O Despertar do Lobo Sombrio

Miguel

Era ainda madrugada quando recebi uma ligação direta do sistema secreto do governo, convocando-me para mais uma missão sigilosa.

Embora tivesse aceitado sem questionar em todas as ocasiões anteriores, desta vez hesitei. Pela primeira vez, havia alguém além da minha família que me fez ponderar sobre a possibilidade de não ir.

A mera menção do nome de Júlia já me deixava agitado. A ideia de algo dar errado na missão e nunca mais poder vê-la me deixava profundamente confuso sobre a decisão de ir ou não.

Essa missão é extremamente confidencial, eles me chamam em uma linha específica, e a pessoa do outro lado nunca revela seu nome, assim como eu.

A própria linha modifica nossas vozes, tanto a minha quanto a da pessoa do outro lado. O sistema me conhece apenas pelo pseudônimo de Lobo Sombrio.

Enquanto refletia, a voz grave modificada, falou:

— Lobo Sombrio, há uma criança envolvida.

No momento em que a pessoa do outro lado mencionou isso, todas as minhas dúvidas e questionamentos desapareceram e eu simplesmente respondi:

— Lobo Sombrio ativado.

Minutos depois, recebi as coordenadas e as informações, o que me causou repulsa, indignação e aumentou ainda mais minha determinação para combater essas atrocidades.

Naquele momento, eu era verdadeiramente o Lobo Sombrio, pronto para me infiltrar nas sombras dessa sociedade e fazer justiça com minhas próprias mãos.

Preparei-me rapidamente, fazendo uma pequena mochila com itens essenciais e vestindo minha roupa específica para aquela missão, incluindo um casaco preto com capuz.

Ao passar sorrateiramente pelo quarto de Júlia, desejei poder me despedir dela, mas sabia que isso seria impossível.

Segui para o carro, onde Tales já me aguardava prontamente. Apenas Tales e Fernando sabem dessa minha vida secreta. Nenhum outro membro da minha família tem conhecimento, afinal, a discrição é fundamental para ambos os lados.

Entrei no carro e logo Tales deu partida em direção ao aeroporto. Dirigíndo pelas ruas desertas da cidade.

Olhei para ele e perguntei:

— Tales, você sabe como proceder, certo?

Ele respondeu:

— Sim, devo informar a todos que o senhor teve que viajar às pressas para resolver questões empresariais, sem data específica de retorno.

Suspirei longamente, passei a mão pelo cabelo, e disse:

— Exatamente. Você sabe o procedimento. Apenas quis testar sua memória. Como você é meu segurança de confiança, preciso que você fique de olho em Júlia.

Ele pigarreou e olhou para mim através do retrovisor, respondendo:

— Claro, senhor. Alguma ordem específica em relação a ela?

Eu olhei de volta para ele e disse:

— Sim, a família dela tentou entrar em contato com ela, mas eu intervi e não permiti que ela soubesse. Quero que você continue mantendo-os afastados dela, especialmente o pai e a mãe, é uma ordem direta.

Tales, atento e prestativo, responde:

— Compreendido, senhor. Eu mesmo irei vigiar a senhorita Júlia.

Após soltar mais um suspiro profundo, digo:

— Ótimo. Além disso, Tales, estou enviando para você os dias e horários das consultas dela com a psicóloga. Você também está encarregado exclusivamente disso, leve-a com segurança e traga-a de volta em segurança. Entendido?

— Farei isso, senhor. Não se preocupe.

Apenas confirmo:

— Ótimo.

Pego meu celular e ligo para Fernando, mas ele não atende. Logo constato que ele pode estar dormindo, ou de plantão no hospital.

Guardo o celular e me concentro. Preciso focar na missão e não permitir que as preocupações da minha própria vida interfiram. Devo manter a calma o máximo possível agora.

Logo chego ao aeroporto, onde um avião foi disponibilizado pelo sistema secreto exclusivamente para me levar.

Embora pudesse usar um dos meus próprios aviões, devido à confidencialidade, não posso. Me despeço de Tales, reforçando as ordens que dei.

Assim que ele parte, meu telefone toca. Verifico o visor e vejo o nome de Fernando com sua foto, atendo imediatamente:

— Tenho pouco tempo, fale rápido.

Fernando solta um longo suspiro e diz:

— É uma missão, não é?

— Sim, Fernando, estou prestes a embarcar. Olha, não adianta me dizer nada, você sabe que preciso fazer isso. Mas preciso que você fique de olho na Júlia para mim, está bem? Já dei ordens para o Tales, mas é bom ter você por perto para reforçar isso.

— Claro, Miguel, pode contar comigo.

— Ótimo, Fernando... Não permita que a família dela se aproxime, ok? Júlia precisa se curar do possível trauma que eles mesmos causaram a ela.

Com seriedade na voz, Fernando responde:

— Pode contar comigo, irmão. Você sabe...

Enquanto Fernando continua falando, o avião começa a piscar. Sei que preciso ir, então o interrompo e digo:

— Ok, Fernando, preciso ir, irmão. Cuide-se e tome conta da minha família por mim.

— Farei isso, Miguel. Por favor, cuide-se e fique tranquilo, cuidarei das coisas aqui.

Agradeço novamente a ele e encerro a chamada. Tiro a máscara da minha mochila e a coloco.

Ao me aproximar da porta do avião, um segurança também de máscara me espera e diz:

— Lobo Sombrio, coloque o celular nesta caixa, por favor.

Desligo o celular e o coloco naquela caixa preta. Em seguida, adentro o avião, partindo para uma missão extremamente arriscada que desperta em mim uma sede por justiça.

Ao me acomodar na poltrona, o mesmo segurança que havia pegado meu celular prontamente me entrega um dispositivo com meu pseudônimo destacado em vermelho.

Aperto aquele botão e imediatamente surge: "Lobo Sombrio Ativado". A tela, agora verde, indica que a missão começou e estou na ativa.

Dou um longo suspiro, concentro-me na missão e permito que meu lado frio e calculista assuma total controle. Agora, não sou mais Miguel, mas sim o Lobo Sombrio, pronto para ação.

Minha mente estava afiada, assim como minha intuição. Eu sabia que, a partir deste ponto, as apostas seriam elevadas. A vida de muitas pessoas dependia das minhas ações, e eu estava disposto a sacrificar tudo para proteger os inocentes e fazer justiça.

Olhei para meu reflexo no vidro da janela e vi o Lobo Sombrio refletido. Um guerreiro solitário, um protetor das sombras, pronto para enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.

Não havia espaço para dúvidas ou hesitação. Eu estava pronto para enfrentar o desconhecido, independentemente do que me esperava.

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