma sensação ruim. Eu estava entrando em pânico.
No momento em que saí, dei de cara com o senhor Miguel e mais dois seguranças. Estava tão tonta que iria cair, mas ele correu até mim e me amparou. Ele olhava para mim com visível preocupação e perguntou:
— Júlia? O que fizeram com você?
Nesse momento, vi meu pai saindo. Miguel quis ir até ele, mas segurei seu braço e, chorando, sussurrei:
— Me tira daqui, por favor.
Ele me amparou e me levou até o carro. Com um aceno de cabeça, ele indicou meu pai na porta. O segurança entendeu o recado e se dirigiu a meu pai.
Assim que entrei no carro e ele começou a sair, vi pelo vidro o segurança desferindo o primeiro soco em meu pai, seguido por vários outros. Eu deveria me importar, mas não conseguia.
Ainda estava em choque, tremendo e só conseguia chorar. O senhor Miguel parecia extremamente nervoso, passando a mão pelo cabelo constantemente.
Ele tentava me tocar e, ao mesmo tempo, se afastava. Então ele pegou o celular e disse, impaciente, à pessoa do outro lado da linha:
— Não quero saber. Diga a ela para ir urgentemente para a minha casa. Diga que é o chefe dela, o Miguel.
Ele desligou o celular e me disse:
— Sua psicóloga vai te atender na mansão.
Não consegui responder, apenas suspirei profundamente e me encolhi no assento do carro.
Ao retornarmos à mansão, Maria estava nos aguardando. Ela me viu visivelmente abalada e disse:
— Júlia, eu não deveria ter deixado você sair daqui. Me desculpe.
Miguel olhou para ela e pediu:
— Acompanhe-a até o quarto, por favor, Maria. Logo a psicóloga dela estará aqui.
Maria prontamente me conduziu até o quarto, demonstrando sua preocupação e cuidado. Enquanto caminhávamos pelos corredores da mansão, senti um leve alívio em estar sob a proteção deles que genuinamente se importava com o meu bem-estar.
Chegando ao quarto, Maria me orientou a me acomodar e se certificou de que eu estava confortável. As palavras gentis e o apoio emocional que ela oferecia eram como um bálsamo para minha alma ferida.
Pouco tempo depois, a psicóloga chegou ao quarto. Ela era uma mulher calma e tranquila, transmitindo uma sensação de segurança em seu olhar.
Sentamos juntas e, aos poucos, comecei a desabafar, compartilhando as emoções intensas que havia experimentado durante aquele episódio com minha família.
Minha psicóloga ouviu atentamente, validando minhas experiências e sentimentos. Ela me ajudou a compreender a dinâmica familiar abusiva e a reconhecer a importância de estabelecer limites saudáveis em meus relacionamentos.
Após a partida da psicóloga, Miguel entrou no quarto e se sentou na beira da cama, ao meu lado. Seu olhar era sério, carregado de preocupação. Ele quebrou o silêncio, direcionando uma pergunta direta:
— Por que você decidiu ir com eles, Júlia? Eles não merecem a sua atenção. O fato de serem família não significa que eles te amam.
Suas palavras ecoaram em minha mente, fazendo-me refletir sobre minhas escolhas e a natureza complicada dos relacionamentos familiares. Miguel estava certo em apontar que o amor nem sempre é garantido dentro de laços sanguíneos.
Eu abaixei os olhos por um momento, sentindo uma mistura de tristeza e frustração. Tinha sido uma jornada difícil e dolorosa, carregada de expectativas e desapontamentos.
Eu havia buscado a aprovação e o amor de minha família, esperando encontrar neles o suporte e a aceitação que tanto desejava.
Miguel prosseguiu, sua voz calma e reconfortante:
— Você é uma pessoa especial, Júlia. Merece ser amada e valorizada por quem realmente se importa com você.
Enquanto suas palavras ressoavam em minha alma, Eu comecei a compreender a verdade por trás das palavras de Miguel, mas ao mesmo tempo, uma pergunta surgiu em minha mente: Será que eu estava realmente ouvindo aquilo vindo dele? Ele, que sempre parecia tão frio e calculista, estava me dizendo essas coisas reconfortantes?
Enquanto eu ponderava sobre isso, Miguel direcionou seu olhar fixamente para mim, como se estivesse enxergando além das aparências, adentrando minha alma.
Um breve momento de silêncio pairou no ar, e então ele suspirou profundamente, como se carregasse um peso invisível em seus ombros.
E sem dizer mais uma palavra, Miguel se levantou e saiu do quarto, deixando-me completamente sem reação. Fiquei ali, paralisada, processando as palavras que ele havia compartilhado.
Eu me perguntava, se aquela conexão intensa que sentíamos tinha sido apenas um breve lampejo de compreensão mútua.
E assim, eu me permiti ficar ali, no limiar entre o desconhecido e a possibilidade de encontrar um amor verdadeiro, esperando que o tempo trouxesse respostas e clareza aos sentimentos que começavam a florescer dentro de mim.
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Atualizado até capítulo 82
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