Miguel
Em plena segunda-feira, acordei com meu telefone tocando. Era Fernando, meu amigo e colega de trabalho, que atendi no segundo toque.
Ele me lembrou que a consulta da Júlia estava marcada para hoje, às três da tarde. Eu tinha pedido para ele marcar a consulta, mas acabei me esquecendo de avisar Júlia.
Encerrei a chamada com Fernando e decidi procurar por Júlia na mansão. Fui ao andar de baixo e, ao passar pela dispensa, a encontrei ajudando Maria a organizar algumas coisas. Ela me cumprimentou:
— Bom dia, senhor.
Maria, por outro lado, me cumprimentou me chamando de menino e me dando um beijo no rosto, como sempre fazia. Eu retribuí um pouco sem jeito, pois Júlia estava presente e isso me constrangeu. No entanto, rapidamente recuperei minha postura.
Tentando soar firme e autoritário, disse:
— Júlia, eu preciso falar com você em particular.
Ela olhou para mim, um pouco surpresa, mas concordou em me seguir até o escritório.
Assim que ela entra, vou direto ao ponto a informando:
— Eu, marquei uma consulta para você, com a psicóloga do hospital da minha família, a consulta será hoje às três da tarde.
Ela parecia confusa e disse:
— Não precisava, eu estou bem.
Mas eu sabia que ela tinha uma família tóxica e precisava cuidar da saúde mental.
Tentando ser gentil, mas mantendo a postura de chefe, expliquei:
— Júlia, eu sei que você está passando por um momento difícil. Você precisa cuidar de si mesma e a consulta é uma oportunidade para você se cuidar.
Ela acabou concordando e eu disse que iria levá-la pessoalmente à consulta.
— O senhor vai me levar? - Perguntou, espantada.
Tentando esconder meus sentimentos por ela, respondi:
— Sim, eu quero ter certeza de que você vai estar lá e que está cuidando de si mesma.
Ela agradeceu e combinamos de nos encontrar às três da tarde. Eu sabia que estava sendo um chefe responsável ao cuidar da saúde mental de meus funcionários, mesmo que eu não pudesse demonstrar meus verdadeiros sentimentos por ela.
Assim que deu três da tarde, Júlia estava me esperando na sala de estar. Ela usava uma calça jeans, uma camiseta colorida como de costume e no pé um tênis qualquer. Seus cabelos estavam amarrados em um rabo de cavalo, com pequenos fios soltos na lateral do seu rosto. Ao me aproximar dela, engulo em seco e digo:
— Vamos.
Ela me segue e entramos no meu carro onde meu motorista e seguranças já nos aguardavam.
Ao chegarmos na recepção, somos recebidos pelo Fernando, ele traja seu jaleco branco de médico e me cumprimenta bem humorado. Em seguida, se vira para Júlia e diz:
— Finalmente estou conhecendo a famosa Júlia.
Ela visivelmente envergonhada diz:
— Olá.
Com um sorriso travesso de canto, Fernando olha para mim, depois dirige seu olhar novamente para Júlia e diz:
— Você é muito bonita Júlia.
Júlia fica ainda mais vermelha e em um tom baixo, diz:
— Obrigada.
Eu pergunto a Fernando se a doutora que irá atender Júlia já está presente, e ele responde:
— Sim, ela já está aguardando. A sala fica à direita no próximo corredor, mas acho que você já sabe, não é Miguel?.
Eu o encaro e, ao passar perto dele, digo em um tom baixo:
— Nem ouse dizer nada, Fernando.
Ele sorrindo em um tom baixo bem humorado, me diz:
— Cara, também adorei sua visita.
Eu apenas o ignoro e levo Júlia até a sala.
A mesma bate na porta e a doutora diz para ela entrar. Enquanto aguardava Júlia, me sentei em uma das cadeiras de espera do corredor e comecei a mexer no celular.
De repente, Fernando se aproximou sorrindo e sentou-se ao meu lado.
Provocando-o, perguntei:
— Não está trabalhando hoje, Fernando?
Ele revirou os olhos, fingindo estar chateado com a minha implicância.
Então, tentando manter uma expressão séria, me diz:
— Não, Miguel. Hoje é minha folga. Eu mereço um descanso de vez em quando, sabe?
Com um ar brincalhão, balançando a cabeça em sinal de concordância, digo a ele:
— É verdade, você trabalha muito. Sempre fazendo cirurgias e salvando vidas por aí. Deve ser cansativo.
Fernando riu e concordou com a cabeça, fazendo uma pose de super-herói, ele disse:
— É, eu sou um herói, eu sei.
Fernando é muito engraçado devo admitir, mas por dentro eu estava lutando contra meus próprios pensamentos.
Eu não queria admitir, nem para mim mesmo, que Júlia estava mexendo comigo de uma forma que eu não estava acostumado.
Eu me tornei frio e calculista depois da morte da minha mãe, e não acreditava mais no amor. Mas Júlia era diferente. Ela era uma pessoa especial, e eu não conseguia tirá-la da cabeça.
Enquanto eu lutava contra esses sentimentos, Fernando continuava falando animadamente.
Então ele me perguntou:
— Mas falando em descanso, a Júlia, é a sua empregada, certo? O que ela faz na mansão? Ela é boa no que faz?.
Eu dei de ombros, tentando parecer desinteressado, respondi:
— Sim, ela é boa no que faz. Auxilia a Maria, organiza o que precisar... essas coisas.
Fernando arqueou as sobrancelhas, parecendo intrigado.
— Mas ela não é só isso, certo? Tem algo mais nela que está te deixando tão interessado. Miguel, você não está começando a gostar da sua empregada, está?
Eu engoli em seco, tentando não demonstrar nenhuma reação. Eu não queria admitir, nem mesmo para mim, que talvez estivesse começando a gostar de Júlia.
Tentando manter um tom frio e controlado, respondi:
— Claro que não, Fernando. Ela é só minha empregada. Não tem nada além disso.
Mas por dentro, eu sabia que não era bem assim. Júlia era muito mais do que minha empregada, ela era uma pessoa especial que estava mexendo comigo de uma forma que eu não sabia explicar.
E eu estava lutando contra esses sentimentos, sem saber ao certo como lidar com eles.
Fernando percebe minha relutância e decide cutucar a ferida:
— Você está com medo de admitir que gosta dela, não é?.
Reviro os olhos e me preparo para rebater a provocação, mas acabo ficando em silêncio. Fernando estava certo. Eu me recusava a admitir para mim mesmo que talvez estivesse gostando de dela.
Mas por que Júlia tinha que mexer tanto comigo? Ela era apenas uma empregada da minha mansão, nada mais do que isso. Eu não podia deixar que as emoções se intrometessem em meu trabalho e em minha vida pessoal.
Decidi mudar de assunto e perguntei a Fernando sobre o trabalho no hospital. Ele começou a falar animadamente sobre suas atividades e eu fiquei feliz em vê-lo entusiasmado.
Logo depois, a porta da sala se abriu e Júlia saiu com um sorriso no rosto. Ela me contou que a consulta havia corrido bem.
No caminho de volta para casa, eu fiquei pensando nas palavras de Fernando. Será que eu realmente estava começando a gostar de Júlia? E se fosse verdade, o que eu faria a respeito?
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Atualizado até capítulo 82
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