Júlia
O encontro com Miguel, hoje pela manhã foi desconcertante. Eu não sabia o que havia acontecido, mas ele me olhou de uma forma estranha e agarrou meu pulso. Fiquei assustada, mas logo me soltei.
Eu queria perguntar se ele estava bem, mas parecia que algo estava errado com ele. Tentei parecer o mais profissional possível, mas ainda assim, minha preocupação aumentava a cada minuto.
No trabalho, eu estava distraída, mal conseguia me concentrar. O corte em meu rosto era pequeno, mas não parava de doer. Eu sabia que precisava manter minha cabeça no lugar, mas estava difícil.
Ainda assim, terminei todas as minhas tarefas.
E aqui estou eu em uma sexta à noite. Depois de chegar em casa, meus pais e minhas irmãs haviam saído e deixaram apenas um bilhete me dizendo que foram jantar fora.
Mais uma vez, fiquei sozinha. Tomei um bom banho relaxante, coloquei um short mole curto e uma camiseta grande. Meus cabelos estavam soltos porque ainda estavam úmidos e deixei secar naturalmente.
Passei meus cremes de frutas e me senti relaxada. Com preguiça, acabei optando por não cozinhar nada para mim e apenas peguei uma maçã para comer.
Enquanto comia, comecei a pensar no senhor Miguel e em como ele reagiu a mim mais cedo. De repente, ouvi alguém batendo na porta, o que era bem estranho, já que meus pais têm a chave e não recebemos muitas visitas. Fiquei me perguntando quem seria.
Quando abri a porta, deparei-me com um segurança do senhor Miguel.O segurança mal teve tempo de dizer algo, pois meus pais chegaram com minhas duas irmãs e começaram a armar o maior barraco na frente de casa.
Eles me acusavam de ser uma sem vergonha que colocava homens em casa assim que eles saíam.
Quando meu pai levantou a mão para me bater, alguém segurou seu pulso. Eu pensei que fosse o segurança, mas para minha surpresa, era o senhor Miguel.
Ele disse ao meu pai:
— Se você encostar nela, você irá se arrepender pelo resto da sua vida, seu merda.
Depois ele se voltou para mim e disse:
— Se você quiser, pode vir agora, morar em minha casa com a Maria.
Eu respirei profundamente e aceitei a oferta.
Meus pais começaram a me xingar de tudo quanto é nome, enquanto eu subia para pegar minhas coisas.
O segurança me ajudou com as malas, enquanto lágrimas desciam sem parar dos meus olhos.
Eu me sentia humilhada e envergonhada na frente do meu chefe. Eu tentei conversar com meus pais, mas eles não queriam ouvir e continuaram me humilhando, me chamaram de tudo quanto é nome.
Quando estávamos chegando ao carro, meu pai disse:
— Isso Júlia, mostre a todos a coisa sem valor que você é.
Foi então que tudo aconteceu muito rápido. Miguel virou e, sem pensar duas vezes, deu um soco bem dado em meu pai, o derrubando no chão. Ele então disse:
— Seu verme, você nem se quer deveria procriar.
Eu estava em choque. Entrei naquele carro luxuoso, sentindo dor e remorso. Uma mistura de sentimentos se apossou de mim, e eu me encolhi cada vez mais no assento do carro, sentindo um frio se apossar da minha alma.
Eu até me esqueci que estava apenas de short e uma camiseta grande, mas logo Miguel colocou um casaco muito cheiroso e macio sobre mim.
Foi a primeira vez que o olhei tão de perto. Seus olhos eram de um azul intenso, céus até nesses momentos ele parecia atraente.
Quando finalmente chegamos à mansão, fui recebida por Maria, que parecia estar me esperando.
Eu ainda estava atordoada, com os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Não conseguia acreditar que minha vida virou um caos ainda maior do que já era, em questão de minutos.
Meus pais e minhas irmãs sempre foram tóxicos comigo, mas pensei que com o tempo melhorariam. Eles eram minha família, por que me odiavam tanto? Quantos jantares eu não fui com eles, somente Veronica e Claudia iam.
Quantos aniversários passei em branco, sem que nenhum deles me desse um simples, parabéns.
Por que? Era sempre essa pergunta que não me deixava. Será que eu realmente era um estorvo na vida das pessoas? Será que minha existência era algo sem importância alguma? Tudo o que eu queria era ser amada por eles.
Maria me mostrou o quarto onde iria ficar, que era enorme e três vezes maior que o meu. Ela me abraçou e disse:
—Tudo ficará bem.
Assim eu espero. Mas, tomando coragem, eu sabia que precisava falar com o senhor Miguel, que presenciou tudo aquilo.
Jamais imaginei que, quando o segurança chegou até a minha porta, ele estava dentro do carro. Então, me dirigi até seu escritório, onde ele se enfiou depois de me trazer. Bati na porta e logo escutei:
— Entre.
Sem jeito e muito envergonhada, entrei. Nossos olhares se encontraram e ficamos um bom tempo assim até que decidi falar:
— Obrigada! Eu irei achar um lugar para ficar o mais rápido possível.
Ele então se levantou de sua cadeira e percebi que usava uma roupa informal. Ele me disse:
— Não será necessário. Meu segurança iria te comunicar justamente isso. Será mais eficiente você morar aqui com a Maria. Além de auxiliá-la, você foi contratada justamente para fazer companhia a ela.
Sem muitas opções, eu concordei e agradeci a ele novamente. Quando estava prestes a sair, ele me perguntou:
— Esse corte em seu rosto foi o seu pai quem fez ?
Eu apenas me virei para ele e disse antes de sair:
— Não, foi minha mãe.
Ao sair do escritório, senti um misto de alívio e tristeza. Agradeci mentalmente por não ter que me preocupar com um lugar para ficar, mas a situação em que me encontrava ainda era muito dolorosa.
Eu não conseguia entender por que minha própria mãe não havia me defendido, quando meu pai começou aquilo tudo na frente de casa, ao invés disso ela o ajudou a me xingar.
Será que ela sentia algum tipo de prazer em me ver sofrer? Esses pensamentos atormentavam minha mente e eu me sentia cada vez mais perdida.
Decidi tomar um banho para relaxar um pouco e tentar colocar meus pensamentos em ordem. Enquanto a água quente caía sobre meu corpo, comecei a lembrar de momentos felizes da minha infância.
Havia muitas lembranças boas, mas sempre ofuscadas pela sombra do desprezo e da indiferença que eu sentia vindo dos meus familiares.
Saindo do banho, me vesti e fui encontrar Maria. Ela estava na cozinha preparando um chá e me convidou para ajudá-la.
Foi bom ter algo para fazer e, aos poucos, fui me sentindo mais à vontade naquele lugar. Maria era muito simpática e prestativa, o que me fez sentir acolhida.
Após o chá, que me ajudou a me deixar mais calma, eu decidi dar uma volta pelo jardim da mansão. Era um lugar muito bonito, com muitas flores e árvores frutíferas.
A lua estava cheia e iluminava todo o lugar, deixando-o ainda mais encantador. Enquanto caminhava, senti uma brisa fresca no rosto e me dei conta de que aquele era um novo começo para mim. Eu precisava deixar para trás tudo o que havia me feito sofrer e seguir em frente.
Ao voltar para o quarto, vi que havia uma carta em cima da cama. Era uma mensagem do senhor Miguel, desejando-me uma boa noite e dizendo que estava disponível para conversar caso eu precisasse de alguma coisa.
Aquela gentileza me emocionou e me fez sentir um pouco mais esperançosa.
Deitei-me na cama e fechei os olhos. Apesar de tudo o que havia acontecido, eu sabia que estava em um lugar seguro e que as coisas iriam melhorar.
Respirei fundo e deixei que o sono me levasse para longe daqueles pensamentos tristes.
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Atualizado até capítulo 82
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